SONHO
Eu tenho um sonho que carrego comigo
de um dia ser livre, plenamente livre
como fui um dia quando era menino
Esse sonho se depara todos os dias
com a crua realidade da minha vida
que é a obrigação de vencer os dias
Eu não queria vencer nada, lutar;
sequer que fosse o viver uma disputa
Queria apenas poder a cada sol, brindar
Mas eis que me aparece à frente um amigo
preocupado com seus ganhos e não comigo
e me conta a história de um negócio perdido
Ouço porque tenho ouvidos e quase expluo
no desejo de dizer-lhe para tirar os sapatos
sentar no meio-fio e esquecer o mundo
Tenho documentos para assinar, café à mesa
Fumo sei lá quantos cigarros para suportar
a faina à qual o corpo empresto com tristeza
Tenho que percorrer quilômetros e sumir
dentro de um prédio onde não conheço ninguém
Tenho. Tenho que me segurar para não fundir.
Mas acalento esse sonho de ser livre
Essa vontade incontida de esquecer o tenho
e apenas ser um menino que apenas vive.
Não sei onde acabará a minha história
Mas não queria ser encontrado derrotado
dentro de um apartamento sem nenhuma glória
A glória de ter conseguido, antes do fim
atingir a maioridade do meu ser e existência
tendo sido, na minha velhice, o menino que vive em mim.