ESVURMADA
Manda-me, quem sabe, uma carta
Para que eu finja que estou vivo
Em algum parque dentro de ti.
De alguma forma vivo, em ares
Para que eu não morra para mim.
Talvez seja uma surpresa minha
Essa necessidade de viver súbita
Que demonstro veementemente
Nos pensamentos que a ti atiro
Prenhe de amorosa paranormalidade
Não! Nada de cartas! Eis-me velho
Lampião querendo alumiar a Rio Branco.
Manda-me um pensamento qualquer
Que captarei no éter teus encantos
Enquanto meus olhos destilam flores.
Queria muito que aqui estivesses
Para que pudéssemos andar à toa
Pela orla, ver o sol se derretendo lento
Ou ocupando os espaços vazios
Que construí na tua ausência.
Queria que estivesses aqui
Apenas para cercar-me de vida
Para acalentar-me as tristezas
Que tua presença me acaricia
Me acalma as mesquinhezas
De ser humano realizado
De verdades absolutas e sadias
Queria que estivesses aqui
Para adornar a realidade dos dias
Para fazer-me ser amado
Queria que aqui estivesses
Para esquecer o conhecimento
Para perder a lucidez
E nunca mais arvorar nada
Que não fosse sentimento