Pernas

Foto de Lou Poulit

UM INCENTIVO À REFLEXÃO DE TODOS OS PROSADORES TÍMIDOS

Continuando uma conversa, esquecida noutro lugar...

Dei-me conta de um outro conceito integrante do curso, que também tem tudo a ver com essa reflexão sobre os nossos personagens na vida. E avança sobre fazer arte, sobre percorrer um trajeto evolutivo, lucidamente. O que inclui escrever prosa (a arte da palavra fluída) de modo mais artisticamente pretensioso, e não exatamente presunçoso...

Depois de entrar no ateliê, com a coragem e a desenvoltura de quem entrasse no castelo de Drácula, e tentar compreender alguma coisa da parafernália que havia ali, que equivalia a uma avalanche de informações visuais e olfativas nem sempre esperada, pinturas e esculturas por toda a parte, rascunhos espalhados como que por alguma ventania, uma infinidade de miudezas, coisas difíceis de imaginar e fáceis de fazer perguntar "pra que serve isso?"... O aluno iniciante dizia, como se ainda procurasse reencaixar a própria língua: eu não sei desenhar nada, sou uma negação, um zero à esquerda, nem sei direito o que estou fazendo aqui...

Eu tentava ser simpático, e sorria sem caninos, para provar que não era o Drácula. Depois pedia ao rapaz espinhento (convenhamos que o fosse neste momento) que desenhasse aquilo que melhor soubesse desenhar, entregando-lhe uma prancha em formato A2 e um lápis. A velha senhora (agora convenhamos assim) procurava uma mesa como se houvesse esquecido a sua bússula, e a muito custo conseguia fazer a maior flor que já fizera, de uns 15 cm numa prancha daquele tamanhão, e muito distante do centro da prancha. Claro, eu não conseguia evitar de interromper, se deixasse ela passaria a tarde toda ali improdutivamente. Aquele desenho já era o bastante para que eu pudesse explicar o que pretendia.

O executivo que arrancara o paletó e a gravata para a primeira aula, depois do expediente, com a gana de quem subiria num ringue para enfrentar um Mike Tison no maior barato e cheio de sangue no álcool, olhava pra mim, a interrompê-lo, como quem implorasse deixá-lo continuar! Queria mostrar talvez que eu deveria investir nele, que estava disposto a tudo, e que ele estava ali para que eu fizesse com ele o que bem quisesse. E eu finalmente explicava: não é necessário, já vi que você pode fazer. Me diga, quantas vezes você estima que já tenha desenhado esse mesmo Homem-Aranha que acabou de rascunhar?... Ah, não contei, mestre... Claro que não, mas talvez possa fazer uma estimativa, em ordem de grandeza. Uma vez? Uma dezena? Uma centena? Mil vezes?...

O velhote, com jeitão de militar reformado, pôs a mão no queixo. Mas em vez de estar fazendo alguma conta para responder, na verdade tentava avaliar (com a astúcia que custa tantos cabelos brancos) que imagem a sua resposta produziria, na cabeça do jovem mestre. Afastou as pernas uma da outra e naquele momento eu pensei que ele pretendia bater continência para mim, mas não, aquilo era um código comportamental. Sempre fui antimilitarista, mas procurei entender o seu personagem íntimo. Afinal, ele resolveu arriscar: Mais para mil vezes... Alguém poderia acreditar nisso – perguntei a mim mesmo? Se o velhote houvesse desenhado Marilyn Monroe, vá lá que fosse. Ou a bandeira do Brasil, um obuz, uma bomba atômica, ao menos um pequeno porém honroso canivete suíço!... Mas não. Um militar que estimava ter desenhado quase mil vezes o Papa-Léguas – antigo personagem de quadrinhos e desenhos de televisão – ou tinha algum grave desvio (talvez culpa do canivete) ou estava construindo naquele momento um personagem específico para a sua insegurança, o que mais convinha deduzir. Antes que ele dissesse “Bip-bip” e tentasse correr pelo ateliê, eu tratei de prosseguir com a minha aula.

