Grito

Foto de Carmen Lúcia

Caminhos

Não fosse o pranto não avaliaria o sorriso,
não fosse a dor dispensaria o afago,
não fosse o grito calado, palavras soariam distorcidas,
não fosse a tristeza, a alegria seria camuflada,
não fossem as ausências, a simples presença seria afastada,
não fossem os nãos bradados, os sins perderiam os significados,
não fossem as pedras do caminho não me prenderia aos detalhes.
não fossem as noites escuras não me encantaria o luar,
não fosse a perseverança não me importaria a conquista,
não fosse a primavera me acomodaria o inverno,
não fosse o suor a colheita seria irrelevante,
não fosse o pecado não conheceria o perdão,
não fosse a solidão não me apegaria aos amigos,
não fossem as subidas não me deliciaria com as descidas,
não fossem os percalços nada seria tão desejado,
não fosse o fundo do túnel não veria a sua luz,
não fosse o silêncio não haveria flashes de reflexão,
não fosse a impaciência não mensuraria a compreensão,
não fosse o amor me absteria da vida,
não fosse a carência, negligenciaria o carinho, a proteção,
Não fosse a voz da alma calaria a poesia.

_Carmen Lúcia_

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
18/11/2010

Foto de Fernanda Queiroz

Antes que o Ano Termine

Falta um dia para que o ano termine. Um dia intenso que pode mudar toda minha existência. Só preciso ter coragem e ir até onde você está... Antes, 450 km, agora 50 km. Por que veio para cá? Queria me confundir ainda mais? Estaria esperando que a proximidade me fizesse ser mais mulher... mais corajosa? Sabe que meu destino está traçado. Não me deixaram editá-lo. Sabe que não posso voltar, então porque não vem... Rouba-me, Toma-me, Leva-me para nosso mundo de sonhos; onde tua ausência presente foi marco de nossa história.

O sol está se pondo, o alaranjado de céu é o contraste perfeito com a relva que se estende verde e úmida pelas chuvas de dezembro. Tanta calmaria vem de contraste a minha alma conturbada e sofrida. Posso sentir meu coração batendo forte, tão forte quando o podia ver por aquela janelinha mágica do computador, cenário de nossa história, testemunha de nosso amor, cúmplice de nossos segredos, arquivo de momentos que perpetuarão dentro de mim. A brisa suave sopra. Parece querer brincar com meus cabelos, alheia a tempestade que envolve meu coração. Deixo a mente explorar o passado... Tão presente... Teus olhos, tua mania constante e única de apoiar teu rosto nas mãos. O sorriso espontâneo, a cara emburrada, os olhos se fechando de sono, e a vontade de ficar um tempo mais...e mais ...até o galo cantar...a madrugada... o sol nos encontrar ...felizes ou tristes...juntos.

A noite traz a transparência de minha alma, negra, sem luzes, sem amanhecer. Preciso me movimentar, sair deste marasmo de recordações. Thobias, meu companheiro de peripécias, que um dia correu tanto quanto no dia em que estouramos uma colméia; está selado, entende o que me vai à alma, conhece meu estado de espírito, sabe quando é preciso deixar as paisagens para trás, mais rápido, mais rápido, até se tornarem uma massa cinzenta, sem cor, ou forma retratando o mais profundo que existe em mim. Agora, no embalo do cavalgar, meus sonhos se afloram. Estou indo ao teu encontro, nossas mãos se tocarão, nossos corpos se unirão, nossos corações baterão em um só ritmo. A brisa tornou-se um vento tão gélido quantos minhas mãos que seguram as rédeas de um futuro-presente. Gotas de chuva descem sobre minha face, misturam-se as minhas lágrimas. Tenho a sensação de não estar chorando e sim caminhando para você. Na volta para casa nem o aconchego da lareira, o crepitar constante elevando as chamas transmite liberdade, as sombras sobrepõe à realidade que trará o amanhecer, elevo ás mãos solitárias tentando voltar ao tempo de criança onde elas davam vidas retratadas na parede imagens de bichinhos animados, mas não se movimentam, parecem presas ao aro de ouro reluzente que por poucas horas trocarão de mão fecundando o abismo que se posta diante de nós. O cansaço e as emoções imperam. Entre sombras e sonhos, meu pensamento repousa em você, na ilusão, nos sonhos, na saudade pulsante de momentos mágicos vividos, onde nossas almas se encontravam, onde nossos corpos não podiam estar. De desejos loucos e incontidos de poder realizar, antes que o ano se finde, antes que as horas levem tudo que posso te dar.

