Blog de Osmar Fernandes

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Sou o menor abandonado

Sou o menor abandonado
Sou o abandonado.
O desprazer da sociedade.
O pequeno maltratado.
O complexo da autoridade.
Passo fome, frio...
Não tenho nome, nem tio.
Meu banquete é no latão do lixo.
Ninguém se importa comigo!
Sou o menor abandonado.

Sou o menor drogado...
O ser que nunca foi abençoado.
O sonâmbulo, a desgraça.
Aquele que pratica o mal.
Sou o “Menor...” o sem graça.
Aquele que perambula pela cidade.
O sem lei, o desleal...
O prostituto, o trombadinha,
O viciado da pracinha.

Sou o menor, o sem idade.
Sou o sem mãe, o sem pai.
Sou aquele que só cai.
O indigente, o sacrilégio.
Sou o sem colégio.
O resto e o desengano.
O que nasceu condenado...
Sou o sem planeta; o profano.
Sou o menor abandonado.

(respeite o direito autoral)

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Na passarela a vida é mercado

Na passarela a
vida é mercado

Se dos ruídos do prata,
o sol quente nos mares,
a brisa fria condensa;
quanto cheiro gostoso,
quanta gente,
que em sua passarela
nada pensa.
Cidade é cidade,
não pára, eu sei.
Nas matas virgens
a natureza é boa.
Hoje passo por caminhos
que nunca passei.
Muito trabalho honesto,
e muita gente à toa.
São trevas que aparecem.
Mas, mesmo assim, vejo,
neste mundo iludido,
que a vida é mercado.
Todo gosto é gostoso,
se eu gosto, eu desejo,
Mas, se o desejo não vejo,
sei que é pecado.
Se dos ruídos do prata
viesse gente,
que em sua passarela
tivesse passado
sem ofensa,
Tantos desejariam
que d’alma crente,
Viesse gente com sorriso,
mas, nisso ninguém pensa.

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O corpo e a alma

O corpo e a alma

E o corpo disse a alma:
— Você que é feliz.
Habita o corpo da gente,
Comete tantos deslizes...
E, ainda, vive eternamente.

E a alma respondeu dizendo:
— Aí, que você se engana!
Em mim é você que se esconde.
Depois para sempre some.
Comete tantos pecados...
E sou eu que levo a fama.

E o corpo entristecido disse:
— Eu nasci para morrer.
Você jamais provará desse cálice.
Reencarna sempre um novo corpo...
Enquanto eu! Para sempre estarei morto.

E a alma finalizou ao responder:
— Você não sabe o que diz!
Cada vez que volto aqui,
Algum pecado estou pagando...
Isso é pior do que morrer.
Porque só vivo penando.

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Jornal na lista

Jornal na Lista

Falo, pergunto, escrevo.
Investigo, publico, descrevo.
Sou o escritor, o redator.
O apresentador, o orador, o editor.

Sou o poeta da notícia... Sou radialista.
Falo de tudo, de todos; do chique, do morro.
Sou o registro, o plantão, o socorro.
Falo de Deus... Do Cão.
Não posso ser diferente — Sou jornalista!

Eu enfoco, retrato, reporto.
Digito, explico, critico — Sou formalista.
Para alguns — Sou o jornal na porta.
Para outros — O analista.
Sou trabalhador voraz, sou chato!
Corro em busca... Fotografo.
Não perco o clímax do fato.
Não crio... Nem faço boato.

Não sou ilusionista.
Apenas corro atrás da notícia com fome, com sono.
Ela não vem como “NOTA & CIA.”
Não há um plano!
Eu apenas estou lá registrando — Sou jornalista.

(Poema do meu 3º livro Espelho de Cristal 2002 pag 98 ed. San Martin - Curitiba/PR)

