Poemas

Foto de Carmen Vervloet

O Poder do Sonho

Às vezes é imprescindível sair da realidade
e galopar no dorso do sonho
que nos leva para mundos idealizados
onde o amor e a paz destroem toda a animosidade,
onde se ignora solidão, tristezas e até insanidades;
Onde se constrói quimeras que se agigantam
e no gene da esperança vão tomando forma
que se sobrepõem às dores e mazelas da verdade.
O espírito liberto se abre em flores de primavera
que perfumam e enfeitam o ambiente
e no tempo certo deixam cair a semente
que cuidada com afinco e carinho
vai brotando devagarzinho transformando a realidade
através da energia que se propaga em luz
e vai fazendo a magia
no poder que só o sonho possui.

Foto de Rosamares da Maia

Tributo ao Tempo

TRIBUTO AO TEMPO

Tempo, fórmula e resolução.
Tempo, forma de transformação,
Memória viva e esquecimento,
Certeza e contradição
Antítese plena entre realidades,
Quem transforma éter em verdades?
— Etérea é a vida entre os tempos.

Tempo, quem ou o que é você?
- Pleonasmo dos viventes.

Hoje, brilho em olhos reluzentes,
Amanhã pálidas e embaçadas pupilas.

Tempo, te vi refletido no espelho,
Olhavas para mim.
Como um menino assustado
Pasmo, tocavas os meus cabelos,
Tentando arrumar o seu desalinho,
E o que restou da minha vaidade.
Tuas mãos confundiram-se com as minhas

Dos teus olhos rolaram pacíficas lágrimas,
Que aparei, constatando a inequívoca simbiose.

Rosamares da Maia

Foto de Rosamares da Maia

Só as Mães Deveriam Ir à Guerra

SÓ AS MÃES DEVERIAM IR À GUERRA

A guerra é uma invenção dos homens.
Também eles não têm útero!
E sem parir, como saber ou sentir?
São como lobos, urinam demarcando o território.
Lei de balas e bombas que estabelecem o poder.
Na guerra somente as mães deveriam combater.
Depois é claro, de uma metamorfose,
Onde o ventre contrariando a lógica da natureza,
inverte a determinação da vida, e por osmose,
torna a agasalhar os filhos que teve, também,
preventivamente, os que estão por nascer.
Assim, guardados na forma primitiva da semente,
esperam por tempos de paz, onde florescerão.
Nas frentes de batalhas, mães lutam bravamente,
trazendo o seu amor guarnecido no ventre.
Defendem o direito de não doar filhos à pátria,
de não oferecer em holocausto a sua cria.
— As pátrias sempre deserdam as mães.
Que sejam elas então, filhas degredadas,
Mas, de ventres intactos, livres.
Pereçam combatentes, mas, rosas perpétuas,
mães meninas, guerreiras de viço permanente.
Derramem filhos nos novos campos da paz.
E neste chão cultivado de amor, sejam sempre
e somente, sementes de vida,
Pulsantes, pungentes, brotando de gente.

Rosamares de Maia

Dedico:
Às mães deserdadas das pátrias do Oriente, também as mães da Pátria da gente, atingidas em seus filhos, pela fome, pela droga, nas ruas, pelas balas perdidas, na violência cotidiana, que mata tanto ou mais que as guerras do Oriente.
(Exposição com David Queiroz - Traços e Versos / Niterói - 2010)

Foto de Rosamares da Maia

O CIRCO DE DAYSE

O Circo de Dayse

Palhaço solitário deserdado, sem circo,
Faz da vida a piada, lona e picadeiro.
Malabarista por destino desengonçado,
Dribla a falta do cenário, ensaia e encena.

O seu texto? A comédia diária da sua vida.

Trapezista sobrevivente do dia a dia se atira,
Sem rede, com medo, sem prumo, sem rumo.
Em baixo o pesadelo na garganta dos leões.
Queda livre, pirueta ousada, abuso fatal.

Bem próximo de ser devorado, no quase,
Cai no sono profundo embalado no riso,
Ouve as gargalhadas das crianças. Dorme feliz.
Sonha com as peripécias da vida de palhaço

Salvação atrapalhada, de muitas trapalhadas.
Sonha com o seu quarto – O que nunca teve.
Vê janelas pintadas de azul, viradas para o sol.
Um quarto branco com duas amplas portas.

Uma a da entrada, a outra a salvação da saída.

Quando entra é Arlequim, dor e lágrimas,
Palhaço insosso e triste de um mundo que pesa.
Quando sai é palhaço da periferia, nome Alegria.
Canta, rola cambalhotas na grama verde.

Vê o céu, janela azul e irreverente faz careta,
Reverências para uma plateia que o espera.
...Senhoras e Senhores – Tam, taram, tam tam!,
Que rufem os tambores!

“E o Palhaço o que é?...Hoje tem sim senhor!”
Acorda! Vamos palhaço! O show é a vida.
E o espetáculo vai recomeçar.

Rosamares da Maia

Foto de Carmen Lúcia

Prenúncio de Primavera

São as miudezas da vida
que levam a tristeza embora,
mágoa renitente que insiste
em eternizar a hora...

São reais fortalezas
numa ampla visão do olhar
que de repente se afloram
se o tempo correndo, parar...

São detalhes tão pequenos,
mistérios querendo falar,
gotas de encanto vertendo,
juntando-se, formando mar.

Um tímido, ameno botão
vence a humilde condição
e em meio a duras rochas
em flor se desabrocha...

