Veias

Foto de Lou Poulit

O Trovão e o Sabiá Sereno

Sentada sob alpendre da mansão colonial, sua fortaleza de toda a vida, Sinhá havia se perdido em seus pensamentos. O dia havia se despedido há pouco, na apoteose fugaz de um céu prestante de cores e texturas, que de tudo o que pode tentou fazer para merecer a atenção da moça. Nem a sinfonia da passarada fez efeito. Tudo em vão, restaram as estrelas que nem sequer se aventuravam. A passarada se calou para dar a vez aos grilos, sapos e outros barulhentos notívagos. Sinhá revirava mecanicamente os fartos rendados da saia à sua volta, pois de fato não estava ali.

Então, passos arrastados vindos de dentro precipitaram-na do etéreo, de volta ao corpinho magoado pela posição pouco cômoda. De tão surpresa e assustada, não teve coragem de se virar. E esperou apenas, como seu sangue esperava dentro das veias. Aos poucos uma luz tênue, mas capaz de expulsar soberanamente a escuridão, se aproximou. Depois mais um pouco. A moça temeu que se aproximasse ainda mais e explodiu em gritos nervosos: Saia já daqui! O que quer de mim, demônio? Eu não lhe chamei aqui!

A pouca distância um caboclo mulato de aspecto impressionante, pele muito morena e os olhos claríssimos de uma onça enterrados no rosto embrutecido, como pequenas gemas raras no emboço úmido da terra adubada pelos séculos. O velho Sereno segurava a candeia, tentando compreender, tão próxima, a moça que à distância vira crescer, como flor única naquelas glebas. Durante parcos segundos, Sinhá não conseguiu balbuciar uma palavra. Tentava decifrar como aquela figura estranha havia invadido seu silêncio, que significado poderia ter dentro dele e se seria perigoso para as coisas ricas que guardava em segredo. Porém, achando que o silêncio era ainda mais insuportável, a moça voltou à carga: Quem lhe deu o direito de estar aqui? Ele tentou explicar: Vim só alumiá o negrume da noite pra vosmicê, Sinhazinha... Carecia de se assustá não... Não tenho medo de nada, ela empinou a própria fragilidade. Como poderia temer um empregado dentro da casa do senhor meu pai? Ademais, estava aqui com meus pensamentos...

O homem olhava com segurança os olhos escorridos de lágrimas da moça, cheios de brilhos amarelados pela chama da candeia. Sentia pena dela, mas sabia pelas décadas de convívio que não se devia manifestar piedade para com os senhores. Sereno sabe que está triste, Sinhá. Ma num pode fazê nada não, disse ele abaixando os olhos. Mas como pode saber disso? Não lhe dou esse direito. De onde você saiu?... Ainda com os olhos baixos, ele respondeu: Sempre estive aqui, Sinhazinha. Vim pra essas terras do senhor seu pai na barriga da minha mãe, que se foi embora amarrada naquele pé-de-jurema-branca, bem ali na direção onde a lua vai nascer já. Eu era desse tamaninho, cabia no cesto onde o alazão comia o seu mio. Naquele tempo o capataz era um homenzinho muito do ruim... Ela só queria alimentar a sua cria...

A moça se refez da letargia quando o ouviu falar no alazão, tornando a gritar: Não me fale do meu alazão. Eu amava o Trovão como se fosse uma pessoa! Ninguém montava nele além de mim! E acabaram de trazê-lo num arrasto de pau-de-mangue... Ele estava morto! E eu vou matar quem fez isso com ele... E a chorar convulsivamente ela recostou-se no portal, até sentar-se de novo no degrau do alpendre. Sereno continuou calado, imóvel, com os olhos cravados nas lages do chão. Como se sua alma cansada procurasse uma brecha para um imenso arrependimento.

Tentando descobrir em seu próprio silêncio o que deveria fazer naquela situação triste e constrangedora, o velho caboclo foi lentamente até a arandela pendurar a candeia. Não sabia o que fazer a mais. Durante quase vinte anos quisera ajudá-la em muitas situações de perigo, mas sempre chegava alguém antes. Sereno trabalhara sempre na plantação, às vezes tratando dos cavalos doentes e outras como mateiro. Amava a menina, antecipava os riscos que ela corria, mas haviam outros mais próximos dela. E agora o mesmo sentimento de proteção lhe parecia palpável de tão denso. E ironicamente, embora estivessem ali apenas os dois, simplesmente não sabia o que fazer.

