Navios

Foto de caetano trindade

antes que a poesia fale cale

Antes que a palavra cale em verso, a poesiafala.
Meu coração é servo da razão;
vida escola na escolha que nada escolhe,
guia passo, anjo de Rainer Rilke fiquei a esquentar os versos.
Espelho da tomada no quadro exposto dentro
Em nós arde brasa e chama, ao som de nossa viola extirpe velotroz com tanta mudança veloz, meus sentimentos perderam ao toque de Beethoveen ao ver navios de Fernando Pessoa brincar com os pastores e o menino de Jesus.
Aquela criança Da Vinci, Zoroastro, Buda, todas as forças escondidas,
umas pressionadas como as outras gaivotas em nevoadas de Poe.
Colocado o ser estridente jogado em horas da faina de Moreira.
Domingo diálogo, doei-me a mim, Drumond.
Coisa de escrever ao som da badala, o tornar-se o m a r a v i l h o s o a m e a n t e,
belo por si, natureza da beleza.
A saída do labirinto é infinita luta.
Poeticamente a poesia não quer sair.

Foto de Wilson Madrid

AO SOM DO MAR

*
* ACRÓSTICO
*
*

AO SOM DO MAR

A sas de gaivotas riscam o sol,
O ndas espumantes lambem as areias...

S ente-se a liberdade no cenário das sereias...
O s navios chegam e partem para portos distantes...
M ar, sol, céu, areia e o teu olhar azul a flutuar no meu...

D esejos que ancoram
O nde as dúvidas evaporam...

M ergulhar,
A zular e
R imar, ao som do mar, a delícia de te amar...

Foto de Wilson Madrid

PAZ UNIVERSAL

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*
*
*
Que o espírito da paz paire sobre os cinco continentes,
que em nenhuma esquina do mundo se encontre um só indigente
e que o homem descubra o prazer de viver simplesmente,
ao constatar que o que importa não é ter, mas ser gente...

Que a guerra seja contra a injustiça, a miséria e a fome
e as armas sejam apenas a faca, o garfo e a colher,
que as balas sejam de açúcar e as bombas de chocolate
e levem vida à criança, ao velho, ao jovem, ao homem e à mulher...

Que os aviões disparem rajadas de trigo, arroz e feijão,
que os navios disparem mísseis de amor e de fraternidade...
e que nos fronts todos os soldados sorrindo se abracem
comemorando a vitória da paz e a morte da fome do irmão...

Que o homem alimente a pomba branca do pacifismo mundial
a partir das atitudes que semeia no seu próprio quintal
e que impere, afinal, a fundamental e vital paz universal...

Foto de Sirlei Passolongo

Por onde veleja o amor? (Sirlei Passolongo e Vinícius Motta)

.

Me pediram um poema...
Alguns traços sobre o amor.
Mas minha lira restante numa face torta
Só sabe das entranhas horas
Em que o corpo bebe estrelas,
Em que o gozo saliva em dois as centelhas
Para afundar a noite no amanhecer...

Me disseram que era fácil versejar o amor
Mas não contaram do instante bandido
Em que a alma se perde insone
Em que a dor consome o sonho...
Não me ensinaram a versejar
Com o coração partido.

Deveras, as coisas do amor cabem
Além do fácil gesto de afiar
Credos em pulsações alfabéticas...
Não é velejar em seus navios,
Nem derramar-se inteiro em lábios.
Não! Seguir por essa estrada infindável
Compreende vícios que a lógica
Desconhece no romper do hálito.

Se mesmo assim me pedirem um poema
Que transcenda o âmago
Num verso em que a boca murmure
Esquecida do sal da lágrima
Direi que a minha lira é restante numa face torta
Porque o gosto amargo que a boca saliva
Embala no mesmo tom o encontro
E o desencontro do sonho...

