NÃO SEI DANÇAR
Nas tardes e noites que passei à janela
Aguardando tua presença, aprendi
Que o amor não perdoa nada, nunca
Amar como te amei, não poderia supor
Quando nada mais esperava do amor
Esse Deus debochado me atira ao teu fado.
Eu, logo quem, nem sei dançar.
Nos anos na janela, na esperança dela
Criei os filhos que não teríamos
Que choram no limbo dos tristes.
Enquanto choram, finjo que durmo
E choro junto que são noites de viúvo
As que vivo sem tua sombra pela casa.
Da minha janela vejo a arte do mundo.
Durante a vigília que sacrifica o atalaia
Fui arranjando espaços em minha alma
Para guardar-te em meu passado
Até que não mais doesse tua simples lembrança.
Agora, abastecidas as esperanças
Lanço-me a vôos solitários sobre o idioma
Procurando inventar a palavra necessária
Para esquecer a primeira emoção:
Quando a vi, a ela já pertencia
Rebanhos dando cria, pólen na ventania
Casais levitando pelo salão.
Já esqueci, tento me convencer que sim,
Mas do teu amor, restam esses punhais
Que atravessam os anos vazios
Encravam-se em minha vida
Fazendo tão sem sentido
O que resta a ser vivido.