Pena

Foto de Jessik Vlinder

Juventude

(Para um amigo)

Tu deves saber que por horas falas como se tivesse sessenta anos. Essa coisa toda de armadura, de maturidade... A verdade é que sempre seremos sedentos por novas emoções. O inusitado, o diferente, o novo sempre nos atrairá perturbadoramente. Aí é onde entra a tal maturidade que nos faz pensar duas vezes e não permite que nos arrisquemos tanto. Mas a vida fica tão gostosa quando corremos esses riscos. E eu sei sim que é coisa de jovem (Sendo assim existem mesmo quantos jovens na terceira idade?). Acho que uma característica forte da juventude é essa "inconsequência" que nos leva a descobrir o desconhecido, que nos faz aprender e a ter momentos únicos. Inconsequência que também nos fere, nos castiga e maltrata de vez enquando, mas que geralmente faz valer a pena. Eu sei que é inevitável não cuidar cada vez mais das nossas defesas à medida que vamos vivendo. Como se cada nova experiência dolorosa se transformasse num pequeno trauma, e de traumas em traumas deixamos nossa armadura pesada, inflexível e bem resistente, infelizmente resistente a coisas boas também. De traumas em traumas vamos envelhecendo porque perdemos a ânsia de viver coisas fantásticas por causa do medo. Por compararmos inevitavelmente com o que já passou, com o que já doeu e acabou. O problema é que às vezes esquecemos de que mesmo em situações, lugares e circunstâncias iguais, as pessoas mudam e principalmente nós mudamos. Talvez pensar assim me faça ser tão impulsiva. Me faça ser precipitada. Me faça cometer certas loucuras vez por outra...
Olha, eu não tô descartando nada que falastes. Afinal, precisamos do equilíbrio! É preciso sabedoria, sensatez e bom senso até para fazer loucuras não é mesmo? Deve ser por isso que tantos dizem "Como eu queria ter meus 20 com a cabeça de hoje...". Só não acho que precisemos ser tão relutantes, receosos e pessimistas, principalmente quando estamos ficando mais velhos. Porque se estamos amadurecendo juntamente com a idade é muito mais fácil de "guiar" nossos sentimentos. Nem sempre temos o controle destes e das emoções, sentimos muitas vezes mesmo sem querer. Mas diferente dos adolescentes imaturos, podemos domar nossas feras não nos tornando reféns daquilo que não deveríamos sentir. A diferença é que conseguimos gritar com nosso coração e fazê-lo nos obedecer quando ele estiver teimando demais. Podemos ter o controle e com menos dor e mais tranquilidade mudar nossos caminhos.

Foto de Jessik Vlinder

Um Mundo Restrito

É uma pena que muitas pessoas não consigam perceber a Arte em todas as suas faces. Esse 'mundo' não cabe em todos...

Foto de giogomes

Meu caminho

Andei perdido, largado, sem notícias suas.
Como um meliante embriagado, perdido nas ruas.

Procurando uma via que me levasse a você.
Desejando te abraçar, beijar, querer te ver.

Quanto mais eu andava, cambaleava, mais me perdia.
A cada passo dado, trocado, deixava a alegria.

Apanhava da vida, nas esquinas nas quais caía.
Vivia triste, marcado, sem nenhuma fantasia.

Ao me ver naquele estado, dopado, em plena letargia.
Viu só uma sombra, um farrapo, de quem já fui um dia.

Não era a mim que olhava, odiava, era minha tristeza.
Querendo você de volta, inconcebível ato de avareza.

Em um estado lastimável, desagradável, de me ver.
Acho que pensava, olhava, mais a mim, do que a você.

Não que um dia, mês, a tenha deixado de amar.
Pois a falta de você, sem você, me deixava sem ar.

Não podia viver, sobreviver, daquela maneira.
O que eu realmente queria, desejava, era você por inteira.

Nem como amigo, querido, você me aguentava.
Um Tigre deprimido, com dó de si, coisa bizarra.

A Rosa que eu conheço, vejo, não gosta de pessoas assim.
Gosta de homens corajosos, alegres, enfim.

Com pena de mim mesmo, confuso, sem querer saber de nada.
Andava cada vez mais desviado, tropeçando na estrada.

Aos poucos, comecei a sentir medo, raiva.
Quando vi, não queria saber mais de mim, nem lembrava.

