DOIS CASOS DE OCASO
Odir, de passagem
Mais dois casos de ocaso. O dia e eu.
A janela o cenário nos completa.
Do lado esquerdo, aos poucos nasce o breu,
à minha frente a rua se inquieta.
Do outro lado o ouro, o apogeu
da luz do sol, que às nuvens se aboleta.
Da mãe uma criança se perdeu,
do amor se perdeu este poeta!
Paira um pássaro preto. Pousa ao poste.
Prepara o pio e pára. Até parece
sondar ao vento o som da sua hoste.
Um passo, sem parar, desaparece.
Não parece o passar de quem eu goste
como gosto daquela que me esquece.
Dois casos de ocaso que anoitece
sem sombra de mulher em que me encoste!
JPessoa, 17.01.2011