3º Concurso Literário(Conto)"Castelo Azul"
Ali ela vivera os dias mais felizes de sua infância. Acordava cedinho, fazia seu desjejum,um pedacinho de pão e um copo de leite que seu pai guardara para ela,na noite anterior,
beijava os pais e ia para a escola,onde ficava toda a parte da manhã.
Era aluna exemplar, alegre,sorridente,cativante.Aprendia com facilidade,amiga de todos.E todos a amavam.
Apesar das dificuldades, pai desempregado, mãe com problemas de saúde,ela amava a vida.
Chegava da escola e ajudava o pai nos afazeres de casa.Morava num casarão antigo, que mais parecia um esconderijo,em um beco, e que ela chamava de “Meu Castelo Azul”,pois assim imaginava que fosse.
Enchia a mãe de cuidados e carinhos, como se fora um bebê.Não sabia ao certo o nome do mal que a atingira,que a fez ser diferente de todas as mães,mas lhe dispensava um grande amor.Ouviu falar em “Mal de Alzheimer”,mas não sabia o que era,nem conseguia pronunciar tal palavra.
Procurava fazer seu pai sorrir com suas tagarelices e brincadeiras.As tardes eram sagradas para ela.Reunia os amiguinhos e ali mesmo, em frente ao seu castelo azul,tornavam-se personagens de contos de fadas.Havia princesa e príncipe,rei e rainha,as malvadezas da bruxa má e a bondade da fada-madrinha,com sua varinha de condão.
A velha escadaria do casarão tornava-se luxuosa,com suntuoso tapete vermelho,por onde deveriam passar o rei e a rainha, frutos da imaginação fértil das crianças. À noite, fechada em seu quartinho,sob a paupérrima iluminação de uma lampadinha,relatava em seu precioso diário,os acontecimentos do dia.E vibrava com isso.Guardava- o como a um tesouro.
Hoje, a menina já crescida,amadurecida pelas dores da guerra,já não sonha mais.O ódio,a ambição,a ganância,o desejo desmedido pelo poder,que assolam o planeta,arrebataram seus sonhos,pisotearam seu coração,destruíram seu “Castelo Azul”, quando seu pequeno mundo foi atingido por uma bomba caída do céu.
Voltava da escola e ao ouvir o barulho terrível,que ainda hoje povoa seus pesadelos, correu para sua morada...e não achou mais nada,além dos escombros e de algumas pessoas que procuravam resgatar os corpos de seus pais.Parou estarrecida, petrificada...não conseguia emitir um grito,nem derrubar uma lágrima. Entregaram-lhe algo encontrado no meio das ruínas:seu diário. Saiu de lá carregada por um casal amigo.
Tornou-se uma moça linda,porém,imune a emoções.Marcas da vida. Uma grande tristeza habita seu olhar e uma grande dor,o seu coração.
Consegue abrir um lânguido sorriso,quando à noitinha,deitada na cama de um quartinho da casa dos amigos,abre seu diário e lhe vem a lembrança nítida de seu “Castelo Azul”.
Carmen Lúcia
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