Ah, paz no mundo que nunca chega...
Escrevo, como já perceberam, não com inspiração, mas sim com angústia. Vejo o tempo que passa por entre os dedos, que se esvai como água fervente, que some como algo que já perdi.
Doze famílias perderam suas crianças, ou melhor, douze. Douze famílias choram uma saudade que não terá fim, que é a falta do futuro, outrora ainda esperançoso, aqui abreviado na tragédias que todas as favelas enfrentam. Mata-se muito fácil nesse mundo. Você pode aguentar por anos a busca de brandas paragens, e ver seu esforço todo reduzido à uma esquina, uma bala, um motivo bem banal. Os monstros, como alguns tentam nos fazer engolir, para esconder os próprios erros, os monstros não existem: o que existe é a frustração do homem em não ser o Deus que almeja, em não ter o destaque que os bem-sucedidos acham que fará importância depois do orgasmo com o rosto alheio, o que existe é a perda de instantes preciosos com a falta de carinho, que levanta nações e heróis, por batalhas enganosas.
O que existe, na verdade, é o que resiste.
Ah, paz no mundo que não chega nunca!