Realidade

Foto de giogomes

O Tigre e a Rosa XXV - Fingindo viver

Os dias iam passando,
o mundo normalmente caminhando.

O Tigre e a Rosa seguiam contentes,
esquecendo que a vida seguia em frente.

Passando o tempo galopante.
Tirando deles, instante após instante.

Eram tempos de paz e alegria,
tudo isso em sincera demasia.

O amor de ambos se fortalecia,
a cada pôr-do-sol que se via.

O Tigre nunca mais abandonaria sua Rosa.
Sua bela flor, perfumada e majestosa.

Sua paixão o fazia esquecer,
tudo o que estava para acontecer.

A verdadeira realidade,
era muito mais cruel que a doce saudade.

Sentia a falta de sua flor,
nos momentos solitários a se expor.

Esqueceu que estava com a sua Responsabilidade
e a Rosa com o Jardineiro, contra a sua vontade.

Por enquanto isto não importava.
Interessava apenas o quanto a amava.

Com a aproximação do casamento da Rosa
a realidade se colocava em prova.

Como ficaria este amor,
sem que nenhum dos dois tivesse que se expor ?

A vida simplesmente, mostraria o que está por vir.
Cobraria por algo que não poderia existir.

O Tigre iria então descrever,
o que é uma vida que se finge viver.

Foto de giogomes

A Rosa e o Tigre XXIV - Semente

A bela Rosa suspirava,
toda vez que se lembrava.

Doces e amorosos momentos,
puro se brilhantes sentimentos.

Recordava constantemente,
de suas palavras doces e complacentes.

Conversava abertamente,
sobre ela e sua semente.

O momento crucial,
foi sobre o enlace matrimonial.

O Tigre disse que era o normal:
Tigre: "- O Jardineiro terá que assumir um compromisso real !"

Disse que com a Rosa se importava:
Tigre: "- Nunca mais brigarei com você por nada !"

Continuaram a conversar,
sobre tudo o que tinha que preparar.

Tudo o que poderia esperar
e os empecilhos a enfrentar.

Após um pouco de empolgação,
nessa inusitada situação.

O Tigre pensou o quê era isto ?
Tigre: "- Não acredito que estamos conversando sobre isso !"

A Rosa disse que na verdade,
ambos deviam estar decidindo juntos esta realidade.

Passado o estranho incidente,
voltaram a conversar sobre sua semente.

O quanto estava contente,
de uma vida brotar dela simplesmente.

A Rosa e o Tigre viveriam momentos,
de alegria e carinho sem quaisquer tormentos.

Foto de Diario de uma bruxa

ADORO FANTASIAR "Mundo de sonhos"

Condenada a um mundo de sonhos
A realidade já não faz mais sentido
Passo horas a viajar
Mergulho no mais profundo da minha mente
Lá me recolho me perco

Não tenho hora pra voltar
Nem quero voltar
Lá eu amo e sou amada
Quero e sou querida
Tenho tudo que desejo nesta vida

Sou mulher, sou amante sou namorada
Posso voar mergulhar
Amar e amar
Não preciso de mais nada

Crio minha própria historia
Não sofro não choro
Ao menos se for de alegria

Passo momentos únicos
Vividos por mim
Somente por mim.

Parece loucura
Pode-se dizer que sim

Viver fora da realidade
Não é normal
Mas nem todo mundo pode entrar neste mundo

Você tem que acreditar
E querer estar lá

Não viaje pela metade
Se entregue por inteiro
Senão sua vida pode se tornar
Um grande pesadelo.

Poema as Bruxas

Foto de giogomes

A Rosa e o Tigre XXIII - Tigre

Alegria, alegria e alegria.
Era tudo o que a Rosa sentia.

Afinal o seu Tigre estava de volta.
Nada de tristeza e nem revolta.

Mesmo escolhendo a outro, ainda o amava.
O Tigre estando ao seu lado é o que importava.

Agora cuidaria de sua semente.
A protegeria, aqueceria e estaria sempre contente.

Sua felicidade foi completada,
quando o Tigre disse que a amava.

Tigre: “- Amarei esta semente mesmo quando florescer !”
“- Pois ela é um lindo pedaço de você !”

