Muito além de mim.

Ontem acordei angustiada. Eram três da manhã e não mais consegui dormir. Fiquei andando pela casa totalmente insone. Parecia alma penada. Penava de angústia, tristeza e solidão. Não sabia o que queria e nem o que estava acontecendo. Um misto de tristeza e nostalgia invadia o meu peito. Olhei para o lado e via o meu homem dormindo tranquilamente. Pensei na minha filha. Ela é linda e sadia. Não havia nada que explicasse aquela dor... Eu pensava que vazio é este que invade o meu ser? Tenho uma casa bonita, uma filha saudável e inteligente, uma profissão que eu amo, um homem atencioso e companheiro... mas não estou feliz. Lembrei da velha pergunta de Freud: o que quer uma mulher? Ele nunca conseguiu respondê-la e eu também não conseguia responder as minhas perguntas. O que eu quero? Que desejo é este que não é saciável? Que angústia é essa que me tortura e não me deixa? Desde pequena eu ficava ansiosa em busca de algo que não tinha nome, nem cheiro e nem forma, mas que eu buscava incansavelmente. Tentei encontrar respostas nos namorados, nas religiões, na escola, no teatro, na dança, na poesia...mas nunca encontrei. Nada pôde satisfazer-me, nada conseguiu me preencher. Parece que o que busco está longe, muito longe, muito além de mim.
Esta sensação de busca e de vazio permaneceu por toda noite enquanto todos dormiam.
Francineti Carvalho
Publicado no Recanto das Letras em 11/12/2006
Código do texto: T314908