Lamento pelo inconcebível,
pelo incabível,
pelo que poderia ser e não foi...
pelo que foi e não se pôde mudar...
Pelo desamor,
pelo botão de flor,
pelo não desabrochar...
Lamento a inocência perdida,
imagem denegrida
arremessada, distorcida,
cotidiano da vida...
Lamento pelo vandalismo,
pelo desprezível e insano
cenário de desafeto humano.
Lamento pela fome doída,
pegadas de idas e vindas
buscando um lugar ao sol...
Pelas palavras prometidas,
mal ditas, não cumpridas,
perdendo-se pelo arrebol.
Lamento a alma desprovida,
o descaso pela vida
e todo poder abusivo.
Lamento a lágrima rolada
e o coração corroído
da mãe pelo filho querido...
Lamento o filho nas mãos do bandido.
Lamento a existência atribulada,
o amanhã dilacerado,
o nascer inopinado,
o querer e nada ser ...
A indiferença no olhar, que jaz,
o curvar-se ao onipotente...
Viver ou morrer?Tanto faz!
Lamento minha impotência,
procedimento estático
de nada poder transformar...
E em linhas mal traçadas
esboço, derrotada,
meu triste lamentar...
_Carmen Lúcia_