Mas qualquer que fosse o aluno, eu pedia então que sentasse nas almofadas que ficavam pelos cantos do espaço, e em seguida me sentava no chão, sem almofada. E perguntava: você já ouviu falar no Maurício de Souza, o “pai” da Mônica?... Sim, das revistas... Isso mesmo. Sabe que ele é capaz de desenhar a Mônica (mas talvez não outro dos vários personagens que assina) de olhos vendados?... O aluno tentava refletir, mas eu não esperava pela resposta. Garanto a você que ele faz isso. Sabe por que?... Acho que não, assim de surpres... Por um motivo muito simples e óbvio: ele já fez tantos desenhos semelhantes, que não precisa mais se preocupar em construir nenhuma imagem do desenhista que ele é. Muito menos com o desenho que vai fazer.

Eu não estou pretendendo estabelecer nenhuma comparação com a sua pessoa, mas somente adiantando para você uma espécie de chave para quase todas as perguntas inerentes a aprendizados. Você pode achar até que é um zero à esquerda, quer diga isso ou não. Não é. Mas a sua memória técnica é. E essa seria a principal razão de você achar que não sabe desenhar, ou não ser capaz de ver-se como artista. Todo mundo nasce com alguma sensibilidade, percepção para o belo, capacidade de fazer associações psíquicas, afetivas, emocionais e tal. Isso tudo é inato, intrínseco à natureza humana. Contudo para transpor o que está dentro de você (imaterial) para fora, de modo que outros, além de você próprio, possam compreender através de alguma sensorialidade, é preciso usar um meio físico, também chamado de veículo. Para fazer essa materialização você terá que lançar mão de uma técnica, e a técnica não é inata (salvo em raros casos).

Essa é razão mais elementar pela qual está me pagando. Mas eu não fabrico desenhistas. Apenas, com base na minha própria experiência e na minha memória técnica, vou traçar um atalho para você chegar ao que definiu como suas preferências, na nossa conversa inicial. Bastará que você faça apenas algumas coisas simples, mas que podem exigir alguma disciplina: que não faça os exercícios como faria um robô, que preste atenção com intuito de memorizar o que vou lhe dizer (como se fôsse um robô!) e que não jogue fora nem mesmo o pior dos seus resultados, pelo menos até que termine o curso. Os seus resultados de exercício, em ordem cronológica ou pelo menos lógica, por mais que pareça entulhar a sua vida, serão como os frames de um filme que só existe na sua memória, e que serve para estruturar a sua memória sensorial. Será a mais eficiente forma de avaliar o processo de aprendizado, e poderá estar sempre disponível para reavaliações.

Sua verdadeira obra, será construir um arcabouço de informações técnicas. Muito naturalmente e sem começar pelo fim ou pelo meio, você irá armazenando o conjunto da sua sensorialidade ao exercitar. Não irá memorizar tão somente o desenho em si, mas a interação entre os materiais, os sons, o cheiro, a impressão tátil de manusear e pressionar, enfim, tudo será memorizado, e a partir de certo ponto, além de saber, você estará compreendendo o que faz. Contudo, não tem que esperar o fim do curso para estabelecer uma relação mais madura consigo próprio, enquanto artista. Poderá começar a amadurecer (e reorientar) desde logo o seu foco preferencial, a sua linguagem e estilo próprios, seus conceitos e o seu próprio personagem de artista...

Isso mesmo, o artista, seja pintor, músico ou escritor, tem um personagem próprio. Para as pessoas que só podem conhecer a sua arte a partir do veículo e não a sua pessoa, será inevitável eleger atributos para agregar referencialmente ao seu nome, ou para humanizar o seu nome, e torná-lo mais compreensível. As pessoas “tocam” o produto artístico como se tocassem a pessoa do artista subconscientemente. Por isso, se você não quiser criar lucidamente o seu personagem e torná-lo compreensível para eles, os admiradores da sua arte o farão instintivamente e você só saberá depois, ou talvez passe pela vida sem saber como é visto, ou pior ainda, imaginando o que não corresponda nem de longe à realidade.

Não importa muito a linguagem artística que se escolhe. O processo evolutivo é muito semelhante. E todo aquele que reluta em mostrar seu trabalho e predispor-se a um julgamento que não se submete ao seu próprio, apenas retarda a sua própria evolução.

Foto de Lou Poulit

O CRONÔMETRO

Há alguns anos, acordei na cama de não sei quem. Eu não sabia o que estava fazendo ali, mas não tinha a menor dúvida sobre o que estava fazendo até adormecer, ou talvez devesse dizer desmaiar. A verdade pode ser muito crua para pessoas que nos amem, e tenham construído uma imagem nossa bem "cozidinha".

