Não me meças pelas minhas parcas virtudes natimortas.
A medida justa de mim são os vivos vícios,
a lascívia e os erros.
Não me meças nas palavras dos poucos amigos, podem ser fantasiosas.
A medida justa de mim é o ódio bruto e frio dos inimigos,
o silêncio e a indiferença sinceros.
Tampouco me meças pelo que deixei de herança. Só vergonha deixei.
A glória herdada e jogada aos porcos,
a lama e o lodaçal em que vivi, estes sim, são a minha justa medida.
Também não me meças pelas cicatrizes. Não foram heróicas.
A medida justa de mim é o caráter de um covarde,
a dissimulação de um fraco e a omissão de um tolo.
Tampouco me meças pela minha passagem na terra. Nada representou.
O ar que avidamente respirei, o pão que comi avaramente,
estes sim, são a minha justa medida.
Não me meças pelo homem que não fui.
Antes, medi-me pelo verme que me habitou,
pois esta é a medida justa de mim. U’a alma unicelular.