Quando a sua ausência, ida, me fez perceber a insanidade.
Voltei para a minha terra, lugar, a minha cidade.

Lugar no qual amava, lutava, e bem conhecia.
Olhando para mim, naquele estado, não me reconhecia.

Aos poucos fui voltando, andando, caminhando.
Enquanto melhorava, alegrava, voltava voando.

No caminho de volta, pessoas que gostavam de mim.
Me dando apoio, gritando, torcendo por mim.

Me fazendo pensar, raciocinar, como cuidaria de você ?
Se nem mesmo a mim, naquele momento, podia manter.

Hoje sei por onde vou, ando, qual estrada caminhar.
Tenho consciência do que sou, o que represento neste lugar.

Querendo te achar, mostrar, que estou bem de verdade.
Voltei a ser quem eu era, forte, sem auto-piedade.

Grito alto para que ouça, escute o que tenho a dizer.
Ainda não sei o caminho, o destino, que me leva a você.

Não sei se um dia verei, ou irei descobrir.
Pode ser que vá embora um dia, tenha que partir.

Talvez encontre comigo, esbarre em um cruzamento.
Me mostre um sorriso lindo, gostoso, como nos velhos tempos.

Estou curioso, intrigado, com que a vida vai me mostrar.
Nessa viela sem tamanho, que ela me faz trilhar.

Se um dia ler isso, e ainda se importar.
Saibe que voltei a andar, caminhar e até voar.

Por esse local emocionante, assustador, como uma grande avenida.
Que todos nós chamamos, pelo nome de VIDA.

Foto de Sonia Delsin

CINZAS... FANTASIAS

a roupa dobrei
a máscara guardei
pra outro ano
outro tempo

têm dias assim que precisamos usá-las
têm dias que nos dá pena tirá-las
ah, que pena não ser mais menina!
sonho de Colombina

tenho pena das horas paradas
das calçadas abandonadas
pena do vazio que ficou no lugar do Arlequim
de mim
do Pierrô apaixonado
guardado no passado

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Meu Espelho

- Quem é Você?
- Quem você é?
- Você é meu nome, meu nome é espelho, espelho o quê? Espelho Você?
- Você é meu amigo, diante da minha presença, que espelha o que sou?
- Sou simplesmente, a imagem do rosto do Sol invadindo o quarto pela fresta da janela de mais uma manhã sozinha.
- Você, que é a minha cara surpresa, de um novo dia, responderia se o meu futuro reserva um lugar à minha, sua sombra?
- Antes de teu futuro em minha sombra, terás a sombra de não sei o quê, e não sei se a sombras te darão futuro.
- Se a sombra do meu futuro, e seu, me dará sobras da sombra alheia, ou não, não sei, mas que Sol brilhará, no espelho, e assim me ajoelho, espero.
- E brilha o Sol no espelho, mostrando tua imagem, espelhadamente inconsistente, banhada de duvidas, e por fim nos abraçaremos, eu, futuro, e tu... e tu quem és?
- Sou a face da sua vida. Sou a vida na sua face. Sou o seu brilho aqui refletido.
- És um Brilho apagado, és a vida entrelaçada à nossa morte. Vida esta, que resiste agonizante por um simples sinal de uma saudade de algo que ainda não conhecemos.
- Há sempre sinais de vida na futura morte. Eterna, externa, resistente à própria fatalidade.
- Há sempre sinais de morte no presente medo. É tudo medo! É sempre o medo de não haver vida nas fatalidades.
- Há sempre sinais de esperança no medo de não haver futuro, há sempre o medo de se perder as forças no meio do caminho.
- Há sempre caminhos, mas há sempre o medo de não haver amor no final do percurso.
- Há sempre um perguntando qual o caminho para a paz, e há sempre um respondendo que a paz é o caminho.
- Há sempre uma verdade, mas a pressa para alcançá-la sempre mente.
- Sempre existe um nunca, para o qual nunca desistimos sempre.
- Haverá sempre ambigüidade. E será que sempre teremos que escolher a resposta mais justa, ou a mais emocionada?
- Sempre teremos de nos perguntar, e escrever entre o bem e o mal.
- Sempre teremos que escrever enquanto só sabemos desenhar, como crianças com um pedaço de tijolo de construção que rabisca a rua depois da chuva de verão?
- E sempre teremos que construir, com o lápis da vivência, a obra-prima de existir? Espero que sim.
- Pois a vida é uma redação de exame do ensino-médio, mas a escreveremos como poesia de amor, e a ilustraremos, como os mais distantes sonhos, e as mais sinceras emoções.
- Romancearemos a tragédia, encenaremos o que temos, colocaremo-nos à prova da trova do destino que nos reserva ao fim em não nos preservar.
- Bailaremos sozinhos, as valsas tristes, mas com um sorriso no rosto pintaremos as lagrimas vazias, com amarelo, azul ou até mesmo o vermelho. Ainda que sozinhos estaremos acompanhados por nossas poesias, por nossa arte.
- Como a chuva tem o seu prisma, a cisma solar irrompe sobre os pensamentos nublados, na dança das nossas escolhas, na nossa trilha de sons e rumos.
- Desenharemos com palavras, e escreveremos com sentimentos gritantes. Faremos das noites os dias mais claros, e o Sol será mais um amigo, mais um mensageiro da paz, que apenas imitará a meus raros e sinceros sorrisos poeticamente inexistentes.
- Poesia é risco, no céu ou na terra, no caderno ou na lápide.
- Pois o mundo foi feito por algum poeta, que andava triste, ou desiludido por algum amor infiel, e resolveu chorar pra criar mares maiores que as terras, e desenhou e pintou, e ao fim resolveu escrever mais uma poesia, e a intitulou Vida.
- Esse poeta, criador, nos deu a chance, sem nos condenar, de nos descobrir como somos.
- E descobrimos que somos também criadores, poetas, artistas, palhaços. Com um caderno antigo chamado vida, e na mão uma pena que ainda pinga a tinta de nossas vivências, pena esta chamada amor.

