Por um gosto além da alma,
Dei muito mais do que tinha:
Senti o agito na calma
Da vida que não caminha.
Caminha como não quero,
Como o que não tem jeito:
Conserta-se, mas arrebentam
Furacões dentro do peito.
Sonhos e imagens várias,
Cuidados, desvelos desfeitos,
Esperanças foram lágrimas
Acalentando o desprezo.
O canto, em cenas erguidas
Com luzes e esplendor,
Tornou-se profunda ferida
No sentimento do amor.
Por um gosto além da alma,
Sem razão nem emoção,
Apenas a oportuna calma
Derrotou minha canção.
Marilene Anacleto
PUBLICAÇÃO JORNAL DO POVO – ANO 1 – 29 – 19-10-00