Elegia à frutamadura
laranja
dispo-te
a firme roupa
os dedos
apartando
gomos
buscando o dentro
o cerne
que te une
e ao mundo
a sul
uva
em cacho
te ofereces
à bebedeira
antecipada
cheiro
de grosso mosto
que me sobe
dos membros
pelo peito
pela boca e olhos
no êxtase
do que será
abóbora
fio
rio
alagando de verde
o chão
no extremo
circular e interior
mar
porque em ti
sempre chegaram
as primeiras águas
dos meninos
melancia
volumosa
e rotunda
no fora
viva carne
por dentro
a memória nos homens
de pecados
nunca
redimidos
pêra
na triangular
forma
que te fecha
ponho-te assim
invertida e dupla
deitada
no papel
e na impossível
geometria
dos sentidos
noz
falsa púdica
com dois panos
te cobres
o primeiro
tu mesma
o despes
voluntária e oferecida
o segundo
grandes trabalhos dá
antes do desfrute
maçã
redonda
e disponível
acr(e)doce
o teu cheiro
enche
o meu tempo
de regressos
impossíveis
pêssego
que veludo
outro
mais intenso
e fino
que o teu
me alarmaria
neste alvoroço
que de dentro
vem à flor-da-pele
desacordando
antigas
centelhas
ameixa branca
como rio
te entregas
completa e abundante
extravasas as margens
da boca
inundas a pele
o pelo
o peito
mitigas a sede
que eternamente
me consome
ameixa roxa
no moreno
cetim
da tua pele
colo os lábios
abro-te a fenda
destapo
o êxtase
do oloroso suco
no dentro de ti
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