Pensando sobre a saudade.
Dizem os historiadores que os negros africanos ,que eram feitos escravos no Brasil, morriam de uma "doença" denominada Banzo. Na verdade este fenônomeno era uma saudade cortante que eles sentiam da sua pátria, do seu povo e de suas raízes.
Chico Buarque de Holanda afirmou em uma canção " saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu...".
Muitos poetas, filósofos, místicos e estudiosos tentaram definir a palavra saudade. Já chegaram inclusive a afirmar que ela só existe na língua portuguesa. Quando comecei a escrever este texto tomada por muita saudade pensei em iniciciá-lo com a definição deste termo, porém não conseguir chegar a um consenso. Talvez porque atualmente tenho vivido este sentimento com muita intensidade e de diferentes formas decidir falar desta dor ao invés de definí-la.
Há três meses perdi meu amado pai. Ele foi o meu maior amor. Quase todos os dias acordo no meio da noite com uma dor no peito e uma sensação de solidão. `As vezes levanto e vou até a sala olhar a sua foto na parede. Chego a conversar com ela e fico torcendo para que papai me responda. Fecho os olhos e sonho que ele me abraça. Doi demais buscá-lo na casa e não encontrá-lo. Fico horas lembrando da minha infância, das viagens que fizemos, das coisas que ele me ensinou e até de nossas discussões. Como eram belos os cabelos brancos de meu pai. Como era bom saber que eu podia contar com ele. Mas agora ele se foi e só existe no meu coração. Deveria ter telefone no ceu para conversarmos com os nossos entes queridos sempre que sentissímos saudades. E por falar em telefone, vou contar da minha outra saudade.
Acredito que "só quem tem amor ausente já viveu a minha dor". Apaxonei-me por alguém que mora a 3000 quilometros de distância de mim. Foi ai que descobri que saudade também tem cheiro. Ficamos dez dias juntos na casa dele. Foi tudo maravilhoso, dormiamos juntinhos e abraçadinhos, mas chegou a hora da minha volta para casa. Hoje a saudade me corroi e como cantou o rei Roberto " são os detalhes" que fazem mais falta. O cheiro do meu amor, o bom dia na cama pela manhã, o encontrar dos nossos pés na cama durante a noite...
Internete, telefone, carta amenizam a saudade, mas não conseguem espantá-la. Um dia meu amor me falou que aquele que fica é quem mais sofre esta dor. Não consigo dizer se ele tinha razão, pois ele ficou e eu parti, mas sei que é grande a minha dor. Ele também denominou de instrumentos de tortura os objetos que eu lhe dei. Agora sei do que ele falou, afinal eu também trouxe os " meus instrumentos de totura". As fotos que tiramos juntos, o Cd que ele gravou, os poemas que escrevos em parceria... e todos os " detalhes" que preenchem a minha memória.
Dedico este texto a todos àqueles que entendem a minha dor e que choram de saudade por alguém que já se foi ou por um amor que mora longe dos olhos e perto do coração.
Francineti Carvalho
Publicado no Recanto das Letras em 02/01/2007
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