Porque o amor tateia o imponderável
Com as mãos mais incríveis...
Por isso as palavras findam
Enquanto sangram incisivos
Os corpos apaixonados, enfim amados.

(Sirlei Passolongo e Vinícius Motta)

Foto de Sonia Delsin

DE SONHOS... DE SONHOS...

DE SONHOS... DE SONHOS...

Quem me dera fosse um pássaro.
Para voar pela amplidão.
Buscar teu ninho.
Receber teu carinho.
Quem me dera eu fosse um peixe.
Mergulhar no fundo do mar.
Este abismo que vive a nos separar.
Mergulhar bem no fundo e destroços de navios naufragados encontrar.
Neles fazer nossa morada.
Toda de coral enfeitada...
Ah, quem me dera fosse uma abelha. O néctar do amor colher.
Fabricar o mel.
Fazer o nosso céu.
Do sonho construir nossa realidade.
Ser feliz de verdade.
Quem me dera fosse hera. Nas tuas paredes grudar.
Minhas fomes, minhas sedes saciar...
Quem me dera acordar amanhã e tê-lo diante de meu olhar.
Se diante de mim pudesses se materializar!

Foto de Kelsey Cerbaro

DOUGLAS... MEU AMOR...

A cada momento que me deparo com um espelho, quer seja pra arrumar os cabelos, escovar os dentes, ou qualquer outra coisa, me pego me sentindo a mulher mais bela de todas, com o sorriso mais encantador, com o olhar mais penetrante, não que eu seja realmente essa mulher de tamanho poder, mas sim porque você meu amor me faz a mulher mais feliz e mais completa desse mundo, me faz uma pessoa melhor a cada dia, faz com que eu me sinta ótima pelo fato de saber que tenho e sempre terei você, sei que às vezes não ajo como a mulher dos seus sonhos, que às vezes tenho minhas crises; tudo em ti me encanta totalmente, mas tens tu uma capacidade imensa de me deixar ótima quando triste me sinto, apenas com um abraço renova meu dia, arranca a tristeza que comigo havia, me fazendo a pessoa mais feliz. Nossos planos são os mais perfeitos, os mais concretos, os mais belos, há quem diga que planos não levam a nada, pode até ser que não leve a nada os planos, mas o nada leva ao nada, pois o amor nos leva ao tudo, afinal, você é meu tudo, é por você que reflito a cada momento como posso me tornar melhor, como fazer pra te deixar mais feliz, aliás, quero retribuir a altura do és que do que representas pra mim, talvez eu deixe a desejar, mas quero que saibas que tudo que faço é porque te amo e muito. Não há nada melhor que ter você, saber que nosso amor é eterno, puro, verdadeiro e muito mais forte a cada minuto. Não sei como existem pessoas que não reconhecem o poder do amor, talvez seja porque elas não creiam nele, ou porque nunca o sentiram, mas também, elas não tiveram a sorte de ter você, isso só eu quem posso, só eu que sei o que é ter o MELHOR HOMEM do mundo; muitas mulheres acham que um homem que a sustente e que lhe agrade de vez em quando é o homem dos sonhos de cada mulher, mas, pobres destas, um homem dos sonhos passa vergonha perto do que eu tenho, um homem é muito mais que ser aquele que te chama de linda e te satisfaça, eu vos direi o que é ter um HOMEM de VERDADE, afinal, não existe no mundo uma pessoa que o melhor descreva a não ser eu que o tenho... É aquele que te chama de linda sim, mas não porque você tem um rostinho bonito, mas sim, porque ele ama-te e sabe observar suas qualidades mesmo se tendo muitos defeitos, ele sabe fazer com que as qualidades se sobressaia acima dos defeitos, ele te abraça não pelo fato de querer te fazer segura, mas sim porque ele realmente te faz segura e que ele sabe disso, ele te beija não pelo fato de que você beija bem, mas sim porque seu beijo transmite amor, carinho, afeto, paixão... Ele a fala TE AMO minutos a fio por cada hora não para te