*“Ainda que os filhos agasalhem-se em outros amores...”
“Ainda que os filhos agasalhem-se em outros amores...”
Estas palavras saltaram das páginas de um livro, percorreram cada milímetro do meu ser e se instalaram em meu coração. A saudade se fez presente, pois me transportou para um passado onde eu, mãe, bastava para agasalhar meus filhos.
Mas esse agasalho perfeito e na medida certa, aos poucos foi ficando pequeno, portanto substituído. Assim como seus pijaminhas que foram trocados por outros modelos, tamanhos e de acordo com os gostos de cada um.
Eu, como todas as mães, sonhei em estar sempre perto dos meus filhos para guiá-los e protegê-los a vida inteira. Só que contradizendo meus próprios sonhos, os ensinei a andar, comer, banharem-se sozinhos. Eu os preparei para tornarem-se cidadãos respeitáveis, cumpridores de suas responsabilidades. Eu os incentivei a terem garra e coragem para enfrentar esse nosso mundo que não é nada complacente com quem sucumbe frente desafios. Eu, a exemplo da natureza, mais precisamente da ave águia, dei-lhes (ainda que emocionalmente cheia de conflitos), o primeiro empurrão para que voassem sozinhos, pois grande era o medo que eu sentia de um dia não conseguirem sobreviver sem que eu estivesse por perto.
Filhos preparados para esse momento já esperado. E eu? Estou preparada para esse momento? As palavras “já não precisam mais de mim” soam em meus ouvidos sem tê-las ouvido. Hoje, cada qual ruma construir seu próprio ninho, “já se agasalham em outros ninhos”. Entristeço-me, como se só agora sentisse o corte do cordão umbilical e só agora me conscientizasse de que os filhos são criados realmente para viverem suas vidas.
Comigo foi assim também quando deixei a casa de meus pais para viver a minha vida. Assim como minha querida mãe enfrentou esse momento e todas as mães enfrentam, também irei enfrentar. Continuarei cumprindo a outra etapa da minha missão de mãe que é apoiá-los, incentivá-los na nova caminhada e ficar aqui orando e torcendo para que o aprendizado que tiveram comigo, faça parte do que eles serão daqui pra frente.
Quero aprender com a independência deles, ser ajuda em suas necessidades e me sentir feliz vendo-os felizes, porque “ainda que se agasalhem em outros amores” e estejam mais distantes, acredito que levarão para sempre a certeza de que, enquanto eu viver, serei a mais entusiasta aplaudindo seus sucessos, continuarei sentindo suas dores como se fossem minhas e estarei de braços abertos, em qualquer ocasião, para estreitá-los em abraços de carinho, conforto, colo e muito amor.
autoria: anamauer
*Do livro QUATRO ESTAÇÕES – Editora Adonis
(...e outras prosas – MÃE - pág. 145)
Autora Terezinha Rocha Poles
Comentários
anamauer/Fernanda Queiroz
Meu maior prazer em coordenar esta casa de grandes talentos é, em uma noite qualquer, em um momento qualquer, deparar-me com textos com mensagens profundas, feito de um misto de realidade e sonho.
Sonhos de nossos sonhos, realidade também sonhada.
Sim, as mães preparam teus filhos, já li que soltar as amarras é preciso.
Sempre que penso sobre o voo filial.
Pergunto-me, será o mundo está preparado para receber estes filhos, ou as mães caberão as suplicas em orações, para que o mundo não quebre o frasco de tua melhor essência.
Ainda que não seja verdade, quero pensar que serei um ninho em uma frondosa arvore onde a natureza não será devastada pelo homem, onde depois de cada vôo eu possa agasalhar em qualquer estação.
Grande abraço.
Fernanda Queiroz
Grande abraço.
Fernanda Queiroz