Passados alguns poucos e imensos minutos, a moça quebrou o silêncio, mais calma, porém sem perder a altivez da voz: Como se chama? Sereno, Sinhazinha - disse ele. E porque está aqui, nunca lhe vi dentro de casa?... O velho empurrou a aba do chapéu para trás e coçou a calva rala e branca, como sempre fazia quando se sentia inseguro. Demorou um pouquinho mas respondeu: Eu vim de pés lá de trás da serra dos pastos... O senhor seu pai mandou que me alimentasse e ficasse por aqui até amanhecer. Ela insistiu: Mas por que veio de pés? Ah, Sinhazinha, parei no meio da mata para ouvir o sabiá-da-mata, tava cantando bem em cima de mim. Desde menino adoro os sabiás, num gaio da mangueira, por cima da minha palhoça tem um que fez ninho agora. Quando passo o café da tarde ele tá arrebentando os peitos, de tanto chamá uma fêmea pro seu ninho novinho e arrumadinho. Mas me distraí, meu cavalo assustou-se com a onça e saiu desembestado, nem sei pra onde. Mas vou lá buscar, pro seu pai meu senhor num ficá num prejuízo maió. Não é um bicho caro, é até meio capenga... Mas é um bom companheiro, num sabe? Vendo a perplexidade dela, ele perguntou: Que foi Sinhá, com essa boca aberta, quem nem peixe morto? A moça sussurrou: Onça?... Que onça é essa, Sereno?

O velho respirou profundamente. Não haveria mais de esconder. Ela que soubesse a verdade e que fizesse o que achasse justo. Disse a ela com segurança: a mesma que pegou o Trovão... Aquele sangue todo foi porque quando cheguei ela já tinha garrado no pescoço dele – disse caboclo limpando instintivamente as mãos grosseiras nas calças. A moça mostrou-se inconformada: E você não fez nada para ajudar o coitado? Não tinha uma arma, Sereno? Sinhazinha, ele caiu por cima da bicha, esperneava como um porco endemoninhado... Endemoninhado é você, miserável! Ele era o alazão mais valente que conheci... Só que havia uma onça mordendo o seu pescoço... E um homem medroso e inútil assistindo a sua morte desesperada! Que queria que o Trovão fizesse?... Sereno, se calou constrangido. E ela quis saber mais: E depois, Sereno?... Sinhazinha, num é nada fácil chegar perto de dois bichos grandes e raivosos... E eu só tinha mesmo o meu facão de mato e não queria ferir ainda mais o Trovão. Sim, mas o que você fez? – ela implacável. Eu nada, Sinhazinha, a onça é que resolveu desaparecer. Onça é um bicho covarde. Só pega pelas costas, sangra e espera morrer. Mas se sentindo insegura ela larga e fica de longe só espiando. Esperando a hora de comer sossegada. E o outro, que também é bicho, sabe que vai morrer e que ela vai vir lhe rasgar as tripas. É só uma questão de tempo... O mundo dos bichos é assim mesmo, Sinhá. Ninguém muda não. Vosmicê ta triste e eu também... Mas o Trovão tá não... Só tá esperando os primeiros lampejos do dia, pra correr por essas terras sem fim, pelos campos e pelas matas fechadas, num tem mais nada que lhe impeça... Vai conhecer todos os lugares onde nunca tinha ido, vai beber água do rio grande e vai saltar nas ondas da praia... Enquanto isso nós vai fica aqui chorando de tristeza, porque num pensa que ele ta livre como nunca foi... É que como nós só sente o sentimento da gente, só pensa com a cabeça da gente, então acha que o trovão ta sentindo e pensando a mesma coisa, Sinhazinha... Não tenha raiva não... Que ele não pode aparecer pra vosmicê e lhe contá como que é lá donde ele vem, ele vai ficar triste por causa da sua tristeza...

