Eis de que é feito o canto sinfónico do amor
Há o canto do amor de outrora
O ruído dos beijos perdidos dos amantes ilustres
Os gritos de amor das mortais violadas pelos deuses
As virilidades dos heróis fabulosos erguidas como peças antiaéreas
O uivo precioso de Jasão
O canto mortal do cisne
O hino vitorioso que os primeiros raios de sol fizeram cantar a Mémnon o imóvel)
Há o grito das Sabinas ao serem raptadas
Há ainda os gritos de amor dos felinos nas selvas
O rumor surdo da seiva trepando pelas plantas
O troçar das artilharias que coroa o terrível amor dos povos
As ondas do mar onde nasce a vida e a beleza
O canto de todo o amor do mundo
Guillaume Apollinaire (1880-1918)