Pés

Foto de Carmen Lúcia

Irresistível...

O pranto teima em rolar...
Mas vejo a rosa se abrir, sorrindo,
Pedindo-me pra não chorar,
Então deixo a tristeza passar
E devagarinho ela vai se indo...

Não quero ver o amanhecer...
Mas a luz do sol magnetiza meu olhar
Que se perde na beleza que reluz
Que se ilumina com o novo alvorecer
Um novo dia que me faz renascer.

Recuso-me a admirar as estrelas...
Mas impossível evitar, deixar de vê-las,
A bailar na imensidão...Etérea coreografia,
Luzes que se confundem, celestiais sinfonias,
A me enviarem amor por telepatia.

Fecho os olhos e ando por aí...
Sinto meus pés acariciados pela grama,
E um caminho salpicado de flores
Faz meus olhos se abrirem
Diante de um festival de cores!

Ainda assim tento resistir...
E me fecho como concha solitária...
Por uma fresta, olho o céu e um clarão
Reflete o azul de seu olhar, em meu olhar...
De súbito, abraço a esperança e volto a sonhar.

Foto de Claudia Nunes Ribeiro

A BEIRA DO CAIS

Mares nunca antes navegados,
Terras a serem desbravadas
E eu me acovardo ante a expedição.
Tenho um mundo novo pela frente...
Teus braços trazem promessas
De novas formas de amar,
De carinhos nunca experimentados.

Sofro pelo que ainda não vivi...
A vontade de voar,
Mas os pés presos no ninho.
A vontade de correr,
Mas grilhões me acorrentam.
A vontade de largar tudo e ir para você,
Mas receio errar o caminho.

E pelo medo da partida,
Com lágrimas nos olhos,
Fico te olhando...
Da beira do cais...

Claudia Nunes Ribeiro

Foto de Joaninhavoa

BRILHO ARDENTE

Quando o sol raiou
Seus prados aclarou e doirou
Com cores e matizes brilhou
Aqueceu ameno sereno
Depois mais forte redobrou
Doseando com mestria
Sua máxima - a experiência -,
Com sabedoria e ciência!...

Óh! Sol, Sol, brilho ardente
Quem fez de ti o que és?
Quem te traçou por horas cadente
Quando ao Sol Por sobre as marés
Te vejo e beijo teus raios, traços
Últimos passos e fico a teus pés!...
Simetria perfeita em laços
D`olho de rei que tudo vês
Com que arte tu te dás
E tu que tens de nós?
Óh! Sol, Sol, brilho ardente
Quem fez de ti o que és?

JoaninhaVoa, em
05 de Dezembro de 2007

Foto de Marta Peres

Reflexo

Reflexo

Me vejo nesta pedra que brilha,
Vejo rugas no rosto, sinto-me só,
Abandonada em meio multidão
Cansada do caminhar, preciso parar
Na beira da estrada, pés machucados
Dolorosamente sangrando o coração,
Nada me resta a não ser solidão.

Marta Peres

Foto de Carmen Vervloet

Segundo Ensejo da Criança

Segundo Ensejo da Criança

Mas se moram nas ruas
Dormindo em calçadas...
Sem teto...
Sem roupas...
Nuas...
Sozinhas... Abandonadas...
Em drogas viciadas...
Buscando o torpor
Para substituir o famigerado amor!...
Roubando o pão que lhe foi negado...
Direito seu, usurpado...
Por governantes inescrupulosos
Que se mostram bonzinhos
Mas tiram-lhes tudo...
Até o carinho!...
Tristes... Desesperançadas...
Almas revoltadas!...
Sem escolas, sem profissão...
Sem banho... Pés no chão...
Sem saúde... Doentes...
Como pretender que sejam decentes?
E assim vão se formando os marginais
Na escola da miséria...
Do abandono...
Onde quem deveria ser o patrono
É o ladrão
Que põe a culpa no mordomo
Dando como solução
Presídios em edificação!

Ah! Meu Brasil amado!...
Você precisa de políticos ponderados!...
De homens sensíveis... Iluminados!...
Berçando sonhos jamais realizados!...
Acendendo a treva em corações
Tão machucados!

Carmen Vervloet

Foto de Cecília Santos

CATADORES DE CONCHAS

CATADORES DE CONCHAS
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Praia imensa, onde o mar acompanha
a linha do horizonte.
Lá no final já não se distingui o que é
o mar é o que é o céu.
Os tons se mesclam, os azuís se
confundem .
O vento forte trás o perfume
salitrado do mar.
Mar muito azul, com dançantes ondas
coroadas de branco que vem beijar a areia.
Trazendo consigo conchas coloridas,
seixos marinhos para enfeitar a praia.
O vento sopra rajadas ensolaradas
e sombras através do mar.
As nuvens baixas se formam e se dispersam.
Revelando vislumbres de um céu muito azul.
Nessa quietude imensa, interminável.
Os catadores de conchas, catam sonhos
ilusões e maravilhas.
Seguem pela praia à fora, com as ondas
beijando-lhes os pés.
Talvez uma pessoa jamais cresça
inteiramente diante de uma maravilha
dessas que Deus criou.
Deixará sempre seu lado criança falar
mais alto, mais potente.
E enquanto existir mar azul, areia branca,
e ondas à dançar.
Existirão os catadores de conchas à brincar
na areia do mar.

