Morte

Foto de Marta Peres

Nova Morada

Do meu túmulo posso ver a imensidão
E posso ver meus vizinhos de lado e de avenida,
Posso ver tudo a minha volta.
Privilégio cedido a mim e a poucos...

Nas noites converso com meus vizinhos que já são
Meus amigos, quando é sol é silêncio e adormeço...
Quanta beleza encontrei na vida, quanta pompa
Foi dado a mim na morte...

Minha família vive hoje a me cercar, são amigos
Que encontrei cá, neste lugar...
Há algo que pitoresco e suntuoso, mórbido, suave
E de delicadeza sem igual, toca a alma...

E eu posso sentir toda tortura do desconforto
E desajeito, inda não me acostumei a nova casa.
Lá fora as plantinhas vão crescendo e eu só vendo,
Nem regar eu posso mais, tudo a volta cheira cipreste...

Marta Peres

Foto de Marta Peres

Já não preciso de ti

Agora é tarde,
já não preciso de ti
e de ti nada quero
também de nada mais preciso.

É tarde,
não viestes em boa hora
e agora não mais preciso
a chama se apagou...

Teria sido tão bom...tão bonito...
quantos prazeres perdemos
quantos beijos e carícias...

Agora só resta a mim a tristeza,
viver vagando feito alma penada
só, curvada pelas tristes avenidas,
tu não viestes na vida
na morte pouco importa.

Marta Peres

Foto de Marta Peres

Encontro com a Morte

Encontro com a Morte

Nos encontramos novamente
Não por eu querer encontrar
Mas pela força que você promoveu
Em me achar.

É minha doce amiga!
Mas nem por isso queria lhe achar,
Há algo que me intriga,
No meio de tantos
Como foi me encontrar?

Você chegou branda, meiga,
Uma doçura imensa
E chamou por mim,
Aqui estou,
No meu novo fim.

Marta Peres

Foto de neiaxitah

Um Dia para Sempre

Quem sou? Uma louca? Ando de um lado para o outro sem nada a fazer, sem nada perceber…
Só me lembro daquele horrível dia… o dia em que te vi morrer… morrer aos poucos, ouvir as tuas palavras de socorro, e eu pouco podia fazer.
Sim, lembro-me como se fosse hoje!
Era fim da tarde, e tu ias-me levar a casa, ia-mos com aquele olhar que só nós tínhamos, que só tu conseguias provocar, e aquele sorriso único que só tu fazias que eu tivesse.
Sim, lembro-me de tudo, o tempo estava muito estranho nesse dia, e tu tudo fazias para que eu estivesse bem, sorrias e dizias que tudo farias para me ver sempre assim, com aquele brilho que só tu conseguias fazer nascer em mim.
Estava tudo bem, bem até me pedires para ir para casa só, sem ti… coisa que nunca farias…