Tigre: “- Mesmo não sendo eu que está a seu lado,
o que eu sinto por você não pode ser mudado !”

Era tudo o que ela queria ouvir,
poderiam continuar e sorrir.

Mesmo que de uma maneira diferente,
uma nova realidade estava presente.

Não poderia esquecer, que quem estava ao seu lado,
era o Jardineiro e não o Tigre amado.

Foi sua opção.
Teria que aceitar a situação.

Não sabia o que a esperaria.
Se a volta do Tigre traria tristeza ou só alegria.

O importante é que estavam bem.
Que o agora fosse algo que se mantém.

Não pensaria nisso naquela hora,
tinham muito o que conversar sem demora.

Esperava que esta felicidade,
pudesse acompanhá-la pela eternidade.

Foto de Carmen Lúcia

Amor Atemporal

Confesso que parei no tempo...
Apesar das marcas registradas
durante o longo das estradas.
Ou ele me deixou pra trás,
correndo veloz demais...
Houve expressivas mudanças...
Por fora!
Por dentro continuo a mesma...
Antes e agora.

Às vezes me sinto idiota
nessa realidade ilusória.
Ser anormal, atemporal!
Felicidade irrisória...
Idiotice que me faz sorrir
pra quem me vê assim...
E de repente gargalhar
até chorar, de rir...De mim.

Ainda vivo meu primeiro amor!
Único!Outros eu já esqueci...
Com o mesmo ardor de adolescente,
a mesma paixão crescente...
Como se fosse hoje
o tempo em que me perdi.

Tantos anos se passaram...
Quantas águas rolaram
desde que ele se foi,
deixando terna saudade
que nunca deixo morrer...
Camuflo-a de cores vivas
e dela tento sobreviver.

Sua música ao piano...
No palco, minha dança,
ilusões por trás dos panos,
palavras de esperança,
gestos de amor,
beijos de batom na flor...
A doce entrega!
Emoção!
Vida a pulsar!
Coração!

Ainda danço. Sem pano vermelho...
Sem palco, sem aplausos...
Frente ao espelho!
Reverencio a mim mesma...
Revejo...Vibro com o que vejo!
Seu verde olhar
a me incitar...
E me ouso em passos inusitados
que mantenho guardados
para meus momentos calados...

E seu piano toca...E me toca,
ainda mais suave...
Mesmo em tom mais grave.
Notas musicais
irradiando claves de sol...
a solfejarem... me sussurrarem...
Trazendo-o bem junto a mim.
Amor sem fim!

Sou feliz desse jeito.
Insensata, mil defeitos...
A vida não é um tratado
e ninguém é perfeito.
Escuto minha alma
que tudo vê e pressente...
E revivo no presente
o grande amor do passado.

Carmen Lúcia

Foto de airamasor

Amor, Paixão, Desejo....

Fecho os olhos e me imagino em seus braços.
Meu corpo junto ao seu, vibra intensamente,
ao toque sutil das suas mãos.

Vejo a sua boca, a minha procurar
e não a deixo esperar.
Selo, com um beijo molhado,
esta busca gostosa, que me faz delirar.

Quero você junto a mim.
Sentir o seu cheiro e ver seu corpo inteiro
o meu também querer.
Meu peito colado ao seu,
sente o seu coração acelerado
que aumenta a cada carinho recebido,
pois minhas mãos, não consigo mais controlar.

Tudo é tão gostoso.
Até o toque de nossas bocas
em simples beijos, me faz arrepiar,
despertando ainda mais minha louca vontade
de poder te amar.

Em seu rosto, vejo a expressão do desejo.
Sinto suas mãos em meu corpo deslizar.
Todo o meu ser se estremece,
e deixa brotar ainda mais esta ânsia
de lhe pertencer.

Te desejo como nunca.
Queria seu corpo agora, para cobrí-lo de beijos.
Preciso de você, como jamais precisei de alguém.
Não sei mais viver sem o calor do seu corpo,
sem o toque das suas mãos e da sua boca,
que me diz coisas lindas
e a cada beijo, me enlouquece.

