Meus sonhos não tornarão a ser o que já foram um dia
Pois hoje tudo mudou, se entardeceu e me modificou
E o ar que eu respiro não é o mesmo que respirei ao dormir
Agora os pesadelos me atraem, me hipnotizam em lugares sombrios
Havia um homem, de certo lugar, com o nome incerto
Que escreveu em seu túmulo verdades em versos
Dizia que a vida não é mágica, não é um mar de lírios
Ela é simples, vaga, corrosível, lastimada...
Não aceitamos tais verdades, pois almejamos ser imortais
Assim criamos a esperança, filha bastarda da maldade
Com a pretensão de postergar a morte e esquecer como ela age
Mas igual ao carteiro que não se atrasa, ela sabe o seu endereço
Vem com cheiro de velório trazido nas asas dos pardais
Lembro-me que muito tempo atrás, contemplava o céu depois do mar
Via gaivotas que pairavam na beira da praia, como livros indomáveis
Posso sentir a brisa do silêncio entorpecedor que me libertava da normalidade. Tudo se passou e agora contemplo esse evento com olhos de águia. Vejo além do que se pode ver... Tudo significa mais, o mais lúcido devaneio
Por de trás dos véus avisto legiões de sonhos que não posso mais sonhar. Foram engolidos por fantasmas beberrões. Estão em cofres bem guardados. Agora entendo o olhar daqueles pardais... Jogados aos ventos são vitais. No entanto, não me encontrarão antes que eu beba o líquido imortal...Feito pelas mãos da aventurança, um elixir com gosto de vingança. Exclamam alto, os que se arriscam a beber... Gritam forte: quero mais!
(Melquizedeque de M. Alemão, 16 de Março de 2011)