CRESCEU
Não precisava ter ido até lá, mas foi.
Chegou mais cedo, junto do sol.
Nada no bolso, menos nas mãos.
Cara de quem quer tudo...
Não precisa ter ido tão fundo, mas foi.
Assaltou-lhe um desejo incontrolável de ousar
e, não tendo como suportar, cruzou a linha do arco-íris.
Jeito de quem quer sempre tudo...
Não precisava ter tantas certezas, e não as tinha.
Mesmo que parecesse estranho, incoerente,
Desejava pouco menos que nada.
Contentava-se com as sobras...
O vento o conduziu para o norte,
Para o sul, oeste, leste...
Ao sabor do vento, tomou seu rumo
Construiu seu destino. Escolheu.
Escolheu seguir a direção do vento
Não sabia o que queria... Mirava o horizonte.
Subidas e descidas pareciam-lhe iguais...
Olhos e bocas, feições...
Vozes agudas e roucas,
Rostos, corpos... luz e sombra,
Céu e mar... mar e céu...
Tudo lhe parecia exatamente igual
Tudo lhe parecia seu. Tão seu que não queria nada...
Contentava-se com as sobras... restos de carinho,
Sorrisos amarelos lhe pareciam belos...
A vida parecia bela... a vida, vida...
A vida passou... cresceu!
Agora precisava de certidão de posse,
Exigia dotes... os corpos... ah, os corpos!
Eles não eram iguais... ah, as vozes roucas!
O perfume na penumbra, os toques...
Agora queria tudo... e teria...
Apenas uma certeza, certeza
A morte. A esperar atrás da porta
A espreitar os sonhos e a fazê-lo
Querer que o tempo volte.