(Poesia escrita em conjunto ao meu amigo Allan Sobral.)

Foto de Allan Sobral

Meu Espelho

- Quem é Você?
- Quem você é?
- Você é meu nome, meu nome é espelho, espelho o quê? Espelho Você?
- Você é meu amigo, diante da minha presença, que espelha o que sou?
- Sou simplesmente, a imagem do rosto do Sol invadindo o quarto pela fresta da janela de mais uma manhã sozinha.
- Você, que é a minha cara surpresa, de um novo dia, responderia se o meu futuro reserva um lugar à minha, sua sombra?
- Antes de teu futuro em minha sombra, terás a sombra de não sei o quê, e não sei se a sombras te darão futuro.
- Se a sombra do meu futuro, e seu, me dará sobras da sombra alheia, ou não, não sei, mas que Sol brilhará, no espelho, e assim me ajoelho, espero.
- E brilha o Sol no espelho, mostrando tua imagem, espelhadamente inconsistente, banhada de duvidas, e por fim nos abraçaremos, eu, futuro, e tu... e tu quem és?
- Sou a face da sua vida. Sou a vida na sua face. Sou o seu brilho aqui refletido.
- És um Brilho apagado, és a vida entrelaçada à nossa morte. Vida esta, que resiste agonizante por um simples sinal de uma saudade de algo que ainda não conhecemos.
- Há sempre sinais de vida na futura morte. Eterna, externa, resistente à própria fatalidade.
- Há sempre sinais de morte no presente medo. É tudo medo! É sempre o medo de não haver vida nas fatalidades.
- Há sempre sinais de esperança no medo de não haver futuro, há sempre o medo de se perder as forças no meio do caminho.
- Há sempre caminhos, mas há sempre o medo de não haver amor no final do percurso.
- Há sempre um perguntando qual o caminho para a paz, e há sempre um respondendo que a paz é o caminho.
- Há sempre uma verdade, mas a pressa para alcançá-la sempre mente.
- Sempre existe um nunca, para o qual nunca desistimos sempre.
- Haverá sempre ambigüidade. E será que sempre teremos que escolher a resposta mais justa, ou a mais emocionada?
- Sempre teremos de nos perguntar, e escrever entre o bem e o mal.
- Sempre teremos que escrever enquanto só sabemos desenhar, como crianças com um pedaço de tijolo de construção que rabisca a rua depois da chuva de verão?
- E sempre teremos que construir, com o lápis da vivência, a obra-prima de existir? Espero que sim.
- Pois a vida é uma redação de exame do ensino-médio, mas a escreveremos como poesia de amor, e a ilustraremos, como os mais distantes sonhos, e as mais sinceras emoções.
- Romancearemos a tragédia, encenaremos o que temos, colocaremo-nos à prova da trova do destino que nos reserva ao fim em não nos preservar.
- Bailaremos sozinhos, as valsas tristes, mas com um sorriso no rosto pintaremos as lagrimas vazias, com amarelo, azul ou até mesmo o vermelho. Ainda que sozinhos estaremos acompanhados por nossas poesias, por nossa arte.
- Como a chuva tem o seu prisma, a cisma solar irrompe sobre os pensamentos nublados, na dança das nossas escolhas, na nossa trilha de sons e rumos.
- Desenharemos com palavras, e escreveremos com sentimentos gritantes. Faremos das noites os dias mais claros, e o Sol será mais um amigo, mais um mensageiro da paz, que apenas imitará a meus raros e sinceros sorrisos poeticamente inexistentes.
- Poesia é risco, no céu ou na terra, no caderno ou na lápide.
- Pois o mundo foi feito por algum poeta, que andava triste, ou desiludido por algum amor infiel, e resolveu chorar pra criar mares maiores que as terras, e desenhou e pintou, e ao fim resolveu escrever mais uma poesia, e a intitulou Vida.
- Esse poeta, criador, nos deu a chance, sem nos condenar, de nos descobrir como somos.
- E descobrimos que somos também criadores, poetas, artistas, palhaços. Com um caderno antigo chamado vida, e na mão uma pena que ainda pinga a tinta de nossas vivências, pena esta chamada amor.

