Testamento

Foto de Rozeli Mesquita - Sensualle

Parabéns à voce ( pra mim) - 45 anos - 2ª metade da minha vida

Resolvi me presentear com esse texto(humor), cantando Parabéns à voce (pra mim, rssss)

Pensei procurar um cirurgião plástico
Dar um jeitinho na barriga
E nas rugas aparentes...
Melhorar o sorriso e clarear os dentes

Pensei procurar um analista
Pra questionar minha existencia
Me fazer entender os “porquês”e
Procurar resposta na ciencia

Pensei procurar um advogado
Pra tratar do meu testamento
Não deixar para que os outros
Se preocupem com esses documentos

Pensei em procurar um famoso cabelereiro
Dar uma novo look no visual
Um estilista competente
Novo estilo, mais casual

Mas nada disso eu fiz
Nada disso agora vou fazer
Sou muito mais que isso
Sou toda a essência de um ser

Esqueci o cirurgião,
O analista nem procurei
Mudei sim os cabelos:
Eu mesma me decorei

Na segunda metade da minha vida
Muitas coisas vou fazer
Sei bem o que quero
“ Quero intensamente viver”

O melhor presente do mundo é ter vontade de viver. Isso eu tenho sobrando (15/10/2008)-

Foto de Carmen Lúcia

A acompanhante

(texto inspirado no conto “O enfermeiro”, de Machado de Assis, em homenagem ao centenário de sua morte.)

