Protesto

Foto de Evandro rosa rodrigues

lirico

Me embriago em doses e doses de emoçao pois apenas escrevo em devaneio
De um sentimento que cai em linhas virando versos
e nesse mar de amores me encontro imerso
Um barco levado pela mare sob uma noite de luar cheio
Naufrago na ilha da solidao o vento me faz compania tocando sua melodia no assobio
Apago as estrelas e tiro o brilho do luar em protesto a esse amor tao vil

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Minha Elis – Parte 3

Elis Regina Carvalho Costa. Cantora brasileira. Mesmo morta é mais importante que um bocado de vivos que eu conheço sem os querer ofender. Elis deixou a herança de seu talento até no sangue de seus filhos. Todos os três trabalham com música. Pedro Mariano é cantor. Maria Rita também. O primogênito João Marcello, que fora pai recentemente, é um produtor e crítico de mão cheia. Quando as revistas e os jornais se referem ao seu pequeno nascido como o ‘filho da Eliana’, fico um tanto desconfortável. Quero dizer, sem meias palavras, eu fico é puto mesmo! A criança é filha de Eliana, sim, que é uma apresentadora competente e que tem todo o direito de aproveitar sua maternidade. Agora, que seria muito importante recordar-nos de seu parentesco com a saudosa gaúcha, isso sim, seria bom. Mais do que ser ‘filho da Eliana’, essa criança deve ser apontada também como o ‘neto da Elis Regina’, uma das maiores cantoras que já tivemos, senão a maior. Fica aqui o meu singelo protesto. Mas não desejo me ater a essa discussão mais apaixonada do que pertinente.

O álbum mais famoso de Elis Regina é o Falso Brilhante, de 1976. O disco contava com músicas presentes no show homônimo, um espetáculo que juntava teatro, dança e canto numa apresentação memorável. O show locado no Teatro Brigadeiro teve 180 mil espectadores, o que o coloca como maior êxito da carreira da cantora e prova incontestável de sua popularidade e relevância no cenário da nossa arte. Quanto ao espetáculo, nunca o assisti seu vídeo completo. Mas o disco, não apenas pelas suas canções de maior sucesso, a citar, ‘Como Nossos Pais’ e ‘Fascinação’, marcou época. No auge do regime militar, que começava a ensaiar uma tímida abertura, o Falso Brilhante significou exatamente essa possibilidade, já que, ainda que veladamente, a crítica e a denúncia se faziam presentes na concepção da obra. O país vivia um declínio econômico considerável, a ditadura apesar de consolidada se encontrava desgastada e a incerteza, somada com o acobertamento sobre os desmandos realizados pelo então poder instituído tornavam a realidade brasileira numa situação difícil e pouco encorajadora. Valendo-se da brecha política, Elis remou contra a maré. Ainda que o Falso Brilhante seja um disco imerso na melancolia, sua mensagem final passa um fio de esperança durante a tempestade de seu tempo, um brando sopro de vida na austeridade de um país fechado, um suspiro diante das lágrimas causadas não somente pela violência como também pela miséria que tais circunstâncias trouxeram ao Brasil. Elis provou seu talento. E sua iniciativa ficou para o futuro, como marco da retomada da arte nacional como objeto de expressão dos anseios populares e de opinião.

Todavia, meu disco predileto da cantora não é o Falso Brilhante. Saudade do Brasil, um disco de 1980, pode ser considerada a obra definitiva de sua carreira. Não exclusivamente por ser seu último LP, Saudade do Brasil, que foi lançado em dois volumes, apresenta todo o desenvolvimento de Elis como artista. Numa estrutura seqüencial que de tão coesa chega a até se aproximar de algo conceitual, no sentido de se montar uma narrativa ao invés de se amontoar canção após canção, como que relatando o contexto histórico e social no qual se incidiam os brasileiros àquelas décadas, dando preferência a uma abordagem jornalística em detrimento do universalismo pessoal e intransferível nas artes gerais que encontramos desde então do final do golpe militar. Sem contar a gravação contou com uma quantidade de recursos muito maior para sua execução, o que elevou em muito sua qualidade, dando a cantora e seu repertório uma roupagem atual, destoante da imagem elitista e retrógrada atribuída para Elis antes desse trabalho. Elis, firme e ousada como nunca antes, decidira conduzir sua turnê de maneira até então inédita no país. Seu espetáculo seria montado em circos, para facilitar a mobilidade do show e reduzir seu preço. Ou seja, Elis queria levar sua arte aos mais pobres. Diante da negativa dos governos em obter uma autorização para o seu projeto, com toda a certeza surgira uma grande tristeza e amargura no âmago da cantora. Isso facilitou o processo que a levou à morte, pelo vício em remédios e drogas. Isso facilitou para enfraquecer a cultura nacional, tão restrita aos mais ricos, que temerosos de perder sua posição sempre pressionaram o desestímulo com a educação, a distribuição de renda e a justiça social, que em longo prazo causam mais do que prejuízos, causam o sofrimento de uma vida inteira de humilhações para nossos entes queridos, mal que conhecemos tão bem.