enganar e te deixar depois a ver navios, mas sim porque ele realmente a ama e tem você como a mulher do sempre, aquela que sempre estará ao lado dele, não importando a ocasião, e ele sabe que você o ama e muito; ele beija seu rosto não porque não quer beijar-lhe a boca, mas sim porque um beijo no rosto significa carinho eterno e amizade verdadeira; ele lhe conta seus problemas não porque ele acha que você sirva de psicóloga, mas sim porque ele sabe que além de tudo és tu uma pessoa em quem ele confia muito e que você fará de tudo pra ajudá-lo; ele ouve atentamente você falar sem parar, não é porque ele tem muita calma, mas sim porque para ele tudo o que você pensa e sente tem valor inestimável; ele sai te abraçando e girando em plena avenida, não é porque ele quer fingir gostar de sua companhia, mas sim porque ele a ama profundamente e se sente tão feliz quando vocês estão juntos que ele não consegue esconder sua explosão de felicidade; ele a apresenta a todos que conhece não porque ele quer mostrar mais uma bonitinha que ele pegou, mas sim porque ele quer que todos saibam quem é a mulher da vida dele; ele passeia com você de mãos dadas, não porque todos fazem isso, mas sim porque ele sente uma alegria profunda de poder segurar suas mãos; ele a escolheu dentre tantas para ser a mulher dele, não que você seja a mais bonita, mas sim porque ele viu o amor traçado no primeiro olhar; ele fala que não vê a hora de te ver novamente, não que ele não tenha nada melhor pra fazer, mas sim porque ele realmente te quer junto dele em todos os momentos; ele não faz nada sem você, não que ele não consiga, mas sim porque quando se ama nada tem graça se a pessoa amada não está por perto; ele se arrisca por você, não que ele seja masoquista ou goste de fazer caridade, mas sim porque você é a pessoa mais importante para ele, ele quer seu bem acima de tudo custe o que custar; ele quer que você vá junto ao futebol não para que Você se sinta deslocada e sozinha caso estiver sem companhia enquanto ele joga, mas sim porque a ama a ponto de querer poder olhar para você a cada gol e saber que você sempre estará ao lado dele o amando em tudo o que ele fizer; ele fala que sua família a acha encantadora, não pelo fato de que você seja mesmo isso, mas sim porque ele disse tanto de ti, tantas coisas belas, que fez com que todos a gostassem mesmo não sendo tudo o que ele disse; ele quer se casar e ter filho, não porque ele acha que é o dever de cada homem, mas sim porque ele tem certeza do amor que sentem, e que não a nada mais feliz e satisfatório que se poder dormir e acordar todos os dias ao lado de quem se realmente AMA!!
Meu AMOR, tu és muito mais que palavras possam expressar, TE AMO MUITO e continuarei amando a cada minuto muito mais ao que se passou, és TUDO para mim!
Hahahaha se fu... vai casah cumigu, hsuahsuhashahs
TE AMOOOOOO

Foto de JGMOREIRA

POEMA DO MENINO JESUS - ALBERTO CAEIRO

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Foto de JGMOREIRA

A LONGA VIAGEM

A LONGA VIAGEM

Um Cabral entristecido observa o horizonte.
Fura-buchos surpresos interrompem o vôo
para observar a nau repleta de infantes.

Os marujos, parvos de escorbuto,
sem a certeza endurecida do Capitão,
sonham com as moças do Velho Mundo.

Pero Vaz de Caminha, n'outra nave,
acaricia a pena que fará história
sem qualquer paixão além da verdade.

O Padre Frei Henrique, humildemente,
na solidão do convés em chamas,
imagina como trazer Deus à nova gente.

Pedr'Álvares de Cabral, sem sonhar,
sabedor da responsabilidade que encerra,
entende os sinais das gaivotas e do mar.