Eu não estava seguramente na minha casa, e não havia mais ninguém naquele apartamento. Tomei um banho morno para ganhar algum tempo e por as idéias em ordem, vesti-me, e como ainda não havia chegado ninguém que eu pudesse ver, além das estatuetas de ciganos, bruxas, gnomos e mais uma multidão de sapinhos espalhados (e todos pareciam olhar pra mim!) que acabara de descobrir ali, resolvi ir-me embora. Estranho isso. Ir embora de um apartamento desconhecido, sem despedir-me de alguém, ao menos dizer obrigado...

Na saída, uma espécie diferente de saci (de uma perna e meia, e com dois gorros vermelhos) próximo à porta me estendia a mão. Mais desconfiado do que generoso, eu arrisquei deitar cinquentinha. Mas caí na asneira de olhar mais uma vez para o seu semblante. E acabei deitando cem paus. Antes de bater a porta por fora, olhei pela fresta e, tal como se o moleque fosse eu, vinguei-me: Explorador!... No elevador desconfiei, pelo perfume fortíssimo que dois travecos deixaram ao sair, mas chegando à calçada acabaram-se as dúvidas. Eu estava na avenida Princesa Isabel, a larga entrada de Copacabana (coincidência?), para meu fugaz alívio fora do túnel dito do Pasmado! "Oh, my God! Oh my God... I more don’t want to be fucked"…

À certa distância, na confluência da avenida com o calçadão da praia, uma pequena multidão olhava para um out-door que não estava ali até a última vez. Aproximando-me vi que era um cronômetro eletrônico retroativo, comemorativo dos 500 anos da descoberta do Brasil. Fora inaugurado muito recentemente, deduzi. E eu repeti para dentro, balbuciando: Oh, my God... Em poucos minutos a multidão já não era pequena, e depois de mais algum tempo já me parecia assustadora. Mas não propriamente a multidão. Aquela gente toda, incluindo-se muitos turistas (estes por motivos bem mais óbvios) masturbava-se promiscuamente, para comemorar meio milênio de exploração.

Vagamente eu me lembrava de que alguém se dispusera a fazer algo assim comigo. E o fizera com requintes. Porém a bruma etílica não me permitia lembrar desta mulher mais do que uma meia dúzia de nomes. Afinal, que diferença faria o nome? O fato a moer-me a lucidez que restara, era saber que eu explorara e fora explorado. E ali estava eu cercado de pessoas tão festivas e presumivelmente tão pouco lúcidas, tendo por referência a lucidez que me restara.

Por um quase desespero, vire-me e fui me reencontrar no balcão de um bar. Pedi um café bem preto, alienado, como se estivesse num café expresso. Antes de servirem o café, porém, surgiu, não sei de onde, um negrinho cheio de dentes, com duas pernas normais, e com um pequeno caixote sob o braço, que apontando para os meus chinelos de dedo me pediu para engraxá-los. Lógico, escusei-me polidamente. Então ele fez gestos para que eu lhe pagasse um salgado (com suco). À minha recusa ele aceitaria só o salgado. A seguir disse que aceitaria um trocado mesmo... E para o meu desespero definitivo, a uma nova recusa ele pôs a mão na cintura acintosamente, olhou dentro do bolso da minha camisa, e me pediu um cigarro...

Eu deixei o bar para trás, retomei o caminho da minha casa com quatro certezas: primeira, de que para o negrinho não importava o que me tirasse, desde que tirasse alguma coisa; segunda, de que ele achava que eu era um turista e que tinha medo dele; terceira (oh my God!), aquele cidadão brasileiro aprendera, em no máximo 10 anos, a explorar o medo de um suspeito explorador comemorando os seus 500 anos; e quarta, que me esqueci de tomar o café. Afinal, eu achei que somos poucos, porque nossa população se reproduz a esmo, mas em vez de dias a contagem regressiva devia, ao menos estimadamente, contar as pessoas que se recusam a se abster de votar. Qualquer que seja o voto em algum nome, o sistema se reproduz! Se apossará dos votos branquinhos e dirá que os negrinhos é que se reproduzem como ratos.

(Lou Poulit, 2010)

Foto de Ivanifs

Um dia...

Distante terra de ninguém
è onde me encontro agora

Nada mais me atinge
Meu corpo é inerte, frio, vazio

Nesta procura por nada, nem por ninguém
nesta tarde ensolarada , onde pela cortina vejo a sombra da saudade

Uma saudade de nada, saudade daquilo que nunca vi
nem toquei, nem senti

O universo está presente em mim
E eu nele

Eu venci, por existir
Por ser alguém, que tem olhos pra ver

Que tem pernas para caminhar
e braços para abraçar

Coração para amar, boca para falar
Falar de poesia, falar de amor
Falar de sentimento

Embora esse momento
Seja de coisa alguma
Seja um simples lamento
Do nada que perdi

Mas estou viva aqui
E vivendo vou aprendendo
Que o amor depende do dia
da hora, do ano, da vida...

Que muitas vezes poupa nossos sonhos
nosso sorriso

Por isso me escondo entre poemas
E neles acabo me achando
E achando que desta forma
Eles me encontrarão um dia

E quando esse dia chegar , estarei aqui
a escrever diferente
Ou nunca mais escreverei nada...

Ivani

Foto de Felipe-Mazza

Uma pessoa que me fez sofrer muito

Bem tudo começou quando a conheci, foi meu que inusitado, nos conhecemos pela NET por assim dizer, ficamos amigos, eu sabia que ela tinha namorado (de anos), mas até ai tudo bem era só amizade mesmo, não tinha muita importância, mais depois de um tempo (e não levou muito) comecei a me apaixonar por ela, eu queria desistir, desconversar, sair daquilo porque já via o que iria acontecer, mais não consegui de maneira nenhuma, foi maior do que eu, aquele desejo de tentar, de ir até o fim, disse pra ela que estava me apaixonando por ela, pensei que ela ia me cortar, mais não aconteceu isso, acho que ela tinha se encantado comigo, pelo meu jeito, mais ai ela me falou “vai encarar ?” eu tremi, juro que tremi, mais ai falei “posso até estar entrando em uma batalha já perdida, mais sim vou entra nessa de cabeça, vou encarar sim”, e assim foi. Conversamos sempre, por horas até e todos os dias, falávamos de tudo, sonhos, medos, o que esperávamos da vida, de tudo mesmo, trocamos muitos e-mails, telefonemas, trocamos um carinho indescritível um pelo outro, mais ai fiz mais uma besteira, comecei a ama – lá, meu coração simplesmente batia mais lento quando estava com ela, chegamos a acretidar em um futuro juntos, achei que tinha encontrado a pessoa certa, a pessoa que passaria o resto de minha vida junto. Sei o quanto isso soa infantil, bobo, ingênuo, besta, tudo que se possa imaginar. Mais parecia que tínhamos uma ligação. Com o tempo passando decidimos nos encontrar, viajei para encontrá-la, mais não foi como eu esperava, ela tinha mudado me dado as costas literalmente. Disse que amava o namorado, nossa aquilo acabou comigo, fiquei sem fôlego, não sentia minhas pernas, aquilo abriu um enorme buraco em meu peito, uma sensação indescritível, foi um dos piores momentos da minha vida. Me senti usado, um passatempo, um brinquedo, não tenho nem palavras para o que eu senti. Não vou negar que sofri muito, perdi peso, perdi a vontade de sair, fiquei um tempo muito mal, estou me recuperando ainda de tudo isso, mais é difícil, só o tempo cura. Pensei que ganharia aquela batalha mais parece que foi tudo em vão, que nada do que fiz, do que falei para ela fez efeito. Que fui um estúpido em acreditar que daria certo.
Não tenho rancor, nem raiva dela, só fiquei profundamente magoado com tudo o que aconteceu, pois ela me fez acreditar e depois simplesmente me virou as costas. Ela apenas destruiu uma das coisas mais importantes pra mim, meus sentimentos.
Já si passou um bom tempo que isso aconteceu, hoje estou melhor, não 100% mais estou bem. Encarando um dia de cada vez. Procurando pensar positivo, tentando voltar ao o que eu era mais não vejo volta, pois sei que mudei, sei que daqui pra frente não serei mais a mesma pessoa, não que me torne alguém frio, mas menos eu mesmo.