A moça se esforçava para aceitar aquela sabedoria estranha, que quase desdenhava os seus mais puros sentimentos, todas as coisas que aprendera a sentir. Mas, embora não tivesse coragem de dizê-lo, até que gostava muito de imaginar seu querido Trovão suando da correria que tanto amava, brilhando ao sol e ao luar. Ele amava o vazio dos espaços, os obstáculos que vencia, amava o vento revirando as suas crinas, enchendo-lhe os pulmões no peito enorme e musculoso, e depois expirava com força fazendo seu próprio vento, era quase um deus da natureza... Ah, como ele gostava disso... – dizia a si mesma. Alagada da própria ternura, disse então ao velho: Ele lutou até o último instante não foi, Sereno?

Ele era valente demais, eu o conhecia desde que era um potrinho muito abusado... Sou lhe muito grata, quero que fique, se alimente bem e descanse bastante. E depois vá buscar o pangaré, antes que essa onça o coma, já que não comeu o Trovão, pois que os homens foram buscá-lo antes disso... Sereno sentia-se mais à vontade agora, já sentado também no degrau de baixo. E completou: Vou Sinhazinha, antes de clariá vou atrás dele. E ai dela que se meta... Faça isso por mim, Sereno – ela pediu com raiva.

Não posso prometer, Sinhazinha... Não Sereno, não se arrisque, leve uma arma... E se ela lhe pegar pelo pescoço, como fez com o Trovão?... Vosmicê num fique triste não, Sinhá... Também sou meio bicho, já fiz muita coisa nesse mundo de meu Deus... Já matei oito onças, seu pai meu senhor pode lhe dizer... Uma delas ia morder era o pescoço dele... É que de uns anos pra cá elas estavam sumidas, que os cachorros farejam a catinga delas de longe... Gato tem raiva de cachorro e vice-versa, num sabe?

Eu prometo, Sereno. Vou contar para os meus netinhos essa estória. E vou me lembrar de dizer que você foi um herói, que não pode salvar o Trovão, mas veio de pés buscar homens, para que ele tivesse um enterro digno. Meus netinhos vão aprender a odiar todas as onças, porque essa matou o Trovão... Mas eis que tais palavras indignaram o velho filho-do-mato, e ele quis ser exato: Não, Sinhazinha... Isso não é certo, não é verdade não... Como, Sereno? Se ela não matou o meu alazão, então quem foi?... Fui eu mesmo, Sinhazinha... A moça de um pinote ficou de pé, com o dedo em riste, enfurecida lhe disse: Seu traidor! Vá embora, suma daqui! Nunca mais quero ver sua cara! Não vou lhe perdoar jamais! Vai... Antes que eu grite por alguém para lhe surrar no pé-de-jurema, desgraçado!

Naufragados novamente em profunda tristeza, ambos se foram. Ela para chorar na cama e ele no mato. Mas nenhum dos dois conseguiu dormir. A moça rolou na cama, sobre o lençol úmido das suas lágrimas, até que lhe viessem chamar para o almoço. Não foi. À tarde, na hora da refeição também não quis sair do quarto, deixando a todos apavorados. Seu pai começou a preocupar-se, vendo que as mucamas não paravam de cochichar pelos cantos. Resolveu-se a sacudi-la. Entrou no quarto como um furacão para intimidá-la e foi querendo saber o porque daquele drama. Sabia o porque, também sentia muito pelo alazão, sabia o valor que tinha, mas não queria perder também a filha. Sinhá estava desolada e não apenas pelo seu Trovão. As horas lentas da madrugada lhe convenceram de que havia sido injusta com o Sereno. Estava agora claro que quisera apenas poupar o animal de mais sofrimento. Não podia carregá-lo nas costas e com certeza não quis que o alazão assistisse a desgraçada da onça comer-lhe as carnes ainda vivas. Ela estava soterrada de remorso e com muito jeito fez o velho concordar em mandar buscá-lo. Assim também concordou em levantar-se para se banhar e voltar à vida normalmente.