Lembranças me vêm à mente. Ano de 1968. Meus pais já haviam falecido e me restara apenas uma irmã, Ana.
Foi preciso parar com meus estudos, 3º ano do Magistério, para prestar serviços de babá, a fim de sobrevivência.
Morava em Queluz, cidade pequena, no estado de São Paulo, quando, ao chegar do trabalho, bastante cansada, recebi a carta de uma amiga, Beth, que morava em Caçapava, para ser acompanhante de uma senhora idosa, muito doente. A viúva Cândida. O salário era bom.
Ficaria lá por uns bons tempos, guardaria o dinheiro, só gastando no que fosse extremamente necessário.Depois, voltaria para minha cidade e poderia viver tranqüilamente, com minha irmã.
Não pensei duas vezes. Arrumei a mala, colocando nela o pouco de roupa que possuía e me despedi de Ana.
Peguei o trem de aço na estação e cheguei ao meu destino no prazo de uma hora, mais ou menos.
Lá chegando, fui ter com minha amiga Beth, que morava perto da Praça da Bandeira e estudava numa escola grande, próxima de sua casa. Ela me relatou dados mais detalhados sobre a viúva, que, não fosse pela grande dificuldade financeira que atravessava, eu teria desistido na mesma hora.
Soube que dezenas de pessoas trabalharam para ela, mas não conseguiram ficar nem uma semana, devido aos maus tratos e péssimo gênio da Sra Cândida.
Procurei refletir e atribuir tudo isso a sua saúde debilitada, devido às várias moléstias que a acometiam.
Os médicos previram-lhe pouco tempo de vida. Seu coração batia muito fraco e além disso, tinha esclerose, artrite, bicos-de-papagaio que a impossibilitavam de andar e outras afecções mais leves.
Depois de várias recomendações de paciência, espírito de caridade, solidariedade por parte de minha amiga e seus familiares, chamei um táxi e fui para a fazenda, onde morava a viúva, na estrada de Caçapava Velha.
A casa era de estilo colonial e lembrava o passado, de coronéis e escravos.
Ela me esperava, numa cadeira de rodas, na varanda enorme e mal cuidada, onde vasos de plantas sucumbiam por falta de água.
Percebi a solidão em que vivia, pois apenas uma empregada doméstica, já velha e com aspecto de cansada, a acompanhava.
Apresentei-me:-Alice de Moura, às suas ordens!Gostou de mim.Pareceu-me!
Por alguns dias vivemos um mar de rosas.Contou-me de outras acompanhantes que dormiam, não lhe davam seus remédios e que a roubavam.
Procurei tratá-la com muito carinho e ouvia atentamente suas histórias.
Porém, pouco durou essa amistosa convivência. Na segunda semana de minha estadia lá, passei a pertencer à lista de minhas precursoras.
Maltratava-me, injuriava-me, não me deixava dormir, comparando-me às outras serviçais.Procurei não me exaltar, devido a sua idade e doença.Ficaria ali por mais algum tempo. Sujeitei-me a isso pela necessidade de conseguir algum dinheiro.
Mas, a Sra Cândida, mesmo sendo totalmente dependente, não se compadecia de ninguém.Era má, sádica, comprazia-se com a humilhação e sofrimento alheios.
Já me havia atirado objetos, bengala, talheres, enfeites da casa.Alguns me feriram, mas a dor maior estava em minh’alma.Chorava, às escondidas, para não ver a satisfação esboçada em seu rosto e amargurava o dia em que pusera os pés naquela casa.
Passaram-se quatro meses.Eu estava exausta, tanto fisicamente, quanto emocionalmente.Resolvi que voltaria à Queluz.Só esperaria a próxima rabugisse dela.Foi quando, de sua cadeira de rodas, ela atirou-me fortemente a bengala, sem razão alguma, pelo simples prazer de satisfazer seu sadismo.
Então eu explodi. Revidei, com mais força ainda.Mantive-me estática, por alguns minutos, procurando equilibrar minhas fortes emoções e recuperar a razão.
Foi quando levei o maior susto de minha vida. Deparei-me com a viúva, debruçada sobre suas pernas e uma secreção leitosa escorrendo de sua boca.Estava imóvel.
Já havia visto essa cena, quando meu pai morrera de ataque cardíaco.
Aos poucos, fui chegando mais perto, até que com um esforço sobre-humano, consegui colocá-la sentada na cadeira e com o xale que havia caído ao chão, esconder o hematoma no pescoço, causado pela minha bengalada.
Pronto!Tornara-me uma assassina!Como fui capaz de tal ato?
Bem, fora uma reação repentina, em minha legítima defesa.Ou quem sabe, a morte tenha sido uma coincidência, justamente no momento em que revidei ao golpe da bengala.
Comecei a gritar e a velha empregada apareceu. Ajudou-me a levar o corpo até o quarto.Chamei Dr. Guedinho, médico da Sra Cândida e padre Monteiro, que lhe deu extrema unção.
Pelo que percebi, o médico achou que ela fora vítima de seu coração, um ataque fulminante.E eu tentei acreditar que teria sido mesmo, para aliviar a minha culpa.
Após os funerais, missa de corpo presente na igreja Matriz de São João Batista, recebi os abraços de algumas poucas pessoas que lá estavam, ouvindo os comentários:
-Agora você está livre!Cândida era uma serpente!Nem sei como agüentou tanto tempo!Você foi a única!
E, para disfarçar minha culpa, eu retrucava:
-Era por causa da doença!Que Deus a tenha!Que ela descanse em paz!
Esperei o mesmo trem que me trouxera à Caçapava e embarquei para minha cidade.Aquelas últimas cenas não saíam de minha mente. Perseguiam-me dia e noite.
Os dias foram se passando e o sentimento de culpa aumentando.
-Uma carta para você!gritara minha irmã.-E é de Caçapava!
Senti um calafrio dos pés à cabeça. Peguei a carta e fui lê-la trancada em meu quarto.
Que ironia do destino!Eu era a herdeira universal da fortuna da viúva Cândida!Logo eu, que lhe antecipara a morte.Ou teria sido coincidência?
Pensei em recusar, mas esse fato poderia levantar suspeita.
Voltei para Caçapava e fui ter com o tabelião, que leu para mim o testamento, longo e cansativo.
Realmente, era eu, Alice de Moura, a única herdeira.Após cumprir algumas obrigações do inventário, tomei posse da herança, à qual já havia traçado um destino.
Doaria a instituições de caridade, às igrejas, aos pobres e assim iria me livrando, aos poucos, do fardo que pesava em minha consciência.
Cheguei a doar um pouco do dinheiro, mas, comecei a não me achar tão culpada assim e passei a usá-lo em meu benefício próprio. Enfim, coincidência ou não, a velha iria morrer logo mesmo e quem sabe se era naquele momento.
Ainda tive um último gesto de compaixão à morta:Mandei fazer-lhe uma sepultura de mármore, digna de uma pessoa do bem.
Peço a quem ler essa história, que após a minha morte, que é inevitável para todos, deixem incrustada em meu epitáfio, essa emenda que fiz, no sermão da montanha:
_”Bem aventurados os herdeiros universais, pois eles serão respeitados e consolados!”

