Não entendi muito bem...
Ainda sonhava com bonecas,
E meus sonhos eram azuis...
Queria, um dia, ser como ela...
Minha mãe, mulher mais bela,
Que agora me abraçava, chorava,
Molhava-me com o pranto,
Gesto incomum ao seu acalanto...
Ouvi vozes ao redor...
“Agora estão sós, ele partiu...”
Sabia que deveria chorar
A morte de um pai é dor demais,
As lágrimas não vinham, não fui capaz...
Ou minha tenra infância privou-me de chorar
E arrancou-me o pranto que não soube rolar.
E caminhamos juntas, minha mãe e eu...
Recomeçando a vida, juntando o que rompeu,
Eu era sua razão, e ela minha certeza,
O meu ancoradouro, a minha vela acesa...
Ainda jovem e linda, paixões ela inspirou,
Sentiu a intensa dor do amor que acabou...
Caiu e levantou, desafiando a vida
De novo um grande amor abriu sua ferida.
A tudo eu assistia, percebendo que a perdia,
Meu mundo se ruía, o meu barco partia,
Voltada aos seus amores, de mim se separou
E o pranto nessa hora em minh’alma rolou.
Fui vê-la várias vezes
Em seu leito de agonia,
Queria que entendesse
Que só seu bem queria...
E o meu amor por ela
Crescia a cada dia...
Mas minha voz calou
Meu pranto a embargou,
Voltei a ser menina, que conhecia a dor.
Carmen Lúcia