Sorri, o solitário, já degustando a conquista,
deixando a prôa bem antes que o atalaia
rasgue o ar com o grito de Terra à Vista!

A morte, que visitara a alma da marinhagem
entenebrecida, abala-se par'outros sítios
espantada por repentina alegria selvagem.

Sancho de Tovar, tem barba cerrada
que cofia repetida e lentamente
enquanto a El Rey puxa a esquadra.

São treze as naus, mil e quinhentos os homens,
muitas as armas, grande a fé e pouca
a caridade cristã que o ouro ofusca e consome.

Comanda a Anunciada, Nuno Leitão.
Ela tem em seu bojo os Franciscanos Gaspar
Francisco, o músico Masseu e Frei Simão.

Onde a espada se levanta, Deus se apresenta.
Para o futuro Bispo de Ceuta, marujos e guerreiros
a fé sem canhões não se sustenta.

Açoitada pelos ventos, aguardava a capitânea,
notícias de navios menores
em expedição pela vasta faixa litorânea.

Nicolau Coelho, mau aluno das lições de Colombo,
observa o inconcebível pela Europa:
homens e mulheres em pelo, alegres, sem assombro

Quando os singelos encontram o obstinado Capitão
deparam-se com esplendoroso Comandante
que traz ao pescoço mui reluzente cordão

que a luz das tochas alumia.
O inocente vê a burilada peça e mostra a terra.
É ali, na Capitânia, que a dor principia.

Sem saber que já era o Dominado
e que aquele que o presenteava era o seu Senhor
o antípoda atiça a cobiça da Santa Sé e do
Reinado.]

Para que partira do Tejo essa esquadra
a não ser para ir além das fronteiras,
angariar ouro e conquistar almas?

Acreditava ser Deus o que via ali?
O aborígene, sem o saber,
estava frente a frente com Abaçai.

Agora é acabada a aventura, percebe Pedr'Álvares
quanto tem à sua frente aquela cabeça encocorada
Uma tristeza singra sua alma; ansia outros mares.

Viver tudo de novo.
Recomeçar a luta solitária contra todos
com o denodo do primeiro dia.

O que alimenta o Senhor das almas
de todos esses homens não é fé ou riqueza
e sim uma pureza que com nada se abala.

Enquanto, para o índio que se espanta
inicia-se a história da dor e submissão
para Don Pedro é finda a demanda.

Quem se recolhe ao camarote e suspira
é um homem cansado defumdo acjma
que a marinhagem não reconheceria.

Foto de Marta Peres

Canção 1

Se o trem passar, vá em busca, não deixe
seu amor partir
as saudades doem mais que punhal fincado no peito
e a dor arde no coração.

O amor quando resolve bater asas ele voa
deixndo-nos a ver navios.
Marta Peres

Foto de Dom Quixote - crítico amador

Literaturas Lusófonas

Bem mais que dança, bailado;
que som, melodia;
que voz, sobrecanto;
que canto, acalanto;
que coro, aleluias;
que cânticos, paz.

Bem mais que rubor, saliência;
que encantos, nudez;
que imoral, amoral;
que bosques, fragrâncias;
que outono, jasmins;
que ventos, orvalho;
que castelo, arredores;
que metáforas, rios;
E um pouco além: tsunamis.

Bem mais que naus, sentimento;
que excelsa, nascendo;
que olho, contemplo;
que invade, arrebata;
que vitrais, catedral;
que versos, vertigens;
que espanto, tremor;
que êxtase, pranto;
que apatia, catarse.

Bem mais que contas, rosário;
que prece, amplidão;
que o menino, sua mãe;
que Império, regresso;
que palmas, martírio;
que anúncio, Jesus;
que Ceia, Natal.

Bem mais que alegria, ternura;
que espera, esperança;
que enlevo, paixão;
que adeus, solidão;
que dor, amargura;
que mágoas, perdão;
que ausência, oração;
que abandono, renúncia;
que angústia, saudade.

