Malogro
Era ainda uma semente
ninguém tocava,
ninguém via.
Desabrochava no ventre
feito botão de rosa
à luz do dia.
Dormia
de mãozinhas cruzadas
como quem faz uma oração.
De vez em quando sorria
quando alguém lhe punha a mão.
Desabrochava no ventre
feito botão de rosa
à luz do dia.
Em seus sonhos inocentes,
os anjos lhe desvendavam
o mundo fora do ventre:
se o sol brilhava de noite
e como a chuva caía.
Pensava enquanto crescia
no rosto de sua mãe. Como seria?
Desabrochava no ventre
feito botão de rosa
à luz do dia.
No aconchego da morada,
ouviu uma voz dizer
para a mãe: "Não vai doer".
Ainda sem entender
deu risinhos de alegria,
acreditou ser a hora
de ver o rosto da mãe
e descobrir se o sol brilha.
Desabrochava no ventre
feito botão de rosa
à luz do dia.
O botão foi aparado,
cortado com maestria.
Nunca chegou a saber
se o sol brilhava de noite
ou se brilhava de dia,
não viu o rosto da mãe
nem como a chuva caía.
Ele jamais se fez rosa...
Murchou de forma silenciosa,
não pôde gritar sua agonia.
(Sirlei L. Passolongo)
Comentários
Lindooo
Querida poetisa
O ser que cresce no ventre é como
uma rosa...
Mas que agonia de não poder gritar
de alegria a sua liberdade que agora
não existia....
Triste amiga poetisa, mas de uma veracidade
que muitos botões não chegam a florir...
Parabéns
Beijo saudade
ângela lugo
Sirlei / Angela
Senti necessidade de gritar por tantos botões que jamais chegam a ser rosa.
Obrigada amiga! beijos!
Sirlei L. Passolongo
Sirlei L. Passolongo