DIA CLARO
Sabes, às vezes me deparo comigo mesmo
parado diante o mar,
olhando onde nunca estarei
com a alma fremente de desejos de lá estar.
Os olhos que amam as ondas inatingíveis
olham as pegadas sulcadas na areia
decifrando para mim
o significado de mim mesmo:
Serás o homem da terra amando a possível sereia.
Minha boca salga com minhas lágrimas
por entender-me um homem de pouca aventurança.
Fico
até que o mar que nunca desbravei
perca-se na lembrança.
Quando, um dia, não puder mais navegar
talvez invente pra mim mesmo, uma aventura.
aquele mar inusitado de tanto ser lembrado
tornar-se-á a minha verdade mais segura.
E, assim, quando tombar a mão ao rés do corpo
sem mais respirar, lembrar ou qualquer gesto,
serei remetido para além das ondas
onde aventura-se a alma
do corpo que ora empresto.