Bem mais que anciã, joyceana;
que lógica, onírica;
que o Caos, Amadeus;
que ouro, tesouro;
que ode, elegia;
que amiga, inimiga;
que insensível, cruel;
que signos, símbolos;
que análise, síntese;
que partes, conjunto.
E um pouco além: generosa.

Bem mais que efêmera, sândalo;
que afago, empurrão;
que clássica, cínica;
que exceto, inclusive;
que inserta, incerta;
que adubo, arrozal;
que oferta, procura;
que unânime, única.
E um pouco além: tempestade.

Bem mais que ouvida, vivida;
que austera, singela;
que pompa, humildade;
que solta, segredos;
que fim, reinício;
que um dia, mil anos.

Bem mais que reis, majestade;
que jus, reverência;
que casta, princesa;
que moça, menina;
que jóia, homenagem;
que glórias, grandeza;
que ocaso, esplendor;
que espadas, correntes;
que fatos, História;
que Meca, Lisboa.
E um pouco além: messiânica.

Bem mais que pingos, Dilúvio;
que água, Oceano;
que mares, o Mar;
que porto, Viagem;
que cais, caravelas;
que rochedos, neblina;
que vôo, Infinito;
que Abysmo, gaivotas.

Bem mais que a tribo, navios;
que lanças, tristezas;
que campos, senzalas;
que bodas, queixumes;
que soul, sem palavras;
que o tronco, maldades;
que ais, maldições;
que feitor, descorrentes;
que mandinga, orixás;
que samba, kizomba;
que “meu rei”, Ganga Zumba;
que olhos baixos, quilombos;
que discordo, proponho;
que cedo, concedo;
que escravos, Zumbi.

Bem mais que brisas, Luanda;
que ondas, Guiné;
que amarras, Bissau;
que o azul, São Tomé;
que náutica, Príncipe;
que axé, Moçambique;
que opressão, Cabo-Verde;
que fragor, linda ao longe;
que injusta, perversa;
que abutres, pombinhas;
que trevas, pavor;
que rondas, terrores;
que bombas, crianças;
que tágides, ébano;
que o Sol, rumo ao Sol.

Bem mais que luar, nua e crua;
que longínqua, inerente;
que ornamento, plural;
que ira, atitude;
que abstrata, denúncia;
que conceitos, Nações;
que Camões, mamãe África.

Bem mais que ética, ascética;
que pro forma, erga omnes;
que embargo, recurso;
que emoções, decisão;
que rodeios, sentença;
que Direito, Justiça;
que leis, Lei Maior.

Bem mais que flor, Amazonas;
que improviso, jeitinho;
que frágil, incômoda;
que alvor, cisnes negros;
que escrita, esculpida;
que lírios, o campo;
que veredas, suindara;
que denúncia, ira e dor;
que bonita, pungente;
que amena, os sertões.
E um pouco além: condoreira.

Bem mais que lares, veleiros;
que adeuses, partida;
que feitos, missão;
que honras, repouso;
que canto, epopéia;
que mística, fado;
que areias, miragem;
que sonhos, delírio;
que vozes, visões;
que acaso, destino.
E um pouco além: portugais.

Bem mais que errante, farol;
que ânsia, horizonte;
que distância, presença;
que solo, emoção;
que países, Galáxia;
que estresses, estrelas;
que zênite, impacto;
que intensa, profunda;
que letras, magia;
que formas, sentido;
que textos, teoremas;
que idéias, princípios;
que imensa, perfeita;
que graça, milagre;
que arcanjos, fulgor;
que dádiva, Mãe.

Bem mais que luz, primavera;
que audácia, tumulto;
que estética, rústica;
que em paz, desinquieta;
que estática, cíclica;
que cercas, muralha;
que assédio, conquista;
que plantas, concreto;
que escombros, palácio;
que átomos, Deus...

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