Disses-te que ias ter com uns amigos, os mesmos que nos estavam a seguir até então. Estranhei, mas quando me fizeste prometer que não voltaria para traz por nada e que acontecesse o que acontecesse para nunca te esquecer, ai temi. Temi por ti, e por mim…
Sim foi a resposta que te dei, embora não concordasse com ela.
Deste-me um beijo, o ultimo beijo. Estavas sério, mas mesmo assim sorris-te apenas para me acalmar. Não consegui dizer nada, virei costas e comecei a andar, mas sempre muito atenta; os homens que nos tinham seguido tinham parado.
O meu coração batia depressa demais para pensar, deixei de ter controlo em mim, e quando virei a rua, só me lembro que o meu coração parou de bater; a rua estava deserta, e o teu grito ecoou por todo o lado, mas mesmo assim parecia que só eu o tinha ouvido.
Inevitavelmente os meus pés deram a volta, o meu corpo transpirava de medo e ansiedade.
Quando te vi, tudo em mim parou, deixei de ver tudo o resto, deixei de respirar até. Não senti o vento na minha cara, nem o meu cabelo a esvoaçar. O tempo parara quando te vi deitado no chão a jorrar sangue do corpo e aqueles homens com facas ensanguentadas do teu sangue. Tudo isto se passou numa fracção de segundo, pois logo depois o meu corpo, o meu ódio e a raiva respondiam por si. Gritei o mais que pude a pedir ajuda enquanto podia e atirei-me para cima do homem que te tentava novamente apunhalar.
No mesmo instante agarrei numa pedra e atirei-a a um outro homem que se aproximava de ti. Ele caiu no chão e não se mexeu mais. Os outros fugiram.
Estava finalmente a voltar a mim quando já estava a rua cheia de gente, já tinham chamado a ambulância que nos levou para o hospital. Incrivelmente ainda estavas vivo, mesmo depois de todo o sangue que perderas. Fui contigo na ambulância, nunca mais te ia deixar.
Mal chegamos ao hospital levaram-te para seres operado, e eu só queria chorar, mas as lágrimas estavam secas… como é normal perguntaram-me o que tinha acontecido e eu pouco consegui contar. E ainda faltava contar aos teus pais, mas só eu o podia fazer, por isso liguei-lhes. A voz deles mudou, a tua mãe chorou, desligou, e logo depois já estava comigo, e trazia com ela o teu pai, e os meus pais. Desesperei, a voz falhou, não consegui falar, imaginar tudo de novo era duro de mais. Para a minha salvação a médica explicou o que eu já tinha dito e assim eu não tive de falar. Quando a médica acabou de contar, vieram todos ter comigo, abraçaram-me e eu gritei, gritei e fugi…
Não queria sentir pena, eu é que afinal não estava lá contigo para te ajudar, queria trocar de lugar contigo, jamais me perdoaria se não sobrevivesses. Foram 5 horas nem mais nem menos, foi esse o tempo que estiveste no bloco operatório. Quando foste para o teu quarto ainda dormias, mas eu estive sempre lá contigo, e quando acordas-te eu estava lá, adormecida a teu lado, deste-me a mão, e chamas-te por mim.
A tua mãe que tinha ido apenas comer algo quando chegou e te viu acordado chamou-te e foi a voz dela que me acordou. Não podias falar, estavas muito fraco, no entanto notava-se que estavas melhor. O medico entrou no quarto e disse-nos que te ia examinar para ver como estavas e que por isso nós teríamos de sair. A tua mãe agarrou a tua mão, e depois largando-a ia recuando até à saída. Eu ia fazer o mesmo, mas tu não deixaste, voltei à tua beira, dei um beijo na tua face, sorri enquanto te olhava nos olhos... como sempre fazíamos para dizer que ia correr tudo bem. O teu olhar acalmou e eu vim embora… não sei o que se passou depois, visto que desmaiei por fraqueza e perda de sangue por ter sido também ferida quando me atirei para cima de um dos homens que te tinham posto assim. Quando acordei, estava tudo a minha volta. Vi o medo na cara de cada um deles. Preocupei-me. Levantei-me e embora fraca e tonta caminhei aos “Ss” pelos corredores até ao teu quarto. Ninguém me impediu. Sabiam que não valia a pena. Quando cheguei perto de ti tu estavas rodeado por toda a tua família, avos, tios, primos…
Finalmente as lágrimas ganharam vida e caíram face abaixo. Estavas em coma. O mundo caiu-me aos pés e nada o poderia levantar senão tu mesmo. Toda a tua família, excepto os teus pais, me culpou do teu estado. Fui por isso proibida a visitar-te. Toda a minha vida estava perdida, e eu estava morta, viva no vazio. Nada fazia realmente sentido, e a culpa era realmente minha, não tinha de te ter deixado.
Já estavas à 3 dias em coma quando me ligaram a dizer para ir ao hospital com urgência.
Eram 2 horas da manhã, mas nem isso me impediu, pedi aos meus pais e eles logo me levaram.
Quando cheguei corri para o teu quarto, passei por toda a gente e ouvi-te gritar o meu nome.
Agarrei a tua mão e tu acalmaste. Mais ninguém se atreveu a falar. Tu acordaras do coma a gritar o meu nome.
Adormeci a teu lado, não sai a tua beira até voltares a acordar.
Dormis-te imenso e por fim acordaste. Agarrei-te, não deu como não o evitar.