(Carmen Lúcia)

Foto de KarlaBardanza

5 Concurso Literário.Título: O TESTAMENTO DA DOR

Que se faça saber
que este presente documento
é o testamento da dor.
Lavrado na lágrima do vento
e na maciez da pétala da flor.
Que fique registrado
que deixo meu maior bem
a quem nunca me partilhou.
Pedaços de mim comprovam
a ilusão de quem só amou.
E quem por mim fala
é a minha própria arte.
Que seja ela estandarte
dessa herança firmada
no tempo da escuridão,
nos autos do meu coração.
Que a minha vontade seja
ouvida e respeitada e
por assim ser deixo
meus antigos poemas ao seu dispor.
Mas,saíba amor,tudo se acabou.
Sacramento por meio deste
que não mais terás a mim,
a minha nova poesia tampouco
o meu nobre jardim.
Que fique ratificado que não
mais quero tua falsa diplomacia
e o teu silêncio atroz.
Que mesmo amando-te
não penso mais em "nós".
Diante do ora exposto,
deverá minha vontade ser assegurada,
pois sei que nunca terás o que te dei.
E por assim ser,deixo para você,
um pedaço do meu prazer.
Que seja cumprido o testamento da dor.
Que seja esquecido o passado.
Que seja apagado este amor.
N.termos
P.e.e. deferimento
Karla Bardanza

Foto de carlosmustang

"O MEU ULTIMO POEMA"

Não é testamento
Nem tão pouco lamento!
Nem mesmo medo...
Mas muita coragem...

Satisfazendo-se com pequenas firúlas
Viajando no escuro
Sem ao menos ler a bula
Do remédio de enjôo!!!

E o que eu queria fazer!
Escrever...escrever...
Um poema simples,
E fazer-se compreender-me!!!

Sem sentido...até sem palavras!
Jogadas ao vento, no fosso de uma vala.
No ultimo poema...
A tristeza esvala...

Que feliz estou!!!
Menos carregado!
Com meu primeiro
Mas ultimo poema...

Foto de Osmar Fernandes

Quem acordou Deus?

Quem acordou Deus?

- Quem acordou Deus?
Foi a rebelião de Lúcifer?
Foi a criação da vida vegetal e animal?
Foi a criação do homem e da mulher?
Foi a descoberta sobre o bem e o mal?
Foi o cerco de querubins ao redor do Jardim do Éden?
Foi o segredo do caminho da árvore da vida?
Ou foi a mordida da maçã – o fruto do pecado?

- Quem acordou Deus?
Foi Caim, o inventor da morte?
Foi o castigado setenta vezes sete?
Foi a idade de Matusalém?
Foi Enoque, que para Si o tomou?
Foi a corrupção dos homens de fama?
Foi o dilúvio – o fim do primeiro mundo?
Ou foi o pacto feito com Noé?

- Quem acordou Deus?
Foi a confusão das línguas na Torre de Babel?
Foi a promessa feita a Abraão?
Foi a destruição de Sodoma e Gomorra?
Foi a mulher convertida em estátua de sal?
Foi o incesto arquitetado pelas filhas de Ló?
Foi o nascimento, vida e morte de Isaque?
Ou foi a fé de Abraão?

- Quem acordou Deus?
Foi Esaú e Jacó?
Foi José – o interpretador de sonhos?
Foi ter ficado face a face com Moisés?
Foi a teima do Faraó do Egito?
Foi o êxodo pelo meio do mar em seco?
Foi o juramento de guerra declarado a Amaleque?
Ou foi a resposta a Moisés: “EU SOU O QUE SOU!”

- Quem acordou Deus?
Foi a lei do dízimo para a obra do Senhor?
Foi a crença do povo em Zeus?
Foi a lei sobre o que deve ou não comer?
Foi a lei acerca da união dos abomináveis?
Foi o reinado do rei Davi e do rei Salomão?
Foi Isaias, o escolhido e consagrado profeta?
Ou foi a virtude, a fé e a paciência de Jó?

- Quem acordou Deus?
Foi a reencarnação de Elias proclamado por Cristo?
Foi a morte horrenda de João, o Batista?
Foi a pregação do Novo Testamento?
Foi a incredulidade de Tomé?
Foi a contagem do tempo segundo Pedro?
Foi a revelação do apocalipse?
Ou foi o apontamento do homem de número 666?

- Quem acordou Deus?
Foi a grande explosão?
Foi a teoria da origem do Universo?
Foi a teoria de que o homem descende do macaco?
Foi o período da fase glacial? O fim dos dinossauros?
Foi a mudança de hábito do homem nômade?
Foi a descoberta do fogo, da roda e da escrita?
Ou foi a relação econômica, política, social e religiosa?

- Quem acordou Deus?
Foi a Revolução Industrial?
Foi o poder do tribunal da Inquisição?
Foi a destruição de Hiroshima e Nagazaki?
Foi a venda de indulgências da Igreja Católica?
Foi a corrida espacial?
Foi a invenção de armas químicas, biológicas e nucleares?
Ou foi o protestantismo de Martinho Lutero?

- Quem acordou Deus?
Foi o holocausto de Hitler?
Foi o misterioso silêncio do Vaticano?
Foi o engano profético de Nostradamus?
Foi a ousadia de Osama Bin Laden?
Foi a guerra Santa do Terceiro Milênio?
Foi o buraco na camada de ozônio?
Ou foi o poder bélico norte-americano?

