E AGORA...
Acostumei as minhas longas mãos
A brincarem felizes entre as suas,
Por que agora estarei contente
Se elas vagueiam desapontadas
Em busca de tudo o que juntei,
Ou que pensei ter conquistado,
Se as vejo vazias, inconsoladas ...
Gastei os meus atenciosos olhos
Mirando e amando amar os seus,
Por que será que hoje nada querem ver,
Nem ao menos possuem o brilho de antes.
As coisas voam e, muito pouco de tudo
Que pensamos ter, fica para nos alegrar
É...agora ninguém atiça os meus desejos...
Será que subir em escadas de mármore
Para derrubar do alto muitas baixelas de ouro ,
Será que quebrar espelhos, vergar espadas,
Despedaçar estátuas e colares de pérolas,
E depois, de ver essas coisas todas no chão,
Pararei para escutar e sair desse torpor,
Recebendo então, um restaurado amor...
O que posso fazer para ter essa tal plenitude,
Se em cada novo ensaio, só encontro o mundo
E se o que busco é sempre o encanto do infinito...
É como se eu habitasse entre exílios e guerras,
Meus amores são extintos, todos eles mortos,
E para consolá-los, mando-lhes agrados em versos,
Mas nem isso os acalma, ficam gravados na minha alma.
Latentes, como os rios que perenemente choram
A ausência dos dias de verão, em que as chuvas fortes
Transbordam os seus leitos e redobram as corredeiras
Num derramar sem fim de opulência e saciado prazer,
Banhando para fertilizar e carregar tantas delícias,
Que ganham vida e matam a fome ao seu derredor,
Mas que são como eu, também sujeitos a mil fases .
ANA BOTELHO 30/02/2007