Nunca sentiste nada
além da tua solidão,
mas a maior crueldade
foi reparti-la comigo.
Generosidade mórbida!
A parte que me coube
transformei-a em amor,
mas ficaste com a tua,
intocável e silenciosa,
pelo mais puro egoísmo
e aterrorizante medo.
Eu deveria ter notado
os mesmos sinais
em tuas outras posses
pois, nunca perdeste nada
com teus livres desatinos.
O amor transformado,
da solidão que me deste,
voltou a ser solidão
ao correres de volta
para o que guardaste,
estrategicamente trancado,
à sete chaves.
Já conhecias tuas fraquezas,
tuas limitações e teus medos.
Mesmo assim decidiste
brincar de ser feliz.
E a tua nem tão inocente razão,
sufocada pelos teus sentimentos,
decidiu mais uma vez,
na história da tua vida,
absolver os teus instintos
diante da tua consciência
alegando ter agido
em legítima defesa...
... defesa dos teus medos.