- Quem acordou Deus?
Foi a miséria espiritual e mental do homem?
Foi a invenção da pílula, da camisinha, do motel?
Foi o bebê de proveta? A barriga de aluguel?
Foi a descoberta do mapa da vida – o genoma?
Foi a invenção cibernética? O implante do coração?
Foi o e-mail, a internet, a transa virtual? A solidão?
Ou foi o clone, essa imitação do “deus” ateu?

- Afinal, quem acordou Deus?

Foto de solidão

Ódio

Durante muito tempo eu construí uma história em cima de um castelo destruído
E pra fugir dessa realidade dura eu já encontrei mais de mil motivos
Agora essas palavras de pessoas santas parecem música nos meus ouvidos
Já que ficou quase insuportável ouvir a voz dos meus olhos aflitos

De tanto chorar depois que a festa acabar
Se eu não me matar, talvez eu peça ajuda para voltar
De um lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar

Olhei ao meu redor para reconstruir meu castelo caído
Pra viver de bons momentos sem ter que ter os olhos escondidos
Ja fiz até um testamento que não tem nada, nada, nada escrito
Já que a minha maior herança é a que eu vou levar comigo

Pra evoluir, depois que o terror passar
Se eu não suportar talvez eu peça ajuda pra voltar
De um lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar

Esse meu ódio é...
Meu ódio é...
O veneno que eu tomo querendo que o outro morra

Foto de Carlos Magno

Eu e você

Eu sou a sombra, você escuro
eu sou a seca, você dilúvio
eu sou feriado, você rotina
eu sou estrada, você esquina
eu sou a razão, você certeza
eu viro o joga, você vira a mesa.

Eu sou o tempo, você horizonte
eu sou o futuro, você o adiante
eu sou o vento, você a brisa
eu sou a derrota, você a conquista
eu sou o rascunho, você beleza
eu sou o pecado, você a pureza.

Eu sou fúria, você paciência
eu sou a saída, você permanência
eu sou algazarra, você silêncio
eu sou a lágrima, você o lenço
eu sou o inferno, você o fogo
eu sou o céu, você o gozo.

Eu sou poesia, você rima
eu sou seu, você é minha
eu sou o espelho, você o reflexo
eu sou o rumo, você o inverso
eu sou louco, você perspicaz
eu levo a gerra, você traz a paz.

Eu sou o amor, você o sexo
eu sou côncavo, você convexo
eu sou ilusão, você miragem
eu sou mentira, você verdade
eu sou a droga, você o vício
eu sou a morte, você o início.

Eu sou o pensamento, você raciocínio
eu sou a liberdade, você o domínio
Eu sou calor, você temperatura
eu sou temperamento, você a loucura
eu sou Adão, você é Eva
eu já fui, você já era

Eu sou a palavra, você oração
eu sou a calma, você preciptação
eu sou o espírito, você alma
eu sou o corte, você espada
eu sou igreja, você cemitério
eu sou segredo, você mistério.

Eu sou alegria, você sorriso
eu sou a sobra, você resquício
eu sou ingênuo, você tentação
eu sou o delírio, você o tesão
eu sou puro, você mistura
eu sou vários, você única

Eu sou a cura, você o remédio
eu sou o estresse, você o tédio
eu sou abstrato, você concreto
eu sou sertão, você deserto
eu sou fera, você bela
eu sou eu, você é ela

Eu sou medalha, você troféu
eu sou ator, você o papel
eu sou êfemero, você perecível
eu sou transparente, você invisível
eu sou a carta, você testamento
eu digo na lata, você em pensamento

Eu sou o ás, você a rainha
eu estou na sua, você está na minha
eu sou o beijo, você a boca
eu sou o outro, você é a outra
eu sou o pecado, você o perdão
eu sou real, você ilusão

Somos dois: eu e você
Somos opostos, duas metades
sou o que te completa,
você o que me faz falta.
Eu sou o teu homem,
você minha inspiração...

Foto de choicePT

Carta Suicida

Lidar com a dor sentida
Entregar a vida ao acaso
Jogar com as probabilidades da vida
Esperando o ultimo arraso

E peço ao agente do meu criador
Aquele da minha liberdade de vida condicional
Que nao chore essa dor
Do meu estado emocional

Não tenho testamento de vida
Pois nao quero que ninguem carregue
Essa amostra de liberdade perdida
Que por mim não será entregue

Não lamento o meu passado duro
Sei que nao chegaria a minha sorte
Resta-me entregar á unica certeza do futuro
A tal certeza que todos chamam morte!

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