DO HOMEM QUE SE TORNOU ESCRAVO DA VIDA
Para.
Para de olhar com essa cara
de quem perdeu o gol do Vasco
Menino que quebrou o brinquedo
Fala alguma coisa que quebre o gelo
que encha o copo para ser servido
que eu sou todo ouvidos.
Passo por ti todos os dias
e nenhum alarme em ti dispara
Não vês na minha cara
que me fazes falta?
Que te quero todos os dias
na alegria e na tristeza?
Não percebes que te quero no colo
na cama, rindo de deslocar o maxilar
ou chorando teus fracassos?
Mas não quero te servir de descanso
Não quero ser teu amparo no desespero
se quando chego para falar-te de mim
tens sempre uma desculpa.
Do que é que tens medo?
De que me revele a ti, expondo fraquezas
Por acaso não pensaste que sou humana
e que não acabo na bunda nem na beleza?
Como queres que eu te ame se não falamos?
Não trocamos confidências
não existe afago em nossos "eu te amo"
Pensas acaso que quando desmontas
eu não fico tonta
Que fica faltando uma parte tua
quando no banho me escorres nas pernas nuas?
Para. Para de fazer de conta que me amas
e desata esse nó na garganta.
E me fazes crer que sou só tua
de uma cumplicidade criminosa
que me excitarás só de pensar que virás
para a casa que queremos lar
cheio de felicidades nossas.
A tão sonhada liberdade
que almejas com tanta vontade
só será alcançada
quando me completares minhas metades
quando me recheares com tuas verdades
quando, enfim, deixares de ser covarde
para ser homem que fala, sente, chora, ri
para que eu possa amar a ti
e não aquilo que me mostras todos os dias
que não passa de filosofia
com algum traço de poesia
que morre na beira da realidade
quando te calas e me deixas morta de saudade
do homem que conheci um dia