De pudores me despi
fiz-me mulher...
buscando prazeres
mundanos...
entreguei-me
a ti...
o beijo que me deu,
corrompeu-me...
enfeitiçou-me!
ao mesmo tempo
libertou-me...
um peito oprimido
de um momento
único vivido
contigo...
e uma paixão
novamente
reverte-se
em pó...
na garganta
a amargura
de uma lágrima
presa por um
nó...
nesse adeus
silencioso
em que...
mais uma vez
sinto-me só...
*
*
*
Nas lágrimas que borram o céu altivo
vejo a lua que chora triste e sombria
as estrelas já espremidas e sem brilho
na trágica sina dessa minha melancolia
No vão oco obscuro de minha incoerência
busco-te num coração flagelado e de luto
perambulando em busca de minha existência
sou uma peregrina enclausurada num reduto
Teu sorriso disperso na luz do luar eu vi...
eu sigo sim, nesse destino em emoções secas
nesse meu arrebatamento transfigurado em ti
Saudade enegrecida que causa tanto tormento
Círculo vicioso que acopla em nuvens negras
para mais uma vez não te ter nesse momento...
Sinto a brisa que
toca minha pele
nesse desejo que fere
submisso fica a mim
em lampejos frementes
que não tem fim...
queimando nossa libido
fogo devasto e proibido
ouço teu chamado nesse
sonho delirante de paixão
vejo anjos, fadas e querubins
nua com um véu de cetim
e na nuvem de algodão
deito-me arfante
arqueando as pernas
úmida escaldante
e macia...
nesse prazer que
nos alucina...
ritmos descompassados
bate meu coração...
nessa volúpia
que nos extasia...
gemo baixinho
suores e tremores
nesse desatino sonho
contigo...
beijando meu rosto e
minha boca
deixando-me arfante
e louca...
com ardor e carinho...
sussurro ao teu ouvido
-Faça amor comigo...
abafas meu pedido
cheio de desejo...
pressiono levemente
meus lábios...
para mais um frenesi
num suor desvairado...
um grito incontido...
em estado de torpor
adormeço no teu peito
sorrindo...
e, nesse sonho vazio
onde te amo até no
sonhar...
vejo apenas que foi
um devaneio
disperso no brilho
do teu olhar...
Te busco!
onde estás?
Não me deixe acordar...
Peregrino em minha obscuridade
Em companhia sombras confusas
Entre os charcos de inverdades
Na escuridão lágrimas difusas
Nessa busca que gela o tempo
Abúlica sigo com minha solidão
Deixo corpo e alma ao relento
Com fragmentos do meu coração
Vivo e sobrevivo nessa carência
Que o vento me traga o teu viver
Num amor sublimado em inocência
Junção eternizada num único ser
Romper os grilhões em penitência
Esse amor ausente venha preencher
Lu Lena
FRAGMENTOS DE SONHOS II
Não estou na escuridão, pois tenho tua alma a me iluminar,
Sim meus lábios tremem, a cada vez que te chamo amor.
Nunca te toquei carnalmente, mas me sinto a te acariciar
Com a volúpia de meus olhos que te vêem com ardor.
Não são pecados sentimentos e desejos de te beijar,
São apenas reflexos da excitação que vejo no esplendor
De teus olhos esverdeados cuja íris fustigam a brilhar,
Lançando o lume estrelar de tua alma que com fulgor,
Atrai-me, chama- me e alucina-me como estivesse a gritar,
Por meu nome num profundo grito ensurdecedor,
Que vara a madrugada e a distancia e me chama para te amar
E faz que imediatamente me acorde e sem destemor
Procure-te e encontre fragmentos, algo para te alcançar
No cume de teu leito celestial através destes versos de amor.
Dizes que é feliz porque me tens e me amas
Digo-te que em teu olhar decifrei o segredo
Na paixão lírica consumindo-me em chamas
Num amor adormecido que agora te concedo
Dizes que sem mim o que fazes para viver
Digo-te és a vida e o ar que respiro lá fora
Na brisa suave que sopra a cada amanhecer
Enxugando-me as lágrimas vazias de outrora
Vês em meus olhos o magnetismo que brilha
Nos teus eu vejo uma quietude que me acalma
Numa profundidade que apaixona e me extasia
Dizes que te elevas quando sente minh’alma
Em jubilo fico nessa junção que nos contagia
Transcendendo num beijo que atiça e me cala.
Natal... A reflexão em festa que anuncia
Vejo luzes da ribalta em minha solidão
Lembrança indolente cria raízes e fica
Lágrimas soltas inundam meu coração
No presépio arrumo a palha acolhedora
Nostalgia etérea que parece não ter fim
Contemplo inerte nazareno na manjedoura
Anjos de asas parecem sorrir para mim
Em minha memória ouço ainda a cantiga
Risos esbaforidos em algazarra pueril
Entes queridos que marcaram minha vida
Em meu peito a dor d'uma saudade febril
Adornando os presentes em laço de fitas
Para por na cruz de Jesus que a tudo resistiu.