Não me culpo por ter te beijado com os meus olhos bem fechados, por ter sonhado com finais felizes, por te receber todas as vezes como se fosse a primeira, por ter te resgatado do seu mundo preto e branco, por te fazer acreditar ser mais interessante do que na verdade vc realmente é, por te mostrar que nem todas as pessoas são sujas, mesquinhas e falsas e que mesmo que pareça nem tudo está perdido.
Não me arrependo de ter te mostrado que no simples pode-se encontrar o belo, na lama pode-se encontrar saída, no nada pode-se encontrar a luz, no fim pode-se encontrar um novo caminho.
Eu te conduzi pelo labirinto de um amor que vc nunca soube valorizar com as suas atitudes tortas, seus gestos vazios, suas palavras frias, seu despreparo nato. E agora que te soltei vc vai se perder. Vai não pq eu assim o queira, mas pq vc não sabe para onde está indo, pq vc só toma rumos errados, pq vc cansa antes de concluir algo, pq vc até deve ter para onde voltar, mas não vai encontrar amor, apenas abrigo. Não vai encontrar calor, apenas mormaço. Não vai encontrar sentimentos sólidos, apenas fumaça. Não vai encontrar banquete, apenas migalhas. Não vai encontrar nada, apenas rastros.
A grande ironia disso tudo é pensar em quem foi mais enganado com isso tudo, quem viveu mais afogado em mentiras, já que todos os beijos intermináveis, todos os “eu te amo”, todos os momentos felizes, todas as demonstrações de afeto, todas as declarações, todos os sentimentos que te dei não eram seus. Dei tudo isso para a imagem que eu fazia de vc, para alguém que vc nunca foi, para um ser que nunca existiu, para alguém que vc criou, mas que não chega nem perto de ser vc. Esse aí que eu vejo em vc agora... esse eu nunca amei, nunca odiei, nunca senti nada pq não é merecedor de nenhuma emoção por menor que seja.
Agora só te resta descer do palco, o show acabou. E saiba que apesar de tudo eu não te culpo por ter me dado espinhos enquanto eu te dei flores: cada um dá aquilo que tem.