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O professor de iTU

O professor de Itu

Tudo começou com o requerimento do professor Bosco, que solicitou aposentadoria por tempo de serviço. Analisado pelo departamento pessoal, foi deferido pelo chefe imediatamente.
Dessa forma, foi aberta uma vaga na disciplina de História. O diretor da escola, depois de analisar alguns currículos, optou pelo professor Beto, de Itu. Solicitou à secretária que entrasse em contato com ele e o convidasse para uma entrevista.
A notícia espalhou-se rapidamente pelo colégio, ganhando, inclusive, manchete de destaque no jornalzinho dos estudantes. Todo mundo estava curioso. Afinal, a fama de Itu é grande. Do servente ao diretor, não se falava em outra coisa. O assunto corria solto e malicioso de boca a boca.
Dois dias depois, o diretor perguntou à secretária Beth:
— Você já falou com o professor Beto?
— Telefonei e deixei o recado na secretária eletrônica, mas até agora ele não me retornou a ligação.
— Então tente outra vez.
Beth telefonou novamente para o professor. Dessa vez teve mais sorte e foi atendida por ele.
— Alô, quem fala?
— Aqui é o professor Beto.
— Oi, professor, tudo bem?
— Tudo bem, graças a Deus.
— Aqui é a secretária Beth, da Escola Padrão da cidade de Crocal. Nosso diretor, o senhor Pedro, está lhe convidando para uma entrevista, pois o nosso professor de História se aposentou e estamos precisando urgente de um substituto.
O professor respondeu que iria na segunda-feira. Chegaria às quinze horas. A secretária ficou deslumbrada com o vozeirão do professor. Chegou na sala de reuniões tremendo, tomou um copo d’água e exclamou:
— Nossa!
A professora Dayane espantou-se:
— O que foi, menina?!
— Que voz grossa e linda ele tem!
— Ele, quem?
— O professor de Itu.
A aluna Almerinda, que ouvia tudo, saiu de fininho e foi logo contar a novidade para os colegas. Era intervalo, e no corredor o papo foi um só:
— Gente! Vocês não sabem da maior: o professor de Itu chegará na segunda-feira, às quinze horas. A Dona Beth falou com ele no telefone e chegou a passar mal só de ouvi-lo. Se a voz a fez tremer, imaginem como deve ser o resto...
A malícia ganhou corpo pelos corredores. Já havia aluno com ciúmes do professor. As meninas não comentavam outra coisa: “Este professor deve ser uma loucura...”
Pisquila, o “bichinha”, ficou enlouquecida com a notícia. Desmunhecou o tempo todo, fantasiando loucuras com o novo professor. O clima era, no mínimo, estranho para um colégio particular de classe média...
Um colega dele desavisado perguntou-lhe:
— Por que há tanto falatório sobre o novo professor?
— Porque ele é de Itu, meu bem! Uma cidade linda do interior de São Paulo.
— E o que isso tem a ver?
— Você não sabe, queridinho? Lá, tudo é grande!
Missada ficou sem entender. Envergonhado, não quis prosseguir o diálogo e saiu discretamente.
A professora Carlota era “viciada” em homem, mas na escola passava a imagem de santa, de virgem adormecida... Chata, moralista, dava lição em qualquer um que se atrevesse a comentar maliciosamente sobre o professor de Itu. Passando pelo corredor, ouviu uma aluna cochichar:
— Esse professor deve ser mesmo um gostosão! Deve ter tudo bem grande, ENOOORME!!!
A professora, por alguns segundos, “viajou na maionese” e imaginou o professor de Itu fazendo “strip-tease” exclusivamente para ela. Em sua fértil imaginação, o homem era um fenômeno sexual, um gigante carnal...
Arrepiada, saiu correndo para a sua casa. Chegando lá, foi direto para o banheiro tomar uma ducha fria.
Era segunda-feira, quinze horas. Na frente da escola estava reunido um comitê de recepção. Tinha mais de quinhentas pessoas aguardando a chegada do mais novo e esperado professor do colégio. De repente, parou um táxi. No banco traseiro estava sentado um passageiro exótico... Todos ficaram pasmados, o espanto foi generalizado. Desceu do carro e disse:
— Boa tarde! — Sorridente e feliz ao ver tanta gente a sua espera, perguntou: — Quem é o diretor da escola?
O diretor, meio sem graça, respondeu baixinho:
— Sou eu. E o senhor, quem é?
— Sou o professor Beto, de Itu.
Nesse instante, Pisquila, o “bichinha”, de supetão gritou escandalosamente:
— Meu Deus! Que é isso!! — E desmaiou.
Foi imediatamente socorrido pelos amigos e professores. Não foi nada grave. Socorreram o aluno e as pessoas foram esvaziando o local rapidamente.
O diretor, extasiado, convidou o professor Beto para ir ao seu gabinete. Fez a entrevista e ficou entusiasmado, contratando o novo mestre. Mas, intrigado com o episódio do aluno, o professor Beto perguntou:
— O que houve com aquele garoto?
— Bem... O senhor deve imaginar a reação das pessoas quando se comenta que alguém é de Itu.
O professor discretamente sorriu, não entrou em detalhes e começou a lecionar.
Decorrido seis meses, o professor conquistou o seu espaço na escola. O seu sucesso era reconhecido pelos alunos, pelos pais de alunos, pelos funcionários, pelos demais mestres, e principalmente pelo diretor. Sua sabedoria era descomunal... A Escola Padrão não era mais a mesma. Passou a ser um exemplo de ensino, de conhecimento, de disciplina e respeito na região de Crocal.
No dia 7 de setembro, em frente ao Paço Municipal, estavam reunidas todas as autoridades e todas as escolas da cidade, e o professor de Itu, em seu discurso, disse:
— A grandeza do homem está dentro dele. Temos que DIVIDIR A RESPONSABILIDADE, SUBTRAIR A DESORGANIZAÇÃO, MULTIPLICAR O CONHECIMENTO para podermos vencer os grandes obstáculos da vida... Pequenos ou grandes, o tamanho não importa. O importante mesmo é ser capaz de conquistar o seu próprio sonho, e ser feliz fisicamente, como você é. Eu sou ANÃO, mas sou um homem realizado. Há muito tempo dizia o sábio pensador:

