Tive dentes para trincar o que é meu… E sentar-me-ia na cadeira de baloiço, escreveria no caderno de poemas que o meu avô deixou e mutilava-me mais ainda. O choro dos vizinhos agonia-me a lucidez, fere-me um pouco mais e faz-me perceber que, cada vez mais nos envolvemos em escolhas medíocres, falsas, fantasistas, incapazes de nos fazer render ao falhar.
Quase já não penso direito… Toda a ira dos meus anos foi esquecida por uma relação única e agradável, mas ridícula…
Tenho um desgosto amarrado à cinta, como uma daquelas bolsas de guardar tabaco e mortalhas aos menos lúcidos.
A vizinha de cima disse agora que não pode mais, enquanto um velho arrogante lhe diz frases em mau tom. Tal e qual versos… Eu não posso saciar o medo em versos ridículos. Até eu, que já de lucidez pouco me resta, até eu que pouco tenho de mim, até eu que não sei nada…
Estou a chegar ao patamar da estupidez, aquele onde se fica em casa a deprimir por um bocado, onde só se está bem fora de casa com alguém amigo e já nem isso chega, onde nem a dormir me esqueço do mal que pratico, do mal que é amar.
Eu não sei nada… E a vizinha chora, e a minha música toca alto, e atrás da cortina da janela vejo a estrada, e o tempo resume-se em tic-tac, já só passa num ápice e eu sem saber nada, sem o conseguir aproveitar por não saber nada.
Eu deveria fugir e resumir o que és numa folha e sempre que me sentisse estúpido, decifrava e voltava a ler mais uma e duas vezes, para me consumir de que não és boa pessoa, de que não és ninguém especial para mim nem para o meu futuro, de que já me fizeste mal suficiente para voltar a pensar em ti…
Vou só molhar os pés…