Foto de Rosinéri

PREDESTINADO

Um misto de dor e saudade
embala minha vida
e a longiqua felicidade
surge me fazendo sofrer
envolto pela agonia
meu coração deseperado
viviendo todo dia
triste e amargurado
num compasso desordenado
o coração e a mente
bate deseperado
vivendo tensamente
Minhas pernas tropeçam, são fracas
todos me troçam,me chamam de bebado
na minha face tem sulcos e marcas
Qeu me envelheceram mais cedo
Minhas roupas estão gastas e surradas
Meus sapatos velhos e ja sem cor
Minhas mãos são grossas e inchadas
Meus olhos sem brilho, meu rosto sem calor
Aos poucos sou esquecido
Sem parentes ou morada
Não me movo, sou movido
Sem rumo, amor, sem nada
Quantos e quantos bares
Me recusam a permanencia
Quantos e quantos lugares
comigo não tem paciencia
Não vivo, passo os dias assim
Até que meu corpo já cansado
encontre para ele o fim
Que lhe foi predestinado.

Foto de Luiz Islo Nantes Teixeira

PARAISO

PARAISO
(Luiz Islo Nantes Teixeira)

Hoje mesmo cheguei ao paraiso
Mas estou mais vivo do que morto
A recepcao de boas vindas e teu sorriso
E minha recompensa e saborear teu corpo

Os teus seios sao os unicos picos que exploro
Os teus labios de mel saciam a minha sede
No vale de amor entre tuas pernas eu moro
Os teus bracos sao os embalos de minha rede

Hoje mesmo cheguei ao paraiso
E sinto que recebi tudo que preciso
Vivendo no teu paradisiaco leito

Hoje mesmo cheguei ao paraiso
Onde o meu unico e exclusivo compromisso
E fazer feliz o coracao no teu peito

2010 Islo Nantes Music

Foto de Carmen Vervloet

Paixão de Carnaval

Na passarela do samba, debaixo do sol quente
Entre confetes, lança perfumes e serpentinas
Vislumbrou um sedutor arlequim sorridente
Que incendiou sua alma sonhadora e menina!

Fascinada... fez-se escala musical
Juntou as notas, criou acordes, mudou o tom
Buscou na alma a rima mais original
Só pra flechar, do arlequim, o volúvel coração.

Girou deixando à mostra as pernas torneadas
Mudou o ritmo, o passo, o compasso
Fez- se moça refinada e colombina incendiada
E se jogou sem pudor em seus braços

Mas um pierrô apaixonado
Que de outra ala tudo via
Em ciúme esfriou seu coração afogueado
Pondo fim a tórrida paixão que nascia.

E entre sambas, requebros e sopapos
Aborrecida na passarela do adeus
Colocou sua viola no saco
Chorando um amor que nem bem nasceu.

Carmen Vervloet.

Foto de Ayslan

Uma canção para você

Priscila... Ah Priscila como ti amo.
Queria cantar-te lindas canções de amor. Mas não sei tocar instrumento algum.
(perdoe-me.)
Quando escuto sua risada posso ate compor musicas...
Bom mas não sou um compositor, tão pouco um canto, e invento uma de poeta, será que consigo cantar para ti um lindo poema de amor...
Onde na letra sou um cara completamente apaixonado. Onde corro pelas ruas, salto, canto, e grito que te amo... Nossa assim percebo que não existe outra canção que fale tão bem do amor quanto a minha. Percebo que não existe ninguém no mundo que ame tanto quanto ti amo...
Sabe por que sempre que olho para ti quero dizer-te algo, mas não consigo fico paralisado, indefeso. Quero apenas ti beijar neste momento, logo sinto minhas pernas enfraquecerem...
Meu coração me diz constantemente que você é o sentido da minha vida. E eu quero manter-te nos meus braços junto de meu peito.
Eu sinto seu amor.
Estou em seus olhos.
Bom está é uma simples canção, não tão bonita, mas é sua talvez não faça tanto sucesso, mas não é isso que quero... Quero que goste. Você pode dizer para todo mundo que esta é a sua canção. Agora já feita percebo que falta-lhe algo, falta uma frase, falta um titulo, que se chama "Priscila"
A vida é tão maravilhosa enquanto você estiver comigo...
Sabe enquanto escrevia está canção percebi que talvez as notas musicais não se encaixem perfeitamente nas palavras. Percebi que sou mesmo um apaixonado sonhador em busca das palavras perfeitas que diga que você é minha canção de amor, que rege minha vida. Queria que soubesse que dizer eu te amo assim em palavras, não são apenas palavras. Meu coração teria que se parti em versos, letras e notas musicais só assim conseguirei um dia dizer tudo que preciso ti dizer. Espero apenas que me ames metade da metade que te amo que me segure em seus braços, e nunca me deixe viver sem ti.

Para: Priscila

Foto de sandra galadriel

Jantar com uma mulher

Quando um homem chama uma mulher para sair, não sabe o grau de
estresse que isso desencadeia em nossas vidas. O que venho contar aquihoje é mais dedicado aos homens do que às mulheres.
Acho importanteque eles saibam o que se passa nos bastidores.
Você, mulher, está flertando um Zé Ruela qualquer..
Com sorte, ele acaba te chamando para sair. Vamos supor, um jantar.

Ele diz, como se fosse a coisa mais simples do mundo 'Vamos jantar amanhã?'.
Você sorri e responde, como se fosse a coisa mais simples do mundo:
'Claro, vamos sim'.
Começou o inferno na Terra. Foi dada a largada. Você começa a se
reprogramar mentalmente e pensar em tudo que tem que fazer para estar apresentável até lá. Cancela todos os seus compromissos canceláveis e começa a odisséia. Evidentemente, você também para de comer, afinal, quer estar em forma no dia do jantar e mulher sempre se acha gorda. Daqui pra frente, você começa a fazer a dieta do queijo: fica sem comer nada o dia inteiro e quando sente que vai desmaiar come uma fatia de queijo. Muito saudável!!!

Primeira coisa: fazer mãos e pés. Quem se importa se é inverno e você
provavelmente vai usar uma bota de cano alto? Mãos e pés tem que estar feitos - e lá se vai uma hora do seu dia. Vocês (homens) devem estar se perguntando 'Mão tudo bem, mas porque pé, se ela vai de botas?' Lei de Murphy. Sempre dá merda.

Uma vez pensei assim e o infeliz me levou para um restaurante japonês daqueles em que tem que tirar o sapato para sentar naqueles tatames. Tomei no ... bonito! Tive que tirar o sapato com aquela sola do pé cracuda, esmalte semi-descascado e cutícula do tamanho de um champignon! Vai que ele te coloca em alguma outra situação impossível de prever que te obriga a tirar o sapato? Para nossa paz de espírito, melhor fazer mão é pé, até porque boa parte dessa raça tem uma tara bizarra por pé feminino. OBS: Isso me emputece. Passo horas na academia malhando minha bunda e o desgraçado vai reparar justamente onde? Na porra do pé! Isso é coisa de... Melhor mudar de assunto...

As mais caprichosas, além de fazer mão e pé, ainda fazem algum
tratamento capilar no salão: hidratação, escova, corte, tintura,
retoque de raiz, etc. Eu não faço, mas conheço quem faça.

Ah sim, já ia esquecendo. Tem a depilação. Essa os homens não podem nem contestar. Quem quer sair com uma mulher não depilada, mesmo que seja apenas para um inocente jantar? Lá vai você depilar perna, axila, virilha, sobrancelha etc, etc. Tem mulher que depila até o ...! Mulher sofre! E lá se vai mais uma hora do seu dia. E uma hora bem dolorida, diga-se de passagem.

Dia seguinte.

É hoje seu grande dia. Quando vou sair com alguém, faço questão da dar uma passada na academia no dia,para malhar desumanamente até quase cuspir o pulmão. Não, não é para emagrecer, é para deixar minha bunda e minhas pernas enormes e durinhas (elas ficam inchadas depois de malhar).

Geralmente, o Zé Ruela não comunica onde vai levar a gente. Surge
aquele dilema da roupa. Com certeza você vai errar, resta escolher se
quer errar para mais ou para menos. Se te serve de consolo, ele não
vai perceber.

Alias, ele não vai perceber nada. Você pode aparecer de Armani ou
enrolada em um saco de batatas, tanto faz. Eles não reparam em detalhe nenhum, mas sabem dizer quando estamos bonitas (só não sabem o porquê). Mas, é como dizia Angie Dickinson: 'Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens'.. Não tem como, a gente se arruma, mesmo que eles não reparem.

Escolhida a roupa, com a resignação que você vai errar, para mais ou
para menos, vem a etapa do banho. Depois do banho e do cabelo, vem a maquiagem. Nessa etapa eu perco muito tempo. Lá vai a babaca separar cílio por cílio com palito de dente depois de passar rímel.