Mostra que o seu sonhar
consegue se concretizar,
vira beleza, alegria,
suavizando o rigor do lugar.

Atrai a magia pra si,
cores e beija-flores, cantos e bem-te-vis,
borboletas, o vaivém entre as flores,
amores e um cheirinho de alecrim...

Lança semente em cada canto
que displicente, tece um jardim,
desperta o fetiche, realça o encanto
de simples detalhes notados, enfim.

_Carmen Lúcia_

Foto de William Contraponto

Menino Moreno

Tem certas coisas
Que não consigo explicar
Como meu garoto sorrindo
Sentado a beira-mar
É tão lindo
As palavras fogem
E o corpo fica louco
Quando ele vem
Encostar-se no meu ombro

Naquela noite na praia
A onda pegou, o coração apaixonou
Não há como escapar
O jeito é se atirar e mergulhar
No desejo de um beijo, no desejo de se amar

É moleque bandido, moreno amigo
Confesso quando estou contigo
Me perco inteiro tentando disfarçar
Que será passageiro
O tanto que te quero namorar

Me deixe ficar assim
A tarde inteira abraçado
Sentindo sua pele em mim
Fortalecendo o amor
Que também espero não ter fim

Garoto moreno, lindo pecado
Um pedaço do paraíso
Perdido aqui comigo
Nesse desejo alucinado
Permaneça pra sempre
Bem ao meu lado

Foto de Oliveira Santos

Enquanto Você Dormia

Enquanto você dormia
Eu era seu vigia
Que, leal, velava seus sonhos
Mesmo sendo os mais medonhos
Mesmo sendo os mais românticos
Lhe embalava o sono em cânticos
Lhe afagava em teu cabelo
Lhe envolvia no meu zelo

Enquanto você dormia
Lhe fazia meu santuário
Lhe fazia meu relicário
Devotava meus sentimentos
Esquecia meus sofrimentos
Apenas lhe contemplava
Apenas, amor, lhe amava...

Foto de Rosamares da Maia

Fernando Rei de Letras

Fernando Rei de Letras

Salve D. Sebastião! Salve El Rei!
De bravura e bravatas, El Rei de Portugal.
Cantado por Fernando o rei sem castelo.
Tão pessoa o impessoal torna-se imortal.

Fernando, rei de letras, de palavras e versos,
De espirito e sensações de além Terra,
De além do mar lusitano neste Universo,
Da morada e glorias de El Rei, Dom Sebastião.

O mar das dúbias certezas de Fernando,
Mestre em caustica ironia e sobriedade.
Tinge-se em vinho, sangue e vaidade.

Fernando de palavras amou D. Sebastião.
Fernando, menino dos amores profusos,
Encastelou-se homem em sentimentos difusos.

Rosamares da Maia

12/01/2004

*Uma modesta homenagem a Fernando Pessoa.

Foto de Rosamares da Maia

DICOTOANIMA

Dicotoânima”

Este é meu corpo,
Fôrma que perdeu a forma,
Quadro que não se enquadra.
Meu corpo está fora dos padrões,
Esbarra na moda das vitrines,
E se o abdome transborda,
Tem logo uma cinta que comprime.
Este é o meu corpo,
Do qual somente enxergam a boca,
Instrumento voraz, insaciável,
Nervosa, quase louca.
Que absurda ditadura!
A que tabela obedecem estes padrões?

Não poderei apenas ser um corpo,
Farto e feliz?

Este é o meu corpo,
Onde minha alma não cabe,
Pula leve como a bailarina,
Desliza e flutua,
Dá cambalhotas, como menina.
É pássaro que voa
E das asas não sabe,
Fogo que sobe, aquece, arde,
Não é chama que se apague.

Eu sou este Ser.
Não um corpo, ou uma boca,
Mas minh’alma, que sobra,
Que não se cabe e transborda,
Que ergue a taça da vida,
Cheia, até a borda e brinda.
Brinda a ausência dos padrões,
Servida com o manjar da
Essência dos corações.

É assim que sou,
Ciência que jogou fora
A fôrma e a forma, mas
Preservou light a consciência,
Que exposta diante do espelho,
Olha nos olhos, se acalma,
Pois o que sobra do corpo,
Transborda na alma.

Rosamares de Maia (06.09.2000)

Foto de Rosamares da Maia

CÂNTARO DA VIDA

CÂNTARO DA VIDA

Parte do caminho te levarás só.
Sobre teus ombros — o cântaro da vida
— Este é o teu caminhar.
Também construirás o cântaro,
E encheras com a tua história,
Dela se fartará ou permanecerá vazio.
Mas, haverá a outra parte do caminho,
Nela aliviarás o peso das tuas vivencias.

É a hora de ensinar a tua arte.
Como viver esta dualidade?
Se ela em ti está em toda parte.

Ser caminho e caminhante,
Encher o cântaro da própria sede,
E ser a água, limpa e refrescante,
Traçar a equivalência entre força e suavidade,
Ser o Mundo — Gênero masculino,
E Terra — Mulher, gênero feminino,
Juntar os dois e ser companheira do teu oposto.
Se isto não bastasse!
Chorar, sorrir e parir.

Mulher, sempre carregarás o teu cântaro,
E este sexo não é o teu fardo,
Mas o múltiplo da tua trajetória.

Rosamares da Maia
Exposição em "Traços e Versosos" com David Queiroz - Niterói 2010

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