(Poesia escrita em conjunto ao meu amigo João Victor Tavares Sampaio.)

Foto de raziasantos

Você é á Razão do Meu viver.

Você e a Razão Do Meu Viver

Você entrou em minha vida sem motivo algum, e aos poucos foi conquistando meu coração sem pedir licença.

Quando percebi já havia tomado conta de meu coração por inteiro, eu estava apaixonada!
esta paixão em amor se trasformou...
Nossos corações em um gesto único de amor profundo uniram-se e juntos formaram um só coração...

Não sei ao certo até quando durará nosso amor, ou talvez se algum dia poderá vir a acabar...
tudo que sei é que você é meu sol, sem você,serei uma lua sem brilho.

Só sei lhe dizer que o momento que estamos vivendo é único e também, inesquecível, e isso já vale por tudo que estamos passando junto.

Amo-te e desejo que você sempre esteja ao meu lado, do mesmo modo que esteve até hoje.
sem você vago entre um denso nevoeiro, e as estralas não brilham, as andorinhas não vão!
Não sei definir a quantidade de seu amor, só sei que mesmo que esse amor não chegue há 1% do meu amor por você, já vale à pena, pois esse 1% equivale a 100% de minha felicidade ao estar junto com você e isso já basta!
Nunca duvides que seja o meu jardim, que rego com todo meu amor.
Assim á cada raio de sol você floresce e cada dia brilha mais.
Se por um momento eu te perder vagarei na escuridão do meu
Sofrer, você, esta em minhas entranhas, enraizado em meu coração.
Amo-te com minha alma e meu coração!

Foto de marialaura

TE AMO COISA PRESIOZA

28/02/11 ♥*♥ ɑʆuɑ ɱɛ

Hoje me vejo vivendo momento realmente especial,
descobrindo que amar vale a pena,
e que a vida pode ser verdadeiramente feliz,
quero viver este sentimento bonito,
e ter a certeza que fomos feitos um para o outro
porque de tudo que descobri ao seu lado,
o que me deixa mais feliz e completa,
é o fato de poder compartilhar com você parte do que sou
e tudo que sinto,
estamos procurando juntos um caminho,
para seguir e podemos acreditar que tudo será maravilhoso,
mas uma coisa você pode ter sempre certeza,
qualquer que seja a situação,
em todos os momentos
estarei sempre ao seu lado,

Porque?????

TE AMO!!!!!!