É Amor? ... É Paixão? ... É Desejo?
É tudo ...
Estou completamente embriagada por você.
Quero perder a razão
e só retornar a realidade quando, juntos,
explodirmos de prazer, Eu e Você.
Pois acredite Meu Amor,
Ninguém faz amor, como você.
(Aira, 07 de Março de 2011)

Foto de raqueleste

Carta de aniversário de casamento para o meu amado...

Por essa carta quero expressar todo o meu amor e minha gratidão.
Por essas palavras, vogais consoantes e silabas quero te falar do meu coração.
Que um dia se apaixonou pelo seu olhar, sua compreensão...

No dia que te conheci, não tinha como saber que seria somente eu e você.
Que seriamos um só, um todo, um casal, amigos, e namorados...

O tempo passou, e tudo foi acontecendo no seu ritmo.

Não compreendi de inicio, na verdade a vida nós surpreende...
Quando menos se espera as coisas acontecem...

Percebemos que tudo tem duplos significados, e que um simples olhar pode nós fazer se apaixonar ou se odiar, e que as palavras tem que ser pensadas e depois faladas. E que o silencio fala mais que mil palavras...

Percebemos que um carinho, não é só excitação, que às vezes abraçar, sentar junto conversar tomar um café ou até mesmo ler um livro juntos é algo muito prazeroso...

Descobrimos um mapa só nosso, do corpo, sentidos e da alma...

Que segredos são compartilhados, e desejos e fantasias são realizados...
Que quem ama vive em um mundo de faz de conta...
Mais também em uma realidade bonita, feita de dedicação ensinamentos e fé...

Percebemos que a beleza não está só por fora
E o que é mais bonito de tudo é o amor...
E mesmo sendo tão bonito, tão admirando entre as pessoas do mundo todo.
Não o encontramos em passarelas, ou se vangloriando...
Ao contrario ele fica guardado dentro do coração de cada pessoa.
Como o meu está guardado aqui dentro somente se mostrando para você

Aprendemos que uma flor deixa a casa mais bonita...
E que um bombom fica mais gostoso quando desfrutado entre um beijo e outro...
E também que quando amamos viramos crianças de novo...
Mais a cima de tudo, percebemos que dar e melhor que receber...

Receba então essas linhas simples mais cheia de amor e carinho que tenho em meu coração, como uma pequena amostra da minha admiração...
Te amo....

Foto de Carmen Lúcia

É Carnaval!

É Carnaval!
Demos espaço para a alegria.
Quem sabe toda essa utopia
caiba no coração de cada um
e se torne verdadeira,
ainda que até terça-feira.
A realidade do momento
fomenta o desejo de contracenar,
liberar o seu grito entalado,
e contagiar.

Que se cale toda a tristeza,
abram alas pra tanta beleza
onde os sonhos desfilam anseios
de um ano inteiro...
e o riso sofrido convence toda a multidão
que aplaude tal felicidade com empolgação,
onde o rito da autenticidade é encenação
e as cinzas da quarta encerram a grande ilusão.

_Carmen Lúcia_

Foto de giogomes

O Tigre e a Rosa XXI - Verdade

Após ouvir as palavras de seu novo amigo,
refletiu bastante sobre tudo isso.

Decidiu encontrá-la antes que fosse tarde.
Precisava saber de toda a verdade.

Ao chegar perto dela enfim,
observou-a em seu belo jardim.

Esperou para poder pronunciar:
Tigre: “- Não sei por onde começar !”

Disse à bela flor,
que sentia falta dela e do seu amor.

Perguntou o porquê de não lhe ter falado,
que para o Jardineiro tinha voltado.

Rosa: “- Tive medo de te falar a verdade,
não sabia como encararia a realidade !’

Rosa: “- Ia te contar, quando me disse que seu maior medo,
era que eu voltasse para as mãos do Jardineiro.”

O Tigre não entendia o que a teria levado,
para que ao maldito Jardineiro tivesse voltado.

Rosa: “- Todos os dias eu acordava
e via que ao meu lado não estava !”

Rosa: “- Quanto tempo isto duraria ?”
“- Teria que viver em eterna agonia ?”

Rosa: “- Você disse que se realmente me amasse,
teria se separado de sua Responsabilidade !”