Alguns dias depois estava novamente sentada no alpendre, mas dessa vez assistiu a obra da natureza que se comprazia em dispor da sua atenção. O dia terminou. Escureceu por completo. Ela se lembrou da noite em que se assustou com Sereno. Dessa vez queria imensamente que ele lhe trouxesse a candeia. Havia preparado algumas palavras para lhe pedir que perdoasse a grosseria. Ninguém lhe dissera uma palavra durante esses dias, tinha a impressão cada vez mais densa de que não lhe queriam falar a respeito. Uma luz veio de dentro, mas pelo andar sem botas não poderia ser Sereno. Era uma mucama, que foi dispensada. Sinhá só queria a luz do velho caboclo, como naquela noite. Agora queria gostar dele, da sua sabedoria e da sua paz. A lua começou a aflorar, derramando seu prateado pelas colinas que pareciam abraçar em segurança a mansão. De repente, algo mexia nas folhas do pé-de-jurema-branca, que pareciam lhe acenar variando o reflexo do luar. Então, para sua imensa surpresa ouviu com nitidez o canto mavioso de um sabiá... Mas como? Sabiá cantando há essa hora? Não pode ser... Não queria aceitar o que seu próprio silêncio lhe dizia, lutava contra com todas as suas forças... Então ouviu de novo, logo ouviu outra vez e de novo tornou a ouvir... As defesas que havia erguido em si própria foram ruindo a cada canto, como se fossem rojões de poderosos canhões. Até que não pode mais sustentar a certeza que preferia. O sabiá só podia estar feliz. Tão feliz que nem se importava com a noite, não queria esperar o amanhecer! Se quisesse vê-lo sempre feliz, devia afastar a tristeza. Libertá-lo do próprio peito para que fosse completamente livre, para que cantasse onde quisesse e quando quisesse. Seu canto não era triste como o de outros, mas vigoroso e doce como o de uma flauta da natureza. A mucama voltou com um semblante pávido, mas quedou-se quando à luz da candeia viu que o de sua Sinhazinha sorria para a lua, já em seu esplendor. A mucama lhe disse: Sinhazinha, o seu pai mandou meu irmão e me primo buscar o Sereno... Mas eles não querem falar, estão com medo. Medo de que? Diga logo... Não fica brava comigo não Sinhazinha... Fala de uma vez, mulher... É que a onça pegou o Sereno também, Sinhazinha...

Completamente perplexa, a mucama ouviu a Sinhá lhe dizer com doçura: Não fique assim tão triste. Há essa hora ele deve estar bem assobiando por aí... Por onde, Sinhazinha?... Pela natureza, pelo céu, pelo rio grande, ou se lavando nas ondas do mar... A pobre mucama não conseguia atinar com aquelas palavras surpreendentes e Sinhá completou: Anda, pode deixar a candeia na arandela e vá pra dentro. Se precisar eu lhe chamo, agora vá. Quando mais tarde seu pai veio lhe buscar para dentro, aliviado pelas falas da mucama, encontrou-a bem disposta, quase feliz para aquelas circunstâncias. Sinhá aproveitara o tempo para fazer uma prece emocionada, repleta de gratidão e amizade, pela alma do velho Sereno. Durante toda vida estivera bem ali e nem o havia notado. Mas havia sido de grande valia justo no momento que mais precisou. Se estava feliz a ponto de assobiar no galho do pé-de-jurema àquelas horas, então deviam estar todos felizes: O Sereno, sua pobre mãe e também o Trovão. Não, não queria mais pensar em tristezas. Foi quando seu orgulhoso pai, sentindo necessidade de participar daquele momento lhe disse: Deixe estar, querida... Aquela maldita onça não irá longe... Eu me encarregarei disso pessoalmente.

Lou Poulit
Direitos Exclusivos do Autor

Foto de PETERPAN

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Tudo o que escrevo tem uma razão
um sentido
não que eu seja
ou pretenda ser
o personagem principal
escrevo por necessidade
não para relatar uma história
mas para entrar subtilmente
e fazer brotar sentimentos
em cachoeira
para fazer florir as palavras
até ficar sem elas

Sabes
não sei pensar a propósito
mas sei partilhar
sei dar a conhecer
gostaria de conseguir escrever tudo
numa só história
num só texto
num só poema
numa só frase
numa palavra
numa sílaba
numa letra, apenas
mas não consigo
por isso o faço em várias etapas
de uma só prova
a vida

Faço, no entanto
parte delas
e vice-versa
os poemas e eu
são uma única história
uma só pessoa
um só nome
quem me conhecer, entenderá
quem os ler
me conhecerá
como vivo a vida
como escrevo nas veias
nas linhas
e nas entrelinhas
como sou linear
como procuro ser sucinto
basta ler e sentir
estar vivo
fechar os olhos
e ver

Abeirar da janela
num dia de chuva
vislumbrar o Sol
tremer de frio
e aquecer nas palavras
olhar no fundo dos olhos
chorar de alegria
por se estar vivo e lutar
amar por ser necessário
abrir o espírito
para poder respirar
chorar de felicidade
para sentir como é único poder viver
como é humano sentir dor,
alegria, arrepio
privilégio fazer parte da vida
fazer parte de uma história
termos tudo
sem possuirmos nada
e sentirmo-nos completos

PETERPAN

Foto de Nina Marina

Este meu coração!

Como posso recuperar esse amor?
Como entender a tristeza do meu coração?
Como enganar tanta dor e tanta solidão?
Como explico a minha alma que tudo acabou?
Sinto sua respiração correndo em minhas veias...
Te vejo em meus sonhos...
Estou me vendo louca por vc!
Estou morrendo sem vc!
Este meu coração que você roubou
enquanto eu te amava,
com meus versos e meus sonhos,
não quer voltar para mim...
Este meu coração está batendo cada vez mais lento
e sinto aqui dentro
que esse amor não acabou...

Foto de fer.car

O que sou

O que sou senão esta porta aberta ao vazio
Ao destino que eu mesma traçara de forma estúpida
O que sou senão este silêncio pausado no meio de meus anseios
Esta dor incessante diante da ausência que um homem me causou
Que temor tenho do amanhã , da perda daqueles que tanto amo
O que sou senão a busca constante pela tão almejada felicidade
A ama calejada, dolorida, mas cheia de vida para viver
O que sou senão a ira diante da mediocridade destas pessoas cegas
Que não conseguem ver o mal que causam com sua indiferença
Indiferença de ações , de palavras, de amor
O mundo precisa de mais compaixão, de mais abraços e calor
O que sou senão o sangue fresco a correr entre as veias que pulsam por vida
O amor mais pleno e intenso à procura de minha metade, força que me mantém
O que sou senão a parte de uma história atrás do perdido, recuperando o que não existe mais
O amargo fel de línguas ferinas, e aqui distribuindo a mão e erguendo pessoas da escuridão
O que sou senão a esperança dos olhos de uma criança, o choro puro de um bebê
O que sou senão parte de você que me desprezou um dia e me disse adeus
E hoje sofro por saber que tentei de todas as formas arrancar este sentimento
E quedo-me na mesma posição, em seus dias sou como uma passagem
O que sou senão a fúria atrás de minha justiça própria
Teimo em dizer verdades quase que tão cortantes
E firo fundo meus adversos amigos
Quem sabe inimigos sabem o poder de minhas palavras
Não aceito o errado, o mau caráter, e a falta de fé
O que sou senão a luz no fim do túnel
Buscando o brilho , a paz, a vida de dias
A inquietudade de passos atrás de sonhos
O amor que renasce a cada amanhecer
O vida que teima em explodir quando meus olhos se encontram com os seus
O que sou senão o retrato de um ser que amou, que chorou, que acreditou
Que nada foi em vão
nada será em vão
Por isso sou o que sou
Um alguém que ainda acredita....

Foto de fer.car

ESCREVER UM POEMA

Escrever um poema é uma arte de poucos
É uma dor latente, que pulsa em minhas veias
Uma saudade constante que tortura a alma
Uma alegria festejada ou uma lágrima que escorre em minha face
Escrever um poema é como falar de si mesmo
Abrir o coração para um mundo de sentimentos
Tornar-se escravo de descrever situações, erros e acertos
Poeta é ser triste, que sofre e ama
Por vezes cruel, frio e desumano
Escrever é como despir-se de seus mais profundos segredos
Transcrever aquilo que não pode ser dito e explode num momento de fúria
Escrever um poema é escrever com lágrimas nos olhos
Falar da linguagem do amor, daquilo que mais tenta se esquecer e não consegue
Escrever é uma magia constante nos olhos de um sonhador
É calar a pessoa amada com declarações de amor regadas de intensidade
Escrever um poema é algo complexo
Toca aqueles sensíveis de coração, puros da alma
E até o mais frio do ser humando não resiste a um poema feito com algo mais...
Escrever um poema é como deixar o orgulho de lado, abrir-se aos outros, ao mundo
falar coisas que sequer poderia imaginar que estavam lá dentro do peito marcadas
É acreditar, sonhar com algo melhor, pensar que nada é em vão
Ser poeta é ser triste e ser alegre
é dizer das inconstâncias da vida, de suas peças e suas passagens
falar de pessoas, de momentos, de saudades
Escrever um poema é escrever palavras de sangue
Tiradas da alma
De dentro de si

