Matilhas

Foto de Rosamares da Maia

Produtos da Indiferença

Produtos da Indiferença

Nas sombras proliferam criaturas medonhas,
Amontoadas, escondem-se, defendem-se,
Prontos para atacar, mostram os dentes,
Brancos dentes de leite. Por pouco tempo.
Em breve, serão caninos cariados, afiados.
Maternidades espúrias, profanas, sem sentido,
Tal impunidade custará ao futuro, em vidas.
As hediondas criaturas povoam as ruas,
Como se direitos lhes coubessem!
São matilhas solidárias que procuram.
Juntas, dividem o produto da sua pilhagem.
Comem como cães vorazes, roem como ratos.
Escondem a magra nudez em trapos,
Refestelados em camas de papelão,
Enganam o frio e o estomago, na cola de sapatos.
São produtos da miséria, forjados pela dor.
Sem escola, cinema, remédio ou pipoca.
Morrem e se reproduzem prematuramente.
Nasceram crianças - meninos e meninas,
Se ainda ousam sonhar, é difícil saber.
Mas têm rostos, olhos que refletem verdades.
Olhos frios, sob viadutos, em baixo dos tapetes,
Dos palácios fartos e dos luxuosos gabinetes,
Providencias e decisões em cima do muro.
Muros de nababos, vergonha da Nação.
Não são cães, nem ratos, apenas uma matilha solitária,
Matilha invisível de quem não tem nomes - “Excluídos”,
Que gritam com fome e rangem dentes, causando medo,
Mas não são cães nem ratos! São Homens...
Meu Deus! ...São Homens!

Foto de Rosamares da Maia

Produtos da Fome

Produtos da Fome

Das sombras emergem criaturas medonhas,
Amontoam-se e escondidas, defendem-se,
Prontas para atacar, mostram seus dentes,
Ainda brancos dentes de leite – Por pouco tempo.
Em breve, serão caninos cariados, afiados.
Espúria maternidade! Profana, sem sentido.
Impunidade que certamente será cobrada ao futuro.
E o tributo amealhado em vidas.
Hediondas criaturas. Agora pulam das sombras,
Povoam as ruas, como lhes fosse um direito.
São matilhas solitárias, que solidárias,
Caçam e dividem o produto da sua pilhagem.

Mas não são cães, nem ratos!
- São produtos da miséria e da fome.

Nasceram bebês, foram crianças, meninos e meninas,
Se ainda ousam sonhar é difícil saber.
Têm nos rostos mal definidos, olhos de dor.
Agasalham a realidade sob os viadutos, entre jornais,
Espiam verdades varridas para baixo dos tapetes vermelhos.
Mastigam em sua fome, decisões e providências inúteis.
Meu Deus! Não são cães, nem ratos.
Amontoam-se em uma matilha humana,
Formam a horda dos que têm nome.

- São chamados de h o m e n s.

Rosamares da Maia

Foto de marvinvaz

Terra Prometida

Bendita sois vós
Maldita Terra Santa,
Qual, a maldição de "sem-mil" homens
Sangra em teu ventre, solo patrio, oh mãe!
Solo nativo, cativo, exausto.

Te carrego nas costas, mãe
Te seguro nos braços
Canto, choro, rezo
Corro, e nunca alcanso
Durmo, e nunca sonho
Sonho, e nunca acordo

Mãe, oh Terra Santa
Que o homem roubou-lhe a virgindade
Presente ocaso, sombra luz do dia
Sombra penumbra no silencio...
Onde estas, o amor?
O que vejo, é so paixão,
E ela queima, arde...

Ah...
Me banho em desespero,
Descontentamento.
Saudade embebida
D'uma época qual, embevecido, não vivi.

Fosse ontem, cem anos atrás
N'uma andante caminhada desolada
Sem rumo, sem beira,
Dessa humanidade desumana
Ainda seria o mesmo, ainda seria nada.

Oh mãe,
Terra minha,
Terra Nossa...
Nem mais (ao menos),
nos creem as estrelas
E a noite, acolá afora,
Consequencias
Aqui, sem brilho
Sem consolo

Onde estas, mãe
Teu coração incorrupto
Que perdoas incompreensivelmente
Os homens que estupram vossa honra?

Que dignidade é essa
E indescritivel capacidade de perdoar
A quem nem mesmo vos ama?

Não te incomodas,
Não te importas,
Todas estas lagrimas verdes?
O grito dos ventos,
Os prantos das matilhas,
Dos rebanhos, dos cardumes,
Os mares sem abrigo..?

Desapareces com o tempo,
Tempo impiedoso,
E mesmo assim traz consigo
Teu infinito sorriso;
-- Ofegante bater de asas --
E o calor do Sol, todas manhãs...

Terra Santa, Sagrada
Que vida é esta,
Vida sem prazeres,
Prazeres sem vida...
Que inocencia malicia buscamos?
-- Coragem e medo --

Oh, Mãe!,
Por que, te calas?
Por que, nos calamos?
Ah...ainda vou,
Nascer sem compreender
Tamanhas divinidades.
-- Utopia --

Oh, mãe!
Que confortante abraço o teu
Desconforto espaço e abismo
Encosto a cabeça em teu colo materno
Me esparramo nesse amour d'vossa tristeza
E fecho os olhos, sorrateiros,
Em anciosa melancolia...

A espera, da morte,
Acalento e nostalgia
E do chamado aos mortos
Sem fervor nenhum

O ressucitar das cores,
Sem rancor nenhum
Sem dor nenhuma
Sem movimentos...

A espera, do Paraiso,
Terra Sagrada.
A espera, da Terra Prometida...

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