Ela descia lamacenta
Forte e lenta
Destruindo tudo em frente
Em sua volúpia demente
Matava gente
Que inocente matava a mata
Matava os bichos, que morriam com sua morte
Na matança
Provocada por ganância
Morriam sonhos como os meus
Morriam outros definhados por perderem entes seus
Descia dinheiro sujo,
Cujo custo mata o rio
Morre o peixe, morre a margem
Como é triste tal imagem
Morre eu, morre você, morre quem de fato morreu
Neste crime ambiental
Morrem eles de morte e morro eu de desalento
Morre quem falou e não foi ouvido
Morre também quem não escutou
Morre quem trabalhava pra buscar vida
Sem saber que levava morte
Morre o rio que eu amo
Sempre lá estava pescando
Já não tinha muito peixe
Por matarem suas águas
Morre a toca e a alegria em sua volta
Morre o dourado e o Surubim,
O piau e o mandi
O pacu e a piranha
Morrem por insaciável sanha
Morre aos poucos Brumadinho
Com a riqueza que vem das montanhas
Pouco a pouco... Semana a semana
Lhe arrancam as entranhas
Ironia do destino (será?)
O vale hoje é de morte
A morte é da Vale
Diante cifras a vida pouco vale
No choro que faz perder o sono
Choro o triste abandono
Da vida em favor do lucro
Onde a lama fez sepulcro
Chora Brumadinho, chora eu
Chora o mundo,
Choro de compaixão
Desce a lama pelo córrego do feijão
A riqueza retirada das montanhas
Se desfaz em cada queda
Que segue rumo a Paraopeba
E que Deus proteja Brumadinho e seu povo amado
Seu Rio, sua cultura e sua vida
Proteja o vale, destruído inconsequente pela vale
Deus tende piedade!