Depois vem a hora de se vestir. Homens não entendem, mas tem dias que a gente acorda gorda. É sério, no dia anterior o corpo estava lindo e no dia seguinte... PORCA! Não sei o que é (provavelmente nossa imaginação), mas eu juro que acontece. Muitas vezes você compra uma roupa para um evento, na loja fica linda e na hora de sair fica uma merda. Se for um desses dias em que seu corpo está uma merda e o espelho está de sacanagem com a sua cara, é provável que você acabe com um pilha de roupas recusadas em cima da cama, chorando, com um armário cheio de roupa gritando 'EU NÃO TENHO ROOOOOUUUUUPAAAA'.

O chato é ter que refazer a maquiagem. E quando você inventa de colocar aquela calça apertada e tem que deitar na cama e pedir para outro ser humano enfiar ela em você? Uma gracinha, já vai para o jantar lacrada a vácuo. Se espirrar a calça perfura o pâncreas.

Ok, você achou uma roupa que ficou boa. Vem o dilema da lingerie.
Salvo raras exceções, roupa feminina (incluindo lingerie) ou é bonita,
ou é confortável.

Você olha para aquela sua calcinha de algodão do tamanho de uma lona de circo. Ela é confortável. E cor de pele. Praticamente um método
anticoncepcional. Você pensa 'Eu não vou dar para ele hoje mesmo, que se foooda'. Você veste a calcinha. Aí bate a culpa. Eu sinto culpa se ando com roupa confortável, meu inconsciente já associou estar bem vestida a sofrimento. Aí você começa a pensar 'E se mesmo sem dar para ele, ele pode acabar vendo a minha calcinha... Vai que no restaurante tem uma escada e eu tenho que subir na frente dele... se ele olhar para essa calcinha, broxará para todo o sempre comigo...'. Muito puta da vida, você tira a sua calcinha amiga e coloca uma daquelas porras mínimas e rendadas, que com certeza vão ficar entrando na sua bunda a noite toda. Melhor prevenir. Os sapatos!! Vale o mesmo que eu disse sobre roupas: ou é bonito, ou confortável. Geralmente, quando tenho um encontro importante, opto por UMA PEÇA de roupa bem bonita e desconfortável, e o resto menos bonito
mas confortável. FATO: Lei de Murphy impera. Com certeza me vai ser
exigido esforço da parte comprometida pelo desconforto. Exemplo: Vou
com roupa confortável e sapato assassino. Certeza que no meio da noite o animal vai soltar um 'Sei que você adora dançar, vamos sair para dançar! Eu tento fazer parecer que as lágrimas são de emoção. Uma vez, um sapato me machucou tanto, mas tanto, que fiz um bilhete para mim mesma e colei no sapato, para lembrar de nunca mais usar!. Porque eu não dei o sapato? Porra... me custou muito caro. Posso não usá-lo, mas quero tê-lo. Eu sei, eu sei, materialista do caralho. Vou voltar como besouro de esterco na próxima encarnação e comer muito coco para ver se evoluo espiritualmente! Mas por hora, o sapato fica.

Depois que você está toda montadinha, lutando mentalmente com seus dilemas do tipo 'será que dou para ele? É o terceiro encontro, talvez eu deva dar...' Começa a bater a ansiedade. Cada uma lida de um jeito.

Tenho um faniquito e começo a dizer que não quero ir.. Não para ele,
ligo para a infeliz da minha melhor amiga e digo que não quero mais
ir, que sair para conhecer pessoas é muito estressante, que se um dia
eu tiver um AVC é culpa dessa tensão toda que eu passei na vida toda
em todos os primeiros encontros e que quero voltar tartaruga na
próxima encarnação. Ela, coitada, escuta pacientemente e tenta me
acalmar.

Agora imaginem vocês, se depois de tudo isso, o filho da puta liga e
cancela o encontro? 'Surgiu um imprevisto, podemos deixar para semana que vem?'.

Gente, não é má vontade ou intransigência, mas eu acho inadmissível
uma coisa dessas, a menos que seja algo muito grave! Eu fico puta,
puta, PUTA da vida!
Claro, na cabecinha deles não custa nada mesmo, eles acham que é
simples, que a gente levantou da cama e foi direto pro carro deles. Se
eles soubessem o trabalho que dá, o estresse, o tempo perdido... nunca ousariam remarcar nada.
Se fode aí! Vem me buscar de maca e no soro, mas não desmarque comigo!
Até porque, a essas alturas, a dieta radical do queijo está quase te
fazendo desmaiar de fome, é questão de vida ou morte a porra do
jantar! NÃO CANCELEM ENCONTROS A MENOS QUE TENHA ACONTECIDO ALGO MUITO,

MUITO, GRAVE! DO TIPO...MORRER A MÃE OU O PAI TER UM AVC NO TRÂNSITO.

