Bateu-me à porta a morte
A morte bateu-me á porta
Fui abrir a ver o que me queria
Quando me viu deu uma risada
É mesmo a ti que eu queria
Quando ouvi a sua voz
Nem podia acreditar
Como eu também a conhecia
Pelo seu gelado olhar
Sorriu-me na sua roupa escura
Com um sorriso de arrepiar
Porque ainda tão novo
Ela me queria mesmo levar
Ocupou a minha casa
Sem ter razão para tal
Que eu me despedisse
Que ia deixar de ser mortal
Ficou ali bem instalada
Sem mais uma palavra dizer
Não tirava os olhos de mim
Para me ver até eu morrer
Muita vez eu a chamei
Sem ela me atender
Agora que quero a vida
Ela me quer a morrer
Já te conheço muito bem
Mesmo que tragas outras vestes
Conheço-te até na escuridão
Companhia já me fizeste
Bateu á minha porta a morte
Entrou sentou-se e ali fez guarida
Estava mesmo disposta
A levar a minha vida
Com o seu olhar gelado
Sorria-me na escuridão
Vendo o meu sofrimento
Apontava-me o caixão
De: António Candeias