Homenagem à Laura
Sempre gostei de aventuras, travessuras e gostosuras. Quando menina adorava sonhar. Escrevia, representava, dançava, mas acima de tudo questionava. Nada passava por mim despercebido. Eu queria saber de tudo e o porquê de cada fato e acontecimento que me cercava.
" Mãe porque temos que dormir durante a noite?" " Porque não podemos ficar pelados quando sentimos calor?" Era tanto porque que mamãe ficava tonta.
Um dia porém, eu estava sentada na porta de casa quando vi passar Laura. A velha e conhecida Laura! E os moleques gritavam: Laura sua puta! prostituta! Laura safada, prostiputa! E Laura altiva e de cabeça erguida seguia em frente sorrindo embora o seu coração chorasse de dor. Então eu disse a minha babá: quando eu envelhecer eu quero ser como a dona Laura linda e loira. Levei um safanão e ouvi a expressão: cruz credo menina! Nunca mais repita isso. Você não vê que esta velha é a vergonha de Abaeté? E eu? como questionadora que já nasci perguntei e ao mesmo tempo respondi: " Porque? Dona Laura é tão bomnita e não persegue ninguém. Ela até poderia agredir, pois estes moleques a perseguem mas ela simplismente segue...
Prossegui a minha argumentação: Outro dia ouvi o titio falar que foi Laura que lhe ensinou o bê- a- bá. E eu perguntei: tio foi Laura que te ensinou a ler? Mas ele resmungou menina sai daí não vê que isso não é conversa para crianças. Eu fiquei sem entender o porquê de uma menina não poder saber do a- b- c. Mesmo sem entender conclui que Laura era uma mulher que ensinava os meninos "a ler".
O tempo passou e Laura se foi e depois de ensinar tantos meninos a " ler" não recebeu nenhum troféu, mas virou lenda em Abaeté. Ninguém queria batizar suas meninas com o nome de Laura por medo que a garota aprendesse o " a-b-c".
Hoje numa crise de melancolia resolvi arrumar velhos papéis. Olhei fotos, poesia e velhos escritos. Em meio a este material encontrei uma poesia que o meu irmão fez em homenagem a Laura. Perguntei a ele se poderia publicá-la. Após a sua autorização escrevi este texto para que nós dois homenageassímos a velha Laura de seios flácidos que morreu abandonada num casebre solitário junto à figuras pornográficas depois de ter ensinado a tantos meninos o Bê- a- bá.
" Laura"
( autor: Murilo Carvalho)
Laura nasceu para o mundo
e ao mundo pertenceu
ao mundo forneceu:
carne fresca de menina
carne madura de mulher
mas quando a carne de Laura envelheceu
para o mundo Laura não serviu mais
discípula de Vênus,
devota da Virgem da Conceição,
Laura morena,
Laura gostosa ...
sacana...
manhosa.
Rebola, mostra esse corpo dourado
que o teu senhor sou eu
professora do amor,
fada que transformou
tantos meninos em homens
Depósito de espermas, suor, prazer, recalques...
odiada de dia,
amada de noite.
Laura meretriz ( que nome bonito para ela)
Prostituta,
ProstiPuta,
ProstiLuta,
ProstiSanta.
Francineti Carvalho
Publicado no Recanto das Letras em 05/01/2007
Código do texto: T337319
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