Direitos reservados*
Cecília-SP/12/2007*

Foto de Carmen Lúcia

Contigo eu danço!

Contigo eu danço salsa
Merengue, forró, lambada...
Junto meu sangue latino
A um "quê" de brasilidade,
Com muito tempero e gingado
Arrasto meus pés num xaxado,
Requebro, me quebro, me entrego
Contigo colado a mim...
Tuas mãos em minha cintura
Elevam-me às alturas...
Contigo eu danço valsa
Clássica, contemporânea, mpb...
Rodopio ao som de Strauss,
Saltitando os Bosques de Viena
Ressurgindo no Lago dos Cisnes...
Então, emocionada eu fico,
Ao te achar na Valsinha de Chico.
Contigo eu danço tango...
La cumparsita, Abrazame assi,
Ao teu corpo eu me agarro
E me deslizo do começo ao fim...
Minhas pernas às tuas entrelaço
Convite para um abraço,
Roçando meus lábios aos teus...
Num gesto insinuante, passional,
Giramos sem sentir o chão...
Coreografia única e sensual...
Contigo eu danço até a exaustão,
Danço no meu coração...
Danço a escuridão, dança da paixão,
E danço assim, sabes por quê?
Porque me tiras a razão.

Foto de Dennel

Menina tímida

Tua timidez vai me conquistando
Vou te olhando, desejando
Beijar loucamente a tua boca
Matar minha vontade louca

Este jeito de menina arredia
Atiça-me a cada dia
Vou vivendo sonhos e fantasias
Sonhando com tuas carícias

Imagino a intensa sensação
Abraçar-te, te dar a mão
Tocar-te num abraço gostoso
Cheio de fé, igual a garoto dengoso

Junto aos teus pés prostrado
Ouvir lindas palavras, extasiado
Quais amantes ouviram um dia
Minha alma se satisfaria

Juraci Rocha da Silva - Copyright (c) 2006 All Rights Reserved

Foto de Carmen Lúcia

Retrato da Vida

Num canto da sala balançava a cadeira.Por cima dos óculos ela só observava.Não dava palpites.
A rotina diária...Muita algazarra, correria. Todos apressados, em tropeços, passavam por ela.
Nem sequer percebiam que ela percebia.Olhava a todos e a tudo.Sem que ninguém a visse.
Os dedos já cansados esboçavam um bordado.Pareciam mecanizados, de tão acostumados a esses traçados.Chegavam à perfeição.
Seu rosto, sem expressão, semblante enrugado, eram marcas que ficaram, que o tempo lhe deixara.
Um tempo ausente que corria lá fora.Agora mais veloz, levando embora a vida, que ela via caminhar, além da janela, afastando-se cada vez mais.
Vieram-lhe as lembranças.Ricas lembranças.Criança correndo pelo campo, sem tempo, sem marcas, só esperança.Só risos.Sonhos.Fantasias.
Então cerra os olhos.Começa a imaginar.Ouve uma música suave.Esboça um doce sorriso e se pega a rodar, a girar, por entre flores, pés descalços na grama úmida...com o vento acariciando seu rostinho de criança feliz.De repente a criança põe-se a correr...para um lugar belíssimo, indescritível, inimaginável...
A cadeira já não balança.Permanece imóvel no canto da sala.
Caído ao chão, um bordado perfeito e já terminado.
Repousa de lado aquele rosto sem expressão, marcado agora pela morte.
A lida prossegue lá fora. E lá dentro, a rotina de sempre.É a vida!
Ninguém percebe a partida.

Foto de Carmen Lúcia

Mudanças

É noite e não vejo o céu,
Não o mesmo céu de antes,
Aquele a me proporcionar, radiante,
Emoções esfuziantes, profundamente vividas e sentidas,
Que me (e) levavam a vários mundos
Distantes, delirantes, irradiantes
E me traziam ao chão, onde meus pés levemente,
Docemente tocavam, após essa viagem transcendente.
E tudo era magia, era alegria, era poesia...
Pretensa recompensa daquele meu viver
Contagiante, inebriante, aconchegante...
Nem vi a minha estrela brilhar como antigamente,
Minha cúmplice a piscar maliciosamente...
Se escondeu por entre nuvens, evitando meu olhar.
Nem mesmo a lua veio me beijar,
O que era de praxe, sorrateiramente,
Perdeu-se com a prata do luar, sem vida, ressentida...
Tudo se entristeceu, escureceu...
O céu perdeu a cor...
Amedronta o mundo, a dor,
O universo fica mudo...
Afasta quem outrora sonhava junto
E nos arrasta ao abismo imundo, fecundo,
Apresentando-nos à solidão, à imensidão
De um oceano negro, sem ondas, nem espumas, onde a velejar
Estão a sombra, a amargura, o desacreditar.
Então, mais que nunca, é preciso remar, remar, remar...
Para de novo começar...

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