Foto de MALENA41

O ÚLTIMO POR DO SOL ANTES DO ADEUS

Olhava meus dedos dos pés e chorava. Chorava por ele, por ele que logo partiria.
As malas estavam prontas...
Era a última noite que dormiríamos sob o mesmo teto. Na mesma cama já estava fazendo alguns meses que não dormíamos.
Eu já passava dos quarenta e cinco, porém, me sentia tão imatura.
A borboleta amarela e o beija-flor vieram me visitar. A tarde devagarzinho morria. Como eu, como eu.
Eu poderia chorar, desfazer as malas, me esgoelar. Ele desistiria da partida se eu implorasse.
Mas ficar com alguém desta forma? Como se ele estivesse me fazendo um favor?

A franja me caía nos olhos e eu a afastava, molhava suas pontinhas com as lágrimas que ensopavam meu rosto. Esfregava a boca e assoava o nariz. O lenço de papel estava ensopado. Precisava pegar outro. No entanto entrar na casa àquela hora?
Queria vê-lo chegar. Queria. Queria falar com ele.
Sofrer mais um pouquinho? ─ Diria minha sábia mãe.
Esticava a perna e recolhia, esticava de novo. Ela estava adormecendo de tanto tempo que ficara sentada ali. Uma hora, duas. O telefone cansou de tocar, o celular também. Não atendi.
Devia ser algum chato. “Poderia ser até meus filhos – mas eles ligariam outra hora”. Ou minha mãe. Ela também ligaria depois e faria milhares de perguntas. Sabia que não estávamos bem e estranharia meu silêncio. Conhecia meus hábitos e sabia que eu estava sempre em casa no final da tarde.
E se fosse ele? Ele não ligaria. Terminamos tudo e ele estava apenas aguardando que terminassem uns detalhes de pintura na casa que alugara. Levaria tão pouco, o indispensável eu diria.
Havia me dito que partiria bem cedinho.
Não brigamos desta vez. Só escutei e foi como se uma montanha de gelo despencasse sobre minha cabeça.
Nos últimos dois anos discutimos tanto que tudo se esgotou. O carinho morreu.
Houve um tempo que o medo de perdê-lo era maior e aí eu tentava reconquistá-lo. Depois fui me sentindo tão vazia e via que tudo era inútil.
Ele dizia coisas que me feriam fundo. Será que tinha noção do que estava fazendo? Não sei.
Acabei por feri-lo também. Não entendia ainda que estava agindo de forma errada.
Cada carro que passava fazia meu coração disparar, pois pensava que era Augusto que estava chegando.
De onde estava podia ver o sol descendo lentamente na linha do horizonte. Tínhamos uma vista privilegiada.
Quando compramos a casa comentamos que ninguém no mundo tinha uma vista igual. Até nosso ocaso era diferente, porque éramos muito especiais e nosso amor era exclusividade.
Nunca que terminaria um romance destes, nunca.

