POESIA
MARIA DO CARMO
Eu me lembro bem de você assim!
Pelos trilhos da Estação Sorocabana
Rodavas em movimentos sem fim
Vinhas da oficina sempre assim...
Toda engraxada e ilustrada...
E apitava sempre assim...
Eras como uma jovem fogosa
Entravas como estivesse num salão
Dançavas de forma estrepitosa
Com o jovem em idade nupcial
Rodavas em movimentos sem fim
Como dançasses na estação principal...
Tiravas os vagões
Como se fosse para dançar
De grandes composições
Levava-os até a oficina
E depois os repunha no mesmo lugar...
Essa era a tua sina.
Lembro-me que te chamavam “manobreira”...
Posteriormente, conheci outras que faziam assim
Em vários ramais das ferrovias brasileiras.
Agora ao te ver nessa estação secundária
Eu te pergunto:
O que fazes aí toda sedentária?
Ah! Eu entendo e respondo por ti.
Tu me vias com olhar de menino
Com o coração cheio de amor...
E na realidade as coisas não são bem assim...
_Rodei muito! Não era dança o que vias
Era trabalho árduo e sem fim...
Trabalhei nos trilhos de Ipanema
Puxando lâminas de ferro
Até o tronco principal...
Viajei por outras paragens
Até o rio Tietê em Porto Feliz
Transportei cana de suas margens
Levei para o engenho central
E prá levar a sacaria fiz muitas viagens
Até o tronco principal...
Até o tronco principal...
Até o tronco principal...
Também transportei muita gente
Em inúmeras viagens
E por isso sou feliz
Sempre rodei pelo tronco principal
Mas estive estacionada
No parque do “Quinzinho”
Lá comecei a me deteriorar...
Embora fosse só um tempinho
Mas encontrei gente prá me olhar...
Então me levaram para Anhumas
E por nobres homens operários
Minhas peças uma a uma
Pela ABPF foram restauradas
E foi lá que tu me viste.
Sei que tens saudade!
Agora estou de volta,
Prá esta bela cidade.
Cheia de fôlego e pronta pra rodar...
Mas não sei por que fico estacionada
É só me darem água e lenha,
Botarem fogo na fornalha
Que eu começo a rodar assim...assim...sssim...sss
Como antes por este ramal...
Já andei por aqui sim...sim......
Muito antes de nasceres
E irei até o fim...assim...assim...
Se de mim tu cuidares...
Rodarei assim, assim...assssim...
Neste ramal de Votorantim
Sorocaba, 16de outubro de 2010-10-16
Dirceu Marcelino