Chorei tudo o que até então não tinha chorado, e tu silenciaste-me e disseste que tudo estava como deveria estar, e acrescentas-te que voltavas a fazer o mesmo. Todos os que te ouviram choraram. Pediram para te deixar porque tais emoções te faziam mal. Tive medo de te voltar a largar, mas percebi a tua situação e achei por bem afastar-me.
Passaram-se mais 2 dias e eu não te pude ir ver, estive no tribunal para que os homens que eu feri depois de te esfaquearem fossem presos. Tudo correu bem. Passei por tudo mais duas vezes, mas voltava a repetir toda a história desde que eles fossem presos.
No sexto dia, desde que tinhas dado entrada no hospital, quando te fui ver, não me deixaram. Estava tudo a chorar, os teus avós rogavam-me pragas, e os meus pais tentavam levar-me para casa. Não percebi o que se passava, mas era algo muito mau, mas acabei por não conseguir resistir aos meus pais e fui para casa.
No dia seguinte o advogado da tua família quis falar comigo. Mais ninguém teve coragem para me falar.
O advogado disse-me que tinhas morrido, e sem esperar muito acrescentou que as tuas ultimas palavras tinham sido “amo-te” e logo depois o meu nome. Cai de joelhos, e bati com toda a minha força com os punhos no chão. A dor era tanta e o meu corpo já não respondia. Cada esperança ou recordação estavam a ser apagadas. Já não havia nada a fazer, e antes que eu me perdesse mais ainda, o advogado entregou-me três cartas. Disse que as tinhas escrito nos dias em que eu estive no tribunal. Não as abri. Em vez disso levei-as para junto dos teus familiares, e visto que os teus pais eram os únicos que me conheciam e me apoiavam, dei-lhes as cartas para eles as lerem para toda a gente. Foi a tua mãe que leu a primeira carta. Era um texto pessoal, mas mesmo assim toda a gente ouviu. Dizia o quanto gostavas de mim e que nunca mo tinhas dito por não quereres estragar a nossa amizade… contava histórias, momentos nossos, aquelas brincadeiras boas e más. Dizia também que eu tinha sido toda a tua vida e que se morresses não fazia mal porque sabias que eu viveria pelos dois, mas se fosse ao contrário, e morresse eu, tu não aguentarias e morrerias também. Toda a gente da sala limpava e escondia as lágrimas que ocasionalmente caíam face abaixo. Eu não chorei, queria chorar, mas não consegui.
A segunda carta foi bastante “chocante”. Disseste que todos os teus valores eram para mim. Porque? Tudo era para mim porque não gostavas da maneira da tua família tratar o dinheiro. Eles ficaram fulos e tu sabes disso.
A terceira carta, ninguém a quis ler e acabei também por me esquecer dela.
Fui com o advogado e disse para ele dar todos os teus bens a lares, para dar tudo em anónimo, os teus pais não se opuseram, e as tuas coisas pessoais foram todas doadas também, só fiquei com uma fotografia tua.
A tua família soube finalmente de tudo, da nossa história que ninguém percebia se era amor ou amizade, talvez porque era algo mais forte que isso, mais intenso. Tão importante que apenas bastava um olhar, ou aquele gesto para o coração bater mais depressa, mas embora isso, à face de todos não passava-mos de eternos apaixonados sem o admitir.
Embora por vezes nos quisesse-mos beijar, nunca o fazia-mos com medo de estragar o que já tínhamos. Podia-mos até nem nos tocar, mas fazíamo-lo no pensamento e isso bastava… como sempre…
Todos os teus familiares vieram ter comigo, pediram desculpa, e disseram para não faltar ao teu funeral.
Estive mesmo para ir… sim estive mesmo para ir, e tu sabes, mas no último momento a força falhou, a tristeza aumentou e ficou infindável… impossível de combater, e fui para o sítio onde mais perto de ti podia estar.
Sim, fui para o sítio onde nos conhecemos. Aquela praia à noite onde o meu irmão te levou com os vossos amigos e onde apenas tu olhas-te para mim sem ser apenas como rapariga, mas como irmã do teu melhor amigo que tu tinhas de respeitar.
Recordei todos os momentos, aqueles em que me apanhavas lá a chorar, ou aqueles em que nos atirava-mos para a areia e rolávamos praia abaixo até a água. Uma lágrima brotou, e um sorriso nasceu…
Passaram-se meses, em que eu permaneci calada, triste, meia morta e meia viva.
Hoje faz um ano desde que morreste, e eu olho para a fotografia da tua campa. Estou finalmente a recontar toda a história. Está cá o teu pai, a tua mãe, os teus tios, primos avós. Já ninguém chora, mas todos imaginam como teria sido a vida de cada um se tu estivesses vivo.
Eu já não penso nisso, sei que não gostavas que vivesse agarrada ao passado. Hoje tudo o que sou devo-o a ti, ainda sinto a culpa da tua morte, está cada vez mais leve, mas ainda me pesa nos ombros.
Tenho a terceira carta na mão e só hoje a vou finalmente abrir, mas quando a abrir será na praia, no nosso sítio, no nosso mundo.
Já tudo se afasta, e eu vou embora também. Mas sem nunca me esquecer de ti. Volto daqui a um ano, nem antes porque seria sinal de fraqueza e tu nunca me quiseste fraca, nem depois, porque seria sinal de esquecimento e eu nunca me vou esquecer de ti, por isso daqui a exactamente um ano vou estar de novo contigo aqui.
“O amor não se vive, sonha-se, o que se vive são os momentos de felicidade e esses quero vive-los contigo” foi a primeira frase que me disseste.
Adeus e até para o ano.