Rosa: “- A partir desse momento percebi,
que deveria realmente pensar em mim !’

Rosa: “- Tinha o direito de escolher meu caminho !"
"- Ter minha família, o meu ninho !”

Rosa: “- Isso tudo quem me ensinava,
era você quando me amava !”

Foto de MALENA41

O ÚLTIMO POR DO SOL ANTES DO ADEUS

Olhava meus dedos dos pés e chorava. Chorava por ele, por ele que logo partiria.
As malas estavam prontas...
Era a última noite que dormiríamos sob o mesmo teto. Na mesma cama já estava fazendo alguns meses que não dormíamos.
Eu já passava dos quarenta e cinco, porém, me sentia tão imatura.
A borboleta amarela e o beija-flor vieram me visitar. A tarde devagarzinho morria. Como eu, como eu.
Eu poderia chorar, desfazer as malas, me esgoelar. Ele desistiria da partida se eu implorasse.
Mas ficar com alguém desta forma? Como se ele estivesse me fazendo um favor?

A franja me caía nos olhos e eu a afastava, molhava suas pontinhas com as lágrimas que ensopavam meu rosto. Esfregava a boca e assoava o nariz. O lenço de papel estava ensopado. Precisava pegar outro. No entanto entrar na casa àquela hora?
Queria vê-lo chegar. Queria. Queria falar com ele.
Sofrer mais um pouquinho? ─ Diria minha sábia mãe.
Esticava a perna e recolhia, esticava de novo. Ela estava adormecendo de tanto tempo que ficara sentada ali. Uma hora, duas. O telefone cansou de tocar, o celular também. Não atendi.
Devia ser algum chato. “Poderia ser até meus filhos – mas eles ligariam outra hora”. Ou minha mãe. Ela também ligaria depois e faria milhares de perguntas. Sabia que não estávamos bem e estranharia meu silêncio. Conhecia meus hábitos e sabia que eu estava sempre em casa no final da tarde.
E se fosse ele? Ele não ligaria. Terminamos tudo e ele estava apenas aguardando que terminassem uns detalhes de pintura na casa que alugara. Levaria tão pouco, o indispensável eu diria.
Havia me dito que partiria bem cedinho.
Não brigamos desta vez. Só escutei e foi como se uma montanha de gelo despencasse sobre minha cabeça.
Nos últimos dois anos discutimos tanto que tudo se esgotou. O carinho morreu.
Houve um tempo que o medo de perdê-lo era maior e aí eu tentava reconquistá-lo. Depois fui me sentindo tão vazia e via que tudo era inútil.
Ele dizia coisas que me feriam fundo. Será que tinha noção do que estava fazendo? Não sei.
Acabei por feri-lo também. Não entendia ainda que estava agindo de forma errada.
Cada carro que passava fazia meu coração disparar, pois pensava que era Augusto que estava chegando.
De onde estava podia ver o sol descendo lentamente na linha do horizonte. Tínhamos uma vista privilegiada.
Quando compramos a casa comentamos que ninguém no mundo tinha uma vista igual. Até nosso ocaso era diferente, porque éramos muito especiais e nosso amor era exclusividade.
Nunca que terminaria um romance destes, nunca.