Um menino gritou na rua e fez meu coração pular e pensar nos meus filhos pequenos. Que pena que cresceram! Era tão bom tê-los sob a barra da saia.
De repente me via pensando no poema de Gibran: Vossos filhos não são vossos filhos.
Claro que não. Os filhos são do mundo. Só somos os escolhidos para colocá-los no mundo e orientá-los. E amá-los.
A menina se casara tão novinha e eu pensava que ela poderia ter esperado mais. Todavia havia o tal do livre arbítrio...
Meu filho estava cursando a universidade noutro estado. Foi o caminho que ele escolheu.
O menino continuava gritando e eu ficava ouvindo seus berros. Aquilo mexia com meus nervos que já andavam à flor da pele. O sol descia, descia.
Aí o carro estacionou. Era Augusto. Ele ainda tinha as chaves e o controle do portão. Foi abrindo e percebi que estava aborrecido.
Ele se mudaria no dia seguinte e nunca gostara de mudanças.
Na minha concepção meu esposo já tinha partido fazia bom tempo.
Olhei aquele belo homem estacionando na garagem e comecei a pensar quando nos conhecemos. Como ele era bonito!
Lógico que com os anos ganhara uma barriguinha, o cabelo diminuíra um pouco.
Mas num todo o corpo estava bem e o rosto sempre lindo.
Ele vinha em minha direção e meu coração disparava.
─ Você está bem?
─ Estou.
Minha voz saía rouca e eu pensava que precisava fazer aquele pedido, antes que nosso tempo se esgotasse.
─ Posso lhe pedir algo, Augusto?
─ Diga, Solange.
─ Não vai se aborrecer?
Que pergunta idiota! Eu o conhecia bem e sabia que estava arreliado.
─ Diga logo, que preciso tomar um banho. Tenho um compromisso daqui uma hora.
A frase veio como um balde de água fria me fazendo quase desistir de falar, Acontece que se não fizesse naquele instante não teria outra oportunidade e resolvi perguntar de uma vez.
─ Lembra-se quando ficávamos assistindo o sol se esconder de mãos dadas?
Ele pigarreou (andava fumando muito). Só que estava pigarreando neste momento para disfarçar.
E por fim falou baixinho:
─ Claro que lembro. Certas coisas não conseguimos esquecer por mais que tentemos.
─ Eu posso lhe pedir uma coisa?
─ Não se estenda, Solange. Já falei que estou apressado.
Outro balde.
─ Quero lhe pedir que sente aqui comigo para ver o sol se esconder. Falta pouco. ─ coloquei mais doçura na voz ─ Nem precisa segurar a minha mão.
Ele me olhou sem ternura no olhar, mas com pena.
Estaria eu fantasiando?
─ Augusto. Onde você vai morar dá para ver o sol se escondendo?
Ele virou o rosto na direção do horizonte e seu rosto parecia esculpido em pedra.
O telefone voltou a tocar e eu rezei baixinho:
─ Quieto, telefone. Fique quieto, por favor.
Por coincidência ou pela força de meu pedido depois do terceiro toque o telefone silenciou.
Em alguns instantes a magia daquele instante terminaria. Aquele corpo amado jamais estaria tão próximo ao meu.
Não resistindo eu busquei sua mão e ele estreitou a minha da forma que sempre fizera, apertando fortemente o mindinho.
Se eu chorasse naquela hora estragaria tudo. Ele havia me dito que não suportava a mulher chorona que eu me transformara.
Banquei a forte e nossos rostos estavam bem próximos. Os dois olhando o sol alaranjado e faltava apenas uma nesginha para o nosso astro rei se esconder.
Ele se levantaria em segundos e entraria no banheiro. Tomaria um banho e sairia. Chegaria tarde em casa e eu nem o veria chegar. Na manhã seguinte se mudaria e fim.
Um tremor percorreu meu corpo e de repente me vi estreitada em um abraço.
Aquilo não poderia estar acontecendo.
Sua boca sôfrega procurava a minha e eu me entregava inteira.
O sol acabava de desaparecer lá distante.
Eu já não via, mas sabia.
A língua dele tocava o céu da minha boca.
Estaria ficando louca?
Estaria sonhando?
Queria falar, mas o encanto se acabaria se falasse qualquer coisa.
Pressentia que não poderia me mexer, senão a poesia daquele instante se acabaria. Então fiquei bem quieta. Esperando. Esperando para saber se tinha escapado da realidade e entrado no sonho.
Eu não tomara absolutamente nada. Estava sóbria.
O corpo dele se estreitava ao meu.
Estreitava-se tanto que eu chegava a pensar que me quebraria algum osso.
Estava tão magra. Ossuda mesmo.
Ele é que rompeu o silêncio.
─ Desculpe.
─ Desculpar o quê?
Deus! Ainda era meu marido. Ainda era. Não tínhamos tratado da separação.
Augusto não sentia assim e provou isso pedindo desculpas.
─ Não tenho que desculpar nada, meu bem. Eu queria que acontecesse. E acho que você também.
Parecia que meu tom melodramático não o abalara em nada.
─ Foi um momento de fraqueza. Vou tomar um banho. Espero que você entenda que me deixei levar...