Minha mãe tinha doze anos quando Elis morreu. E certa vez, num desses especiais de televisão, passava a cantora, justamente num cenário que reproduzia um circo, justamente interpretando o repertório desse disco. Ela chorava, não somente pelo ídolo que Elis representa, mas pela realidade em que ela viveu e pelo plano de fundo em que calcava seu pensamento, nada mais que o desejo de paz e felicidade sempre cerceado aos mais simples. Foi ali que eu entendi o que era ser gente e ser artista de verdade. Foi ali que eu entendi que deveria não me abalar diante das dificuldades da vida, por maiores que elas sejam. E se Elis não viveu para ver suas expectativas suprimidas, esse é tributo que devemos ter com ela, que é o tributo de não nos conformarmos com a consternação, de tornarmos o Brasil um lugar onde a dignidade se faz presente, e onde o amor vale mais do que tudo.

Foto de raziasantos

Teu Perfume:

No silêncio tento salvar minhas memórias.
Tento renascer das cinzas, e cumprir minha missão.
A dor da solidão amarga os meus sonhos…
Tão crua e fria a vida que resta!
Nesta metamorfose sou apenas uma gota d/água junto ao oceano.
Perdura em meu peito a dor que me consome…
A sobra de um passado obscuro que me negas a verdade.
É tempo de lágrimas, tempo de dor…
Neste silêncio ouço apenas o grito da minha alma.
O triste gemido estremece minhas entranhas.
Mordo os lábios em sinal de protesto.
Este mal que me devora como uma praga de famintos gafanhotos.
Não sei mais para onde ir, nem pra onde devo ir.
Só sei que preciso te reencontrar mesmo que por um instante.
Não sei a cor dos teus olhos, nem a cor de tua pele…
Os anos passaram e a mim foi negado o direito de te conhecer…
Nunca pode ouvir teu choro nem ver teu sorriso,
Mas posso sentir teu perfume de filho querido!
Filho! Meu filho!

Foto de Carmen Lúcia

Hoje me faltou inspiração

Hoje me faltou inspiração...
Saí para observar o dia,
olhar o céu
às vezes azul silvestre
e outras, cinza agreste...
onde um sol que desconheço
aparece pelo avesso,
ilumina em tom grotesco,
em desarmonia com o universo
como um grito de protesto,
contra a humanidade que o vestiu assim.

Hoje me faltou inspiração...
Saí pra observar as flores
que antes exultavam cores,
belezas a incitar poetas
a versejar amores.
Hoje choram a natureza ultrajada,
enxertada de artificialidade,
onde a falsidade se faz prevalecer
e a verdade já não tem razão de ser.

Hoje me faltou inspiração...
Saí pra observar a noite
e a lua de luto, escondida
em negro véu, no céu chora a despedida
das noites claras onde seu luar
prateava serenatas que já não há mais
e estrelas sonhadoras vinham suspirar
o suspiro dos amantes...
Hoje já não são mais tão brilhantes.
Muitas já não se encontram lá.

Hoje me faltou inspiração...
Saí pra observar o mundo
que corre o risco de inexistir,
globalizado pela hipocrisia,
obcecado pelo ter...pelo não ser...
Onde a maquiagem camufla o caráter,
onde se banaliza a célula mater .

Hoje me faltou inspiração...
Só versos sem rumo, sem rima, sem noção,
que morrem antes de se tornarem poesia,
por falta de fantasia, por falta de coração.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Vervloet

O Protesto da Natureza

O universo queixa-se em profunda dor...
O céu acinzentado,
mostra seu luto na cor,
entorna lágrimas de chuva
que caem em granizos de cristal,
o vento faz seu manifesto em vendaval.
O sol se esconde atrás da nuvem pesada,
quem sabe com vergonha por tanto desamor!
As sombras deixam as flores desbotadas,
a tristeza cerra o bico do pássaro cantor.
O mar invade cidades,
tsunami de destruição,
ondas gigantes que vem e vão
levando o povo em comoção.

Por onde eu passo, freme a ambição!
Homens amputados de seus sentimentos,
cegos pelo egoísmo do momento...
A Mãe Terra em agonia,
triste, sem energia...
Vivendo seu grande tormento,
últimos suspiros
debilitando seu giro!

Antecipo um suicídio coletivo,
o planeta destroçado
pelo mais inteligente ser vivo!

Este cenário estremece minha vida...
Meus olhos embaçados por lágrimas
vêem o protesto da natureza que agoniza!

Foto de Nailde Barreto

" A DESPEDIDA"!!!

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O barulho das rodinhas da mala
Que atritavam no asfalto grosso
E emitiam um som de protesto
Quase que um grito
Para que fôssemos na direção contrária.

Mais ao chegar no fino páteo do aeroporto
Elas perderam a sua fala
Desmotivadas pelo turbilhão de sons
Que se misturavam entre os terminais
Provenientes do transitar da multidão.

