Patchwork não!
Eu não sou patchwork. Não!
Sou mesmo colcha de retalhos, de todo tipo,
Pedacinhos de sobras de pano, irregulares,
Cortados na tesoura de minha avó portuguesa.
Sem modelagem ou ângulos retos harmoniosos.
Nem tecido fino de boa origem - tom sobre tom.
No aproveitamento, sou chitinha povoada de cor.
Dançando na mesa farta de minha avó,
Viva e sempre consistente de generoso amor.
Desse jeito era minha Mãezinha com nome de flor,
Costurava sem burocracia recortes do dia a dia.
Os retalhos unidos com a linha da solidariedade.
Trama pueril de filhos e netos, naturais e postiços.
Entrelaçados na colcha fraterna da família
Cada laçada uma lembrança – eram tantas.
Cada pedacinho uma história brincando de vida,
Amor costurado em colchas e toalhas de mesa,
Verdades transbordando na noite sem TV,
No som sem cortes dos programas de rádio,
Pregados na emoção dos pedaços da alma,
Banhada em sorrisos entre lagrimas e orações.
Não! Não quero ser patchwork não.
Aprendi a assimetria simples de minha avó,
De ser retalhinho sem sofisticação, costurado á mão,
Empregnado do som das novelas de rádio,
Do olhar ao longe desenhando os personagens,
Doce olhar da minha saudade descosturada,
Dos retalhos da minha infância distante,
Que o tempo não aprendeu a remendar.
Rosamares da Maia – 06 de agosto de 2012
Para a série "Retalhos - Pedaços de Vida"
Comentários
De Allan Dayvidson para Rosamares da Maia
Adorei o poema.
Um não à sofisticação vazia, um sim à simplicidade repleta de sentido e histórias.
Parabéns!
Agradecimento
Allan
Agradeço a sua sensibilidade e percepção. Para quem escreve é muito bom saber que as pessoas compreendem a mensagem, mesmo quando ela é despretenciosamente um pequeno transbordar da alma.
Abraços
Rosamares da Maia