Foto de Anjinhainlove

Sorrir

Antigamente, sabias sorrir.
Sabias ver a beleza numa pessoa a bocejar.
Agradecias cada dia que passava
Como uma oportunidade única de viver.
Comtemplavas o cair de uma folha
Envelhecida pelas rugas do Outono.
Sentias cada palavra das músicas que ouvias,
A poesia era o teu sangue.
Paravas a meio do caminho
Para abraçar aquele cão vadio
Abandonado e ferido
E com uma lágrima no canto do olho.
Corrias para casa a chorar
Sempre que um mendigo vias.
Antigamente, amavas sempre que te pediam.
Ouvias o coração e calavas a razão.
Aceitavas cada amor
Como sendo eterno.
Antigamente, eras feliz.
Agora, és água derramada
No frio asfalto negro da noite.
És a sombra perdida que vagueia
Em busca do caminho correcto.
Corre-te a dor nas veias,
No teu coração permanecem as vozes
De quem te abandonou,
Enganou,
À tua alma MATOU.
Antigamente, sabias sorrir.

Peço desculpa aos meus caros poetas do site pela minha ausência, mas como já disse, estive a meio de mudanças, entre outras coisas e não tenho estado muito a par das novidades, mas espero ainda ter aqui um pequeno lugarzinho!

Foto de Carlos Danilo

Sem título ainda

O amor se alojou nas víceras sem licença
Que contaminou o sangue das minhas veias
Que entorpeceram os sentidos
Mas o que sobrou de lucidez
Acendeu a luz da busca
Se não enxerga,ofusca
Coragem de olhar para os demônios
Brilho de sobrevivência perdida
Bálsamo de alívio,mistura de dor e partida

Foto de InSaNnA

Suave

Com a tua cabeça no meu colo,
um convite ao (meu )prazer,
o caminho curto,sem desvios,
A ânsia para enlouquecer..
o meu calor queima
a tua língua...
A tua gula se perde
entre paredes úmidas,
dos meus lábios tímidos,
Clamo a eternidade !
O sangue vermelho ,pulsa
em nas minhas veias,
ritmando com os meus gemidos..
Liberando a minha alma encarcerada,
flutuo em seus braços..
a vida pàra por alguns minutos,
toco as estrelas, que brilham de dia,
para comemorar a minha chegada...

***************************************************************************Beijos Beijos,meus adoráveis poetas....

Foto de redberet

vem-te a mim

Amor ,
esquece o passado ,e o que vai la fora , quero te so para mim , ter te em meus braços fortes em meu peito musculado mas sensivel e fragil por não te ter , deixa me sentir tua pele na minha boca , quero o sabor de tua saliva na minha lingua , o cheiro dos teus cabelos envolto na minha almofada , suar contigo , esfregarme em ti delicadamente ,apertar-te em mim e te encaixar para nos tornarmos um , fazer-te voar ...anda mostra me como te mexes , faz de mim teu brinquedo , agarra-me ,grita , salta , explode de prazer e sente-me esvaziar-me dentro de ti em contrações dignas de se sentir....minha veias a inchar ,meu corpo a definir cada expressão de pazer até tremer de relaxe e adormecer em teu peito suado e salgado ...cujo coração se faz sentir a ribombar de cansaço....
anda vem-te a mim....

Foto de Fernando Poeta

Desespero

Lutava contra a loucura daquele ato,
Tentava dilacerar meu corpo
com minhas próprias mãos,
Estava em desespero.

Ainda sentia teu cheiro,
Você me deixou,
Por teu descaso,
Fiz marcas em meu rosto,
Por teu escárnio,
Meus cabelos embranqueceram,
Por tua frieza,
O sangue gelou em minhas veias,
Você me abandonou...

Amaldiçoando o sorriso em teu rosto,
Tentei afastar da mente,
A lembranca de teu corpo.
Em que mil e uma vezes
procurei amor e abrigo,
Em que sempre que o desnudei,
Descobri-me perdido.

Tua malícia corrompeu teu coração,
Você foi embora,
Estou só agora,
Lutando contra o desespero,
Desejando tê-la de volta.

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