Eu o agarrei pelas costas e fiz com que se virasse e me olhasse nos olhos. Ainda haveria tempo de salvar nosso casamento?
─ E se eu mudar o meu comportamento?
─ Não há o que mudar. Tudo está resolvido. Amanhã cedo eu vou embora. Nossos filhos entenderão.
─ Será? Será que tudo é tão simples como diz?
─ Não vamos recomeçar.
E foi entrando porta adentro.
Eu fui seguindo-o. Se me beijara daquela forma ainda sentia amor e desejo. Ou estaria equivocada?
Ele colocou a chave do carro e a carteira sobre o rack e eu fui ao nosso quarto.
O que eu poderia fazer ainda? Jogar charme por cima dele não adiantaria de nada. Pedir? Implorar?
Deitei na cama e ele entrou no banheiro social e ligou o chuveiro.
Imaginei seu corpo nu e senti vontade de fazer amor com ele. Senti vontade de sentir de novo um abraço apertado, como o que acontecera há alguns minutos.
Que foi feito de nós? Fiquei me perguntando.
Em seguida desligou o chuveiro e fiquei pensando.
─ Ele nunca tomou um banho tão rápido.
A porta do quarto foi aberta abruptamente e molhado como estava ele me puxou para seus braços e me carregou para o nosso banheiro.
Usou a mão esquerda para ligar o chuveiro e com a destra livre foi me arrancando a roupa.
Será que em outras ocasiões fora tão impetuoso?
Era tudo tão espetacular e louco que eu custava a crer que estava sendo real.
Ele descia a boca para meus seios e mordiscava os mamilos.
Fizera isso milhares de vezes aqueles anos todos, mas estava sendo diferente, pois parecia haver uma raiva nele. Um desespero por me possuir.
Pensei se estava me violentando.
Acontece que eu estava querendo tudo aquilo e também o amei desesperadamente.
Também eu o mordi e o apertei.
Também eu quando tomei seu órgão genital nas mãos fui agressiva. Apertei mais do que devia.
Fazia-o não como uma fêmea no cio, mas como uma mulher desesperada.
Sabia que era a última vez e estava sendo maravilhoso e maluco.
Nunca nos amamos brutalmente antes e não estava sendo propriamente brutal. Era diferente. Era como se nós dois estivéssemos morrendo de sede e água nunca conseguisse nos saciar.
A relação sexual ocorria num ritmo alucinado. Bocas e mãos procuravam, deslizavam, corriam pelo corpo todo.
Palavras não existiam e antes falávamos tanto enquanto fazíamos amor.
Eu nem conseguia pensar direito tal a intensidade do que estava vivendo. Era como estar com um estranho. Aquele homem não era o Augusto de todos aqueles anos e aquela Solange exigente eu nunca fora.
Eu queria mais e mais e mais.
Antes nunca ocorrera comigo o orgasmo múltiplo e nem tinha conhecido que de repente pudesse senti-lo e sentia. O êxtase chegaria para nós? Ele aguentaria até quando?
Taxativamente eu desconhecia naquele homem meu companheiro de tantos anos e ele também devia estar me desconhecendo.
Prolongou-se ainda por meia hora o coito e quando por fim caímos exaustos na cama estávamos suados e arquejantes. Tão exaustos que não tínhamos forças para mexer um dedo.
Envergonhada pensava que não conseguiria mais encará-lo depois de tudo aquilo e foi ele que quebrou o silencio.
─ Estou desconhecendo-a, dona Solange.
─ E eu também não o reconheci ─ falei com débil voz.
Ele tinha se esquecido do compromisso?
Fiquei quietinha e nem queria pensar que ele pudesse se levantar e sair.
Augusto colocou o braço em volta do meu ombro e me puxou para seus braços.
Pensam que ele partiu no dia seguinte?
Está até hoje comigo e nossas noites costumam ser muito agitadas. Muitas vezes ele vem almoçar e esquecemos completamente da comida.
Ele perdeu a barriguinha e diz que eu acabo com suas forças, que sou a culpada.
Eu penso que sou a salvadora.

Foto de Wilson Numa

Até + vezes

Quanto tempo achas que falta para me magoar?
Onde foi teu carinho, tuas palavras meigas?
Sinto que já não me dás a mesma atenção de antes
No principio sentia que era o única pessoa quem perscrutavas
Mas agora sinto que já me olhas com desprezo
Usas contra mim palavras que nunca tinhas usado
Caso queiras terminar diz-me, vou sofrer sei
Mas também de nada valerá ficar contigo
Vou te amar sem ser amado e não quero ficar
Como um idiota quem sabe corno que todos gozam
Não vamos chegar até esse ponto, caso ainda tem
Amor para mim dentro do teu coração demonstra
Senão até + vezes foi bom o nosso romance enquanto durou
Pena que não foi como o de Romeu e Julieta
Ou então como outros Romances de novela
Aqueles com finais felizes, pois ainda sinto que ainda gostas de mim
O resto é só ilusão e não Amor que é a coisa mais importante
Tem tamanha importância que leva pessoas a loucura
Só não quero chegar até esse ponto por não te ter
Pois sei que doutor algum cura a dor do AMOR.

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