O raio de sol
Por entre uma fresta indiscreta da cortina,
bailava atrevidamente, sem pedir licença,
um pequeno raio de sol. Inocente em sua claridade,
e insolente ao ferir-me a retina da vista descrente.
Passeava por todo o cômodo, como uma criança tola,
que brinca de pegar as sombras,
e quando finalmente fugiam assustadas,
espalhava-se preenchendo os espaços, fazendo peraltices.
Tentei em vão esconder-me,
estava por demais acostumada as sombras.
Irritava-me aquela inconveniência,
mas, também, cativava-me tanta vitalidade.
Por um instante bem pequeno, parei para
contemplá-lo.
Pronto. Foi tempo suficiente para que me tocasse,
sem a menor cerimônia.
Aquecendo minh’alma, acendendo-me o brilho do olhar.
- Restaurou-me a vida.
E hoje, trago-o bem junto ao meu peito.
Toda vez que aparecem as sombras,
olho com carinho o seu sorriso maroto.
Escancaro a janela para o horizonte e sigo em frente.
(Para o meu filho Raphael)
Rosamares de Maia
13.07.2000