Um menino gritou na rua e fez meu coração pular e pensar nos meus filhos pequenos. Que pena que cresceram! Era tão bom tê-los sob a barra da saia.
De repente me via pensando no poema de Gibran: Vossos filhos não são vossos filhos.
Claro que não. Os filhos são do mundo. Só somos os escolhidos para colocá-los no mundo e orientá-los. E amá-los.
A menina se casara tão novinha e eu pensava que ela poderia ter esperado mais. Todavia havia o tal do livre arbítrio...
Meu filho estava cursando a universidade noutro estado. Foi o caminho que ele escolheu.
O menino continuava gritando e eu ficava ouvindo seus berros. Aquilo mexia com meus nervos que já andavam à flor da pele. O sol descia, descia.
Aí o carro estacionou. Era Augusto. Ele ainda tinha as chaves e o controle do portão. Foi abrindo e percebi que estava aborrecido.
Ele se mudaria no dia seguinte e nunca gostara de mudanças.
Na minha concepção meu esposo já tinha partido fazia bom tempo.
Olhei aquele belo homem estacionando na garagem e comecei a pensar quando nos conhecemos. Como ele era bonito!
Lógico que com os anos ganhara uma barriguinha, o cabelo diminuíra um pouco.
Mas num todo o corpo estava bem e o rosto sempre lindo.
Ele vinha em minha direção e meu coração disparava.
─ Você está bem?
─ Estou.
Minha voz saía rouca e eu pensava que precisava fazer aquele pedido, antes que nosso tempo se esgotasse.
─ Posso lhe pedir algo, Augusto?
─ Diga, Solange.
─ Não vai se aborrecer?
Que pergunta idiota! Eu o conhecia bem e sabia que estava arreliado.
─ Diga logo, que preciso tomar um banho. Tenho um compromisso daqui uma hora.
A frase veio como um balde de água fria me fazendo quase desistir de falar, Acontece que se não fizesse naquele instante não teria outra oportunidade e resolvi perguntar de uma vez.
─ Lembra-se quando ficávamos assistindo o sol se esconder de mãos dadas?
Ele pigarreou (andava fumando muito). Só que estava pigarreando neste momento para disfarçar.
E por fim falou baixinho:
─ Claro que lembro. Certas coisas não conseguimos esquecer por mais que tentemos.
─ Eu posso lhe pedir uma coisa?
─ Não se estenda, Solange. Já falei que estou apressado.
Outro balde.
─ Quero lhe pedir que sente aqui comigo para ver o sol se esconder. Falta pouco. ─ coloquei mais doçura na voz ─ Nem precisa segurar a minha mão.
Ele me olhou sem ternura no olhar, mas com pena.
Estaria eu fantasiando?
─ Augusto. Onde você vai morar dá para ver o sol se escondendo?
Ele virou o rosto na direção do horizonte e seu rosto parecia esculpido em pedra.
O telefone voltou a tocar e eu rezei baixinho:
─ Quieto, telefone. Fique quieto, por favor.
Por coincidência ou pela força de meu pedido depois do terceiro toque o telefone silenciou.
Em alguns instantes a magia daquele instante terminaria. Aquele corpo amado jamais estaria tão próximo ao meu.
Não resistindo eu busquei sua mão e ele estreitou a minha da forma que sempre fizera, apertando fortemente o mindinho.
Se eu chorasse naquela hora estragaria tudo. Ele havia me dito que não suportava a mulher chorona que eu me transformara.
Banquei a forte e nossos rostos estavam bem próximos. Os dois olhando o sol alaranjado e faltava apenas uma nesginha para o nosso astro rei se esconder.
Ele se levantaria em segundos e entraria no banheiro. Tomaria um banho e sairia. Chegaria tarde em casa e eu nem o veria chegar. Na manhã seguinte se mudaria e fim.
Um tremor percorreu meu corpo e de repente me vi estreitada em um abraço.
Aquilo não poderia estar acontecendo.
Sua boca sôfrega procurava a minha e eu me entregava inteira.
O sol acabava de desaparecer lá distante.
Eu já não via, mas sabia.
A língua dele tocava o céu da minha boca.
Estaria ficando louca?
Estaria sonhando?
Queria falar, mas o encanto se acabaria se falasse qualquer coisa.
Pressentia que não poderia me mexer, senão a poesia daquele instante se acabaria. Então fiquei bem quieta. Esperando. Esperando para saber se tinha escapado da realidade e entrado no sonho.
Eu não tomara absolutamente nada. Estava sóbria.
O corpo dele se estreitava ao meu.
Estreitava-se tanto que eu chegava a pensar que me quebraria algum osso.