Os ponteiros do grande relógio no corredor
Que antes repousavam quando estivera ali há dois dias
Pareciam enfurecidos, e galopavam ferozmente a cada minuto
Contrariando a ordem natural do seu trabalho
Me deixando ainda mais perto do que eu já previa.

O abraço apertado que se desenrolou
Fez germinar em seus olhos duas lágrimas
Que deslizavam sobre sua lisa pele morena
Que não impedia que elas chegassem ao chão
Imaginando que em breve eu não poderia mais enxugá-las.

E ao mirar o triste portal de embarque que se aproximava
Sentia por entre os dedos sua única companhia
O bilhete amigo que a acompanhava
No vôo que sem beleza assinava
O fim daquele mágico e eterno momento.

B.C 15/12/10

Foto de Carmen Lúcia

Começar de novo

Saio da escuridão,
titubeio, piso em falso...
A luz ofusca a visão,
persisto no encalço
de ir de encontro à luz.

Esforço-me, cambaleio,
corpo pesado, passos cansados,
descompassados, sem precisão...
Recomeçar é preciso,
livrar-me do castigo
a que me condenei...
Livrar-me dos pecados
que me foram atirados
sem nem saber porquê...
Sem direito de me defender...
“Eu, pecadora, confesso...”
...a culpa que não cometi,
as dores que sofri,
as lágrimas que verti.

Agora volto e protesto...
Quero a absolvição!
Se amar demais é pecado
morro sem pedir perdão...
Pois amar foi o que mais fiz,
ainda que a pessoa errada,
mesmo sendo enganada...
Foi o amor que meu coração quis!

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

A poesia que trago

Faz tempo que não faço versos,
só vejo no belo
inversos, flagelos...
Perdi-me em meio a palavras
outrora tecidas, hoje desgastadas
clamando o que me transtorna,
jorrando pra fora razões desastrosas.

Faz tempo não junto palavras,
meu verso é reverso,
meu grito é calado...
Meu eu só externa protesto,
materializa o que testo,
versos em desagravo...

Não sinto aquilo que digo
e o que digo condiz
com a farsa que espalho...
As rimas me fogem à galope
como tenta fugir
do feitor, o vassalo.

Há tempo que sonho acordada
e não amanheço, só noite escalada...
Espero traçar nos espaços
das folhas em branco
a poesia que trago.

Carmen Lúcia

Foto de jessebarbosadeoliveira27

A POEM TO BOB DYLAN

Versos líricos que ecoam a animosa flora do protesto
Versos filosóficos que transformam em indômito oceano
O brutal mental deserto.

Versos que acordam o vulcão da sábia rebeldia
Versos que --- ao esbofetear a fronte da hipocrisia ---
Fissuram os pilares da tirania
Versos que libertam a lívida juventude cativa.

Versos que amam o livre amor
Versos que anseiam a psicodelia residida na flor
Versos que o mor poeta do folk
Em nós viçosamente poleniza
Depois de magistralmente OS compor
Com a ajuda da sua gaita
Ou do possante violão da revoltosa melodia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

http://bocamenordapoesia.webnode.com.pt/
• http://twitter.com/jessebarbosa27

Foto de AjAraujo poeta humanista

O passaporte de final de ano

O teu segredo é fraco!
É vago, é tolo.

O teu remédio é placebo!
É amargo, é puro engano.

O teu amigo é falso!
É agiota, é tombo certo.

O teu retrato é velado!
É apagado, é sombrio.

O teu extrato é negativo!
É sem crédito, é puro falso.

Todavia, repara: o mundo ainda não acabou!
nem a mulher dos teus idílios
nem a cidade-fantasma dos teus pesadelos
nem a taberna de teus porres homéricos
nem a livraria de tuas fugas intelectuais

Mas, é fato: O teu mundo mudou!
seria a roda gigante do circo da infância?
seria a dançarina ou o palhaço da alegria?
seria o trapezista ou o domador da fera?
seria o remendo da calça na festa junina?

Teu uísque é rótulo falso!
É cefaléia certa, é ouro de tolo.

Teu protesto é puro ócio!
É chuva de verão, chope no Amarelinho

O teu amor é passageiro!
É somente sexo ficante, por natureza vazio.

O teu motor é trem de subúrbio!
É sufoco certo, da Central à Deodoro.

O teu sorriso é puro ensaio
É fogo de palha, ator sem teatro

E agora? O que pensas fazer
Vais ficar ou partir?

Não penses em Minas!
pra minas se foi José, nada mais,

Não penses em Maria!
Maria foi pra Bahia, pro terreiro de mãe-meninha

Não penses em fugir!
As ruas alagadas, estradas tomadas, que fazer?

Não penses em ajuda!
Todos se foram para Arraial D'Ajuda

Fique aqui "curtindo" ou vá para Brasília!
Capital dos ratos do serrado central
Da farra geral dos "políticos" e lobbistas
Da barra pesada dos candangos e migrantes,
E dos esotéricos e anjos emudecidos em geral.

AjAraújo, o poeta humanista.

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