Se eu sou mulher de bom coração
e na madrugada estendida, onde o sono
passeia por caminhos ermos de solidão,
por que insisto em dissecar as palavras
para arrancar delas a poesia que não quer nascer?
Se as rimas não surgem no sangue das palavras
e não consigo entender a mensagem que se esconde
sob seus códigos é porque meus olhos estão cegos,
meus ouvidos estão surdos
e os meus neurônios estão mortos!
O coração está anestesiado e não consegue entrar
nas suas entranhas , gelado, perdeu as defesas
e tombou sem força e sem inspiração!
Não posso vomitar minha incompetência sobre minha ilha,
e nem quero destruir nenhuma bastilha,
nem tampouco cair nesta vil armadilha...
Vou por fogo em tudo que escrevi e recomeçar...
Vou aproveitar a hora de insônia que me resta,
e fazer na minha varanda uma poética festa...
Lá existe uma jardineira exuberante e faceira
coberta por cachos delicados de flores...
São flores simples onde se misturam as cores
e tingem em nuances de primavera o meu coração,
hoje esquecido de sua maior vocação...
E eu as chamo carinhosamente de BOA NOITE!
E elas sorriem pra mim.