“NEM TUDO QUE É GRANDE É BOM, MAS TUDO O QUE É BOM É GRANDE”. Obrigado!

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De modelo só a propaganda

De modelo só a propaganda

Na cidade grande é assim:

O trânsito fica enlouquecido.

O guarda quase engole o apito.

O pedestre fica perdido...

É fúria na hora do pico.

É briga no engarrafamento.

É difícil prever o fim.

Ninguém respeita o acostamento.

No “ligeirinho” há sempre confusão.

Um sempre grita: – pega ladrão!

Outro: – tira essa mão boba daí!

No centro a lei obriga pagar o “Estar”.

Para o engravatado há sempre um táxi.

Nas lombadas o “pardal” está sempre acordado...

É obrigatório bater continência para o senhor Radar.

Quem é multado perde ponto... Paga caro.

No sinaleiro é comum ser assaltado.

Nas rodovias, o soberano ladrão, é o pedágio.

O motorista está sendo crucificado.

O IPVA é o cupim – o vírus do ágio...

O “DPVAT” dá nó no cérebro da democracia.

Ao povo resta-lhe o recado da sorte:

“Quem sai de casa fica à mercê da morte.”

O trânsito virou caso de polícia.

À noite a vida não demora passar.

O homem do viaduto tem sono trágico.

O bandido sai à caça para matar.

Impera a lei do poder do tráfico...

Homens-cavalos puxam suas carroças,

Limpando a cidade, sonhando em voltar pra roça.

Atraídos pelo mundo moderno que encanta,

Choram ao descobrir, que, de modelo, era só a propaganda.

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Beijo de amante

Beijo de amante

Que beijo é este
Cheio de sedução, estonteante,
Que despertou o prazer
E deixou nosso corpo delirante?

Que beijo gostoso!
Mágico, ofegante; molhado.
Profundo, com alma, delicioso.
Com cheiro de pecado...

Beijo de amante.
Secreto de desejo.
Apaixonante...

Pura sensação.
Boca a boca, beijo a beijo...
Fascinação.

(Respeite o direito autoral)

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Nosso amor

Nosso amor

Nosso amor é como o beijo da serpente.
Anda por entre árvores de tempestades.
Vive como o sonho ambulante de repente.
Não se preocupa com os tititis de inverdades.

Nosso amor é como sono de criança.
Anda na contramão do destino.
Sempre ganha fôlego de esperança.
Nunca morre na boca dum felino...

Sem dogmas do divino vai errante.
Sem pragmatismo histórico vai vivendo.
Vive na plenitude do desejo estonteante.

Esse amor quer encontrar seu posto.
Vive voando nas costas do vento...
Buscando nas suas asas o seu porto.

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POR TE AMAR ETERNAMENTE

Se do alto
Vêm os pássaros
E da terra a semente,
Do meu coração nasceu o amor
Por te amar eternamente.

Se dos morros
Brotam as águas,
Do luar o sol nascente,
Do meu rosto rolam lágrimas,
De chorar por Ti somente.

Se do alto e dos morros
Sonho com teus beijos
Ardentes de desejos,
No meu coração é só delírio de amor
Por te amar eternamente.

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Vamos dar um tempo!

O nosso amor está em crise,
Vamos dar um tempo!
Nossa desavença já chegou ao limite,
Infelizmente, eu lamento.

O seu olhar já não é o mesmo.
Na sua voz não tem mais poesia.
Já não é mais segredo,
Nosso amor perdeu a magia.

Chegou a hora de falarmos sério.
Deste jeito não dá mais.
Por sua causa virei um ébrio.

Vamos dar um tempo!
As brigas estão demais.
Isso não é casamento.

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