Estava tão magra. Ossuda mesmo.
Ele é que rompeu o silêncio.
─ Desculpe.
─ Desculpar o quê?
Deus! Ainda era meu marido. Ainda era. Não tínhamos tratado da separação.
Augusto não sentia assim e provou isso pedindo desculpas.
─ Não tenho que desculpar nada, meu bem. Eu queria que acontecesse. E acho que você também.
Parecia que meu tom melodramático não o abalara em nada.
─ Foi um momento de fraqueza. Vou tomar um banho. Espero que você entenda que me deixei levar...
Eu o agarrei pelas costas e fiz com que se virasse e me olhasse nos olhos. Ainda haveria tempo de salvar nosso casamento?
─ E se eu mudar o meu comportamento?
─ Não há o que mudar. Tudo está resolvido. Amanhã cedo eu vou embora. Nossos filhos entenderão.
─ Será? Será que tudo é tão simples como diz?
─ Não vamos recomeçar.
E foi entrando porta adentro.
Eu fui seguindo-o. Se me beijara daquela forma ainda sentia amor e desejo. Ou estaria equivocada?
Ele colocou a chave do carro e a carteira sobre o rack e eu fui ao nosso quarto.
O que eu poderia fazer ainda? Jogar charme por cima dele não adiantaria de nada. Pedir? Implorar?
Deitei na cama e ele entrou no banheiro social e ligou o chuveiro.
Imaginei seu corpo nu e senti vontade de fazer amor com ele. Senti vontade de sentir de novo um abraço apertado, como o que acontecera há alguns minutos.
Que foi feito de nós? Fiquei me perguntando.
Em seguida desligou o chuveiro e fiquei pensando.
─ Ele nunca tomou um banho tão rápido.
A porta do quarto foi aberta abruptamente e molhado como estava ele me puxou para seus braços e me carregou para o nosso banheiro.
Usou a mão esquerda para ligar o chuveiro e com a destra livre foi me arrancando a roupa.
Será que em outras ocasiões fora tão impetuoso?
Era tudo tão espetacular e louco que eu custava a crer que estava sendo real.
Ele descia a boca para meus seios e mordiscava os mamilos.
Fizera isso milhares de vezes aqueles anos todos, mas estava sendo diferente, pois parecia haver uma raiva nele. Um desespero por me possuir.
Pensei se estava me violentando.
Acontece que eu estava querendo tudo aquilo e também o amei desesperadamente.
Também eu o mordi e o apertei.
Também eu quando tomei seu órgão genital nas mãos fui agressiva. Apertei mais do que devia.
Fazia-o não como uma fêmea no cio, mas como uma mulher desesperada.
Sabia que era a última vez e estava sendo maravilhoso e maluco.
Nunca nos amamos brutalmente antes e não estava sendo propriamente brutal. Era diferente. Era como se nós dois estivéssemos morrendo de sede e água nunca conseguisse nos saciar.
A relação sexual ocorria num ritmo alucinado. Bocas e mãos procuravam, deslizavam, corriam pelo corpo todo.
Palavras não existiam e antes falávamos tanto enquanto fazíamos amor.
Eu nem conseguia pensar direito tal a intensidade do que estava vivendo. Era como estar com um estranho. Aquele homem não era o Augusto de todos aqueles anos e aquela Solange exigente eu nunca fora.
Eu queria mais e mais e mais.
Antes nunca ocorrera comigo o orgasmo múltiplo e nem tinha conhecido que de repente pudesse senti-lo e sentia. O êxtase chegaria para nós? Ele aguentaria até quando?
Taxativamente eu desconhecia naquele homem meu companheiro de tantos anos e ele também devia estar me desconhecendo.
Prolongou-se ainda por meia hora o coito e quando por fim caímos exaustos na cama estávamos suados e arquejantes. Tão exaustos que não tínhamos forças para mexer um dedo.
Envergonhada pensava que não conseguiria mais encará-lo depois de tudo aquilo e foi ele que quebrou o silencio.
─ Estou desconhecendo-a, dona Solange.
─ E eu também não o reconheci ─ falei com débil voz.
Ele tinha se esquecido do compromisso?
Fiquei quietinha e nem queria pensar que ele pudesse se levantar e sair.
Augusto colocou o braço em volta do meu ombro e me puxou para seus braços.
Pensam que ele partiu no dia seguinte?
Está até hoje comigo e nossas noites costumam ser muito agitadas. Muitas vezes ele vem almoçar e esquecemos completamente da comida.
Ele perdeu a barriguinha e diz que eu acabo com suas forças, que sou a culpada.
Eu penso que sou a salvadora.

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