Miguel, um garoto de apenas anos de idade, vai caminhando por entre o pó da estrada que os seus próprios pés vão fazendo levantar à medida que avança, se alguém visse a determinação com enfrenta o desafio de certeza que não diria que aquele corpo um pouco anafado e de estatura ligeiramente abaixo do normal para os seus dez se dirige para aquele que será o seu primeiro emprego.
Miguel continua a caminhar de cabeça levantada e olhar fixo nos dois pilares de cimento que começam a assomar lá muito ao longe, são os pilares que suportam o pesado portão de acesso à quinta das lágrimas, destino do jovem.
Miguel coloca-se entre os dois pilares, roda a cabeça para trás, deixa-se ficar alguns minutos, volta a olhar em frente e exclama:
- Aqui vou eu direito a uma nova vida.
Prepara-se para avançar mas não consegue evitar que alguns pensamentos, sobretudo recordações, o retenham mais alguns minutos, recorda sobretudo a vida repleta de dificuldades que tem levado, seu pai é um homem humilde, funcionário público, o que por volta de 1964 não significa facilidades, enquanto que sua mãe tenta ajudar, aproveitando todo o género de trabalhos que possam surgir, o que em pleno interior alentejano significa actividades relacionadas com o mundo da agricultura, trabalhos pesados e muito mal remunerados.
Miguel não consegue explicar muitas das coisas que ultimamente constituem para ele questões sem resposta:
Porque é que seu pai não procurava outra vida?
Porque não obrigava os seus irmãos mais velhos a trabalhar, antes permitindo que os mesmos continuassem na escola?
Porque é que os irmãos, irmão e irmã, não deixavam a escola e iam ajudar os pais?
Quando se apercebeu que já perdera alguns minutos decidiu-se a avançar, não tomara a decisão de pedir ao pai para lhe arranjar trabalho para agora estar para ali preocupado com o que os irmãos faziam, ou melhor não faziam pela vida, se eles estavam dispostos a continuar com a vida repleta de dificuldades como o seu pai, então isso era problema deles, ele iria lutar por uma vida melhor, mas desenganassem-se, ia lutar por si e para si.
Sentiu-se orgulhoso por tanta determinação, prometeu a si mesmo que iria trabalhar para uma vida melhor e os outros que fizessem o mesmo.
Parecia quase impossível que um petiz de apenas dez anos conseguisse ser portador de tal modo de pensar e de agir.
Avançou.
Morrer de Solidão-I
Data de publicação:
Sábado, 8 Setembro, 2007 - 23:12
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Comentários
Morrer de Solidão
Olá Novamente:
De facto é extraordinário, tanto tempo sem o ler e agora deparo-me com duas espectaculares escritas suas, parece-me que vamos ter aqui um novo grande romance como aquele ultimo seu que eu li. Parabéns e vou aguardar o desenvolvimento.
Parabéns
Inquel
Olá Homem Martinho
Olá Poeta:
Li e reli o seu texto e senti vontade de o ler outra vez, não por não o compreender, mas antespor tentar encontrar a continuação. Espero que a mesma surja em breve.
Cumprimentos
Umaru Baldé