Supondo que ele venha. Ele liga e diz que está chegando. Você passa
perfume, escova os dentes e vai. Quando entra no carro já toma um
eufemismo na lata 'HUMMM... tá cheirosa!' (tecla sap: 'Passou muito
perfume, porra'). Ele nem sequer olha para a sua roupa. Ele não repara em nada, ele acha que você é assim ao natural. Eu não ligo, porque acho que homem que repara muito é meio viado, mas isso frustra algumas mulheres. E se ele for tirar a sua roupa, grandes chances dele tirar a calça junto com a calcinha e nem ver. Pois é, Minha Amiga, você passou a noite toda com a rendinha atochada no rego (que por sinal custou muito caro) para nada.. Homens, vocês sabiam que uma boa calcinha, de marca, pode custar o mesmo que um MP4? Favor tirar sem rasgar.

Quando é comigo, passo tanto estresse que chego no jantar com um pouco de raiva do cidadão. No meio da noite, já não sinto mais meus dedos dos pés, devido ao princípio de gangrena em função do sapato de bico fino. Quando ele conta piadas e ri eu penso 'É, eu também estaria de bom humor, contando piada, se não fosse essa calcinha intra-uterina raspando no colo do meu útero'. A culpa não é deles, é minha, por ser surtada com a estética. Sinto o estômago fagocitando meu fígado, mas apenas belisco a comida de leve. Fico constrangida de mostrar toda a minha potência estomacal assim, de primeira.

Para finalizar, quero ressaltar que eu falei aqui do desgaste
emocional e da disponibilidade de tempo que um encontro nos provoca.
Nem sequer entrei no mérito do DINHEIRO. Pois é, tudo isso custa caro.
Vou fazer uma estimativa POR BAIXO, muito por baixo, porque geralmente pagamos bem mais do que isso e fazemos mais tratamentos estéticos:

Roupa............... ......... ......... ........... R$ 200,00

Lingerie.... ......... ......... .......... .........R$ 80,00

Maquiagem... .......... .......... ......... ....R$ 50,00

Sapato....... .......... .......... ......... ........R$ 150,00

Depilação..... ......... ......... ......... .......R$ 50,00

Mão e pé........... ......... .......... ............R$ 15,00

Perfume...... .......... .......... ......... .......R$ 80,00

Pílula anticoncepcional. ......... ..........R$ 20,00

Ou seja, JOGANDO O VALOR BEM PARA BAIXO, gastamos, no barato, R$
500,00 para sair com um Zé Ruela. Entendem porque eu bato o pé e digo que homem TEM QUE PAGAR O MOTEL? A gente gasta muito mais para sair com eles do que ele com a gente!

Por isto amigos, valorizem seu próximo encontro e aprendam um pouco
mais, sobre este ser fantástico, chamado mulher.

Autor Desconhecido

Foto de Carmen Lúcia

Castelos e Ruínas

Ao construir meu castelo de sonhos
depositei em cada canto de sua dimensão
toda a ilusão da plena certeza que o povoaria
das mais belas e ricas realizações.
(certezas são meras divagações...)

Ceguei-me ante o desejo apressado de concretização;
sob a luz incandescente de uma louca ambição...
Deixei rolarem os sonhos que se perderam
perambulando à esmo pelos caminhos,
pobres peregrinos, vítimas dos próprios destinos.
(sem perseverança morre a esperança)

Da indubitável certeza à frágil incerteza
(com a qual ficamos tal e qual...)
desestabiliza-se o alicerce, desmoronam-se castelos,
despencam os sonhos,
rompem-se pactos com as idealizações.
Vão-se as asas, ficam os pés no chão.
(sem voos, sonhos não se realizarão...)

Das verdades previstas e eternas
(nada é eterno, verdades se contradizem...)
muitas tiveram fim...
Quanto às outras...faltaram-me as pernas.
Somente uma restou, por fim.
Busco essa verdade dentro de mim,
entre os escombros, enfraquecida,
temerosa de enfrentar de novo a vida.
(chama que ainda permanece ativa...)

_Carmen Lúcia_

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