O amanhecer desponta, caminho a esmo, no escritório, ao lado direito da janela que desponta para colina verdejante (cenário de nossa história). O computador me atrai.. Você está off, está há apenas 50 km, mas em meus arquivos de vídeo teu rosto se faz presente, tua boca elabora a mímica de três palavras mágicas “EU TE AMO”.A musica no fundo é a mesma que partilhamos tantas vezes juntos COM TI RAMIRO, gravada em meu studio amador ao som de flauta. As notas enchem o ar, a melancolia prevalece, meu coração se enternece, “POR FAVOR, VENHA ME BUSCAR”, não vou conseguir sozinha, você sabe disso, é exigir demais de quem só soube amar, sem nunca saber lutar, sem nunca poder gritar, com um destino a cumprir, um dever de tempos idos e protocolados nos princípios de toda uma existência. O dia se arrasta imortalizando o passado. Estou diante do espelho, o rosto moreno não consegue esconder a palidez, o vestido branco de seda cai placidamente sobre meu corpo inerte. Vestido que outrora minha mãe usara com os olhos brilhantes de felicidade. Os meus não têm brilho, este fora reservado às perolas que adornam meus cabelos negros, sempre me achei parecida com ela, mas a imagem reflete somente uma semelhança física onde a mortalidade de meu semblante contradiz a vida de tempos passados.

Pedi que me deixassem ir só, queria ficar com meus pensamentos, onde você é soberano. Que bom que ninguém pode me tirar isto: tua imagem, teu sorriso, tua forma única de existir para mim, mesmo que em sonhos, mesmo que em lembranças, mesmo que em minha morte para a vida que se inicia. A escada imperial e central se desponta com teu corrimão de prata por onde desci tantas vezes lustrando-o com minhas vestes. Minhas mãos se apóiam nele, trêmulas, frias, para que eu não quede diante da realidade... Apenas trinta degraus? Deveria ser trezentos, três mil, ou trinta milhões? Eu os percorreria com gosto, antes de pisar na relva verde coberta por um tapete de pétalas de rosas que conduziam à capela. Porque desfolhá-las? Porque enfeitar a vida com a morte? Rosas brancas, pálidas como minha alma, desfolhadas e mortas como minha vida. Ao lado o lago que outrora me fazia sorrir, brincar e acreditar....queria parar...descalçar o pequeno sapatinho branco e sentir a frescura das águas elemento mais forte e presente da natureza em minha vida...mas agora não posso parar a poucos metros está minha rendição, meu destino onde o oculto será sempre meu presente, onde o passado será minha lembrança futura, onde você viverá eternamente, onde ninguém poderá jamais alcançar. A capela parecia lotada, não guardei rostos, somente sombras. No altar uma face, feliz, despreocupada, livre, sentado em uma cadeira de rodas estava papai, tuas pernas não mais suportavam me conduzir, teus braços que muito me embalaram, já não mais me apoiavam...segui em frente. Pensei em me voltar ..olhar para trás, mas não iria te encontrar. Palavras ditas e não ouvidas... trocas de alianças...abraços de felicitações....buquê lançado ao ar, festividades...todo ar de felicidade.

Faltavam dez minutos para findar o ano...minha existência já tinha terminado, o celular em cima do piano da sala...8 minutos...mãos tremulam ao aperta a tecla da re-discagem...minutos eternos...do outro lado a apenas 50 km, tua voz ...doce...amada...terna, parecia querer ouvir o que eu queria falar e não podia...engolindo as lágrimas. Apenas um pedido: seja feliz, seja feliz por nós dois...uma resposta que mais parecia um lamento, que por mais suave, parecia um grito...Seja feliz também.....um tum tum era o sinal de desligado....zero hora. Fogos explodindo no ar...