A.C. *

Foto de Lou Poulit

PREDESTINAÇÃO (Poema Tríptico)

MANHÃ I

Há dias, Mulher, em que dias hibernam,
Como cios em que se deveria amar.
E dias que tardios anunciam:
O amor vem... E nada o poderá evitar!

Como ígneos folguedos cósmicos
Astros saltam reluzindo, acima do mar,
Das profundezas do desejo vindo.
E na areia a luz de um gozo rendado,
Extrema unção de um amor guardado,
Prenda-fruto do silêncio e da madrugada...

Ambas fugidias...
Nossa alma vagueia
Como fossem dois dias.

TARDE II

No entorno do sol se ergue uma ciranda
De palmas morenas escritas por Deus...
Os sonhos meus andam apenas
Centúrias pequenas, que eu mesmo cri.

No entorno da rua em que habitam passos meus
Não quis Deus nenhum cão nos portões,
Mas vagalhões vieram de longe
Ilhar de olhares vários meus olhos perdulários,
E varrer do poente os meus azimutes de monge...
O rastro não mente, eu mesmo o escrevi.

Areia antiga...
Que amor te trouxe, Branca, a perdê-los,
Os brancos fios dos meus cabelos?

NOITE III

No fundo do covil, ao rés do céu,
Prostrou-se (quem viu?) o cajado como um manto.
Nenhum fogo apagado aquece tanto...
Só a morte em que não se morra, só a borra de aço-mel.

Ah, Tristezas, que me fizeram dulcíssimo mecenas,
Palmas morenas (em que eu não previ proezas)
Te aguardam, madalenas,
Porque uma só Madalena haverei de tocar, tanto...
Mesmo antes de chegar, sanha e pranto,
Essa vaga já me alarga, com o tanto que é feliz.

Desencanto: Dalva-Lis...
De lãs que não vesti mas, por um triz, já me afaga.
Há manhãs, Mulher, que jamais teriam paga.

(Itaipú, 30/ago/2007)

Foto de HELDER-DUARTE

Rio II

E eu que tinha sido avisado,

Para ter cuidado...

Com a mulher, de nome Laodicéia,

P´elas águas, cujo poder ao pó branqueia.

Porque as águas me disseram, com verdade

E com plena liberdade:

Para manteres a vida,

Segue outra mulher linda!

O nome d´ela é Filadélfia,

Porque foi tornada alva.

E está num jardim, onde há rosas e flor de camélia.

E um dia virá a mim, finalmente salva.

No entanto veio a mim, Laodicéia,

Que eu pensei, ser a pura,

A qual do rio, seu espírito, recebeu cura.

Veio esta a mim, como quem ama e não odeia.

E casei, com ela...

E estou ainda, agora n´ela...

Que foi mentira, para mim

E julgo eu, ter ela sido a causa da minha morte, enfim.

Pois, se eu me matei,

Ela ajudou...

Pois, me rejeitou.

O porquê, não sei.

Uma coisa sei.

Estou morto, como nunca pensei.

Mas é uma morte d`alma,

Que me permite, do rio, ao longe, ouvir a água calma.

Que me diz assim:

Eis que venho cedo, para ti, morto pó.

E eis que vida terás, enfim...

E nunca mais, estarás só!

HELDER DUARTE

Foto de HELDER-DUARTE

Rio I

E eu estava morto,

Com a morte, com que todos, morreram,

Logo que nasceram...

Eis que todo o pó da terra, não passa de um aborto.

Mas eis, que já há dois tempos,

Veio um rio, que vida deu ao pó,

Que tinha morrido, em antigos momentos.

E agora, se beber do rio, não fica mais só...

Esse rio, regou e lavou meu pó,

Que à vida, voltou e não ficou mais só.

P´elo poder do rio...

O meu ser sorriu.

Mas ele me disse:

Cuidado tem...

Pensa nisso!

Eis que uma mulher, adúltera, sobre ti, já vem.

Mas sabei a verdade, sobre a mulher.

Ela é um símbolo, somente,

De algo, qu´existe realmente,

Que afinal, optei por escolher!

HELDER DUARTE

Foto de NESd

Solidão

" A Saudade é solidão acompanhada,é quando o amor ainda não foi embora,mas a amada já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou.
Saudade é sentir que existe o que não existe mas...
Saudade é o inferno dos que perderam,é a dor dos que ficaram para trás,é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:Aquela que nunca amou.

A minha dor não sei se terá fim...Mas no momento...É eterna...

N&SD

Salinópolis,Pa 15/08/2007

Foto de angela lugo

Não sei viver sozinha

Relva macia sedosa a nossa espera
A garoa caindo que nos supera
O sol adormecido agora resplandece
O pássaro solitário voando agradece

O rio corre em busca do mar rapidamente
Eu corro em tua busca desesperadamente
Tenho medo de a morte chegar sem avisar
E com isso não ter mais com quem sonhar

Sou relva verde do teu solo que não morre
Sou o rio que corre para te alcançar
Sou o sol da tua vida que quer te içar

Sou a tua vida paralela que sempre corre
Sou o pássaro que voa e quer companhia
Sou aquela que não sabe viver sozinha

 

Foto de Carmen Lúcia

" A morte do cisne "

Últimos passos da última valsa...

Pas des deux,..pas de bourrée .
Últimas piruetas, rodopios, calafrios...
Arabesques, développés, coupés...
Chopin, Strauss...Noturno?Soturno!!!
Que se tisne o Lago dos Cisnes...
Leve-os a morte...cumpra-se a sorte!

Da doce bailarina, resta a rima...

Da ternura, pureza, purpurina,
Encantos que realçavam a magia,
Dos passos e repassos, luz que reluzia...
Nada restou...somente a noite fria...
E cara a cara com a vida,
Perderam-se encantos, queimaram-se fantasias.

Nos olhos agora, ar de ironia...

Não mais vê a vida como outrora via...
Mas,o talento ainda aflora e vigora,
E na “salida”, molda a pista qual felina
Em direção ao par que o seu corpo alisa,
Revela as fendas laterais e sensuais,
De um vestido preto, colado, ousado, passional.

Ouve Gardel, ousa um “gancho” num bordel...
Num atrevido “ocho”,usa e abusa da atração...
Andar de gato, elegância e aparato,
A flor vermelha nos cabelos, um desagravo,
Seus lábios sorvem o gosto amargo da paixão...
“Y aquella noche lejana”.. triste recordação!
Tango e solidão...nada que cause emoção!

Carmen Lúcia

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