Fernanda Queiroz

Direitos Reservados

Foto de poetisando

Morte VI

Ó morte por onde andas
Deves de andar disfarçada
Porque não me vês tu
Nesta minha vida amargurada

Andas tão bem vestida
Que me andas a enganar
Tira essa roupa de disfarce
E trata de me vir buscar

Vivo como estando encerrado
Mais parecendo escondido
Leva-me morte depressa
A vida para mim não tem sentido

Não ouves como eu te grito
Ou finges não me ter ouvido
Porque não me queres levar
Desta minha vida sem sentido

Tu que andas tão disfarçada
Não vês que estou da vida vencido
Vem-me buscar depressa
A vida para mim não faz já sentido

Tantas vezes te tenho gritado
Para tu me vires buscar
Porque finges que não me ouves
Continuas a no mundo continuar

Ó morte por onde andas tu
De ti não ando escondido
Leva-me depressa da vida
Vida que não tem mais sentido

De: António Candeias

Foto de carlosmustang

COMPARTILHAMENTO

Se meus lábios lhe tocam
Com tanto carinho
E outro mundo lhe acontece
Portas do seu ser, abrem-se

Formam-se pequenas histórias
De desejos,find... beijos
Viagens juntos, compreensões
Arrastões de perdoes

Todo um tédio de dor
Que o tempo me pôs
Arrancando meu grito

O fim é quando for
Toda essa historia de dor
Arrastara os farrapos do saber

Foto de Carmen Lúcia

Paisagem Urbana (modificada pelo homem)

O sol começa a se espreguiçar.
É a rotina...São dez da matina...
Embaçado, pretende acordar a manhã,
iluminar a estação...Primavera?
Tão linda ela era...

O céu se acinzenta...
Nuvens?Não!Fumaça!
Fusão de azul e petróleo
sobre veículos e pedestres apressados...
Odor de óleo queimado...
Som estridente, alterado.Rock and Roll?
Não!Buzinaço a todo vapor...

Barulhos de trens do metrô...
Agitos do vai e vem...
Luta do dia-a-dia!
Pela sobrevivência...pela conveniência!
Alguém ainda dorme no banco da praça.
Cachaça?Acordar?Não tem graça!

Algo surge no céu, sem escarcéu...
Não é nave espacial...
É a lua prestigiando um luau.
(saudade dos velhos saraus)
Pontinhos cintilam fraquinhos...
Vaga-lumes?Não!Estrelinhas!
(nas entrelinhas)
Querem dar o ar da graça!
Coitadas!Tão sem graça!

E o corre-corre continua...
Agora a paisagem é crua e nua!
Luzes incendeiam bordéis...
E os sonhos?Vendidos aos tonéis!
Casas noturnas, peças teatrais...
Encenam vidas reais...
Travestis e prostitutas disputam locais,
esquinas se enchem de marginais...

O êxtase excita, alucina,
domina atitudes tribais, canibais...
Poetas observam...perdem-se nas rimas.
Um barzinho, um cantinho e um violão...
Um estampido, um grito, sirene e furgão.
Numa igreja, louvores e cânticos,
nos cantos, clamores do sexo,
e toda a fé perde o nexo...

De repente, um seqüestro-relâmpago...
Nas casas, noticiários na televisão,
em volta, grades de prisão!
Uma coruja espreita, assustada...
Espera surgir o dia
Pra dormir...sossegada(?).

(Carmen Lúcia)

Foto de vânia frança flores

Há quanto tempo

Sei que esperar em vão doi mais do que ouvir um não,
sim é pior do que viver numa ilusão é ter um vazio que nos
enche até ao fim da escuridão...
Eu sei que sonhar em vão é mais cruel do que a dor,
é como o fogo que consome o próprio amor,
assim queimando as cinzas de um sonho bom,
que ficou para trás.
-Á quanto tempo eu espero
-Á quanto tempo eu estou aqui
-Á quanto tempo eu choro
-Á quanto tempo não sei de ti
-Á quanto tempo eu grito
-Á quanto tempo eu penso em ti.
Mesmo que a razão seja mais do que a sempre foi p'ra mim...
Eu sei que o futuro está presente longe de mais,
sim continuar a procurar n adianta mais,
assim prefiro que o tempo encontre alguém,alguém por mim...

Adelaide Ferreira..

Foto de Maria silvania dos santos

Serenata!

Serenata!

_ Histórias dos antigos, experiência vivida, palavras, de verdadeiros amigos...
Em noites fria, lua clarear, fogueiras no terreiro, sanfona oito baixo a tocar, familias unidas cantando, não era pra ninguém ficar chorando...
Frango frito vinha no grito, do lado a pinguinha já estava no lito.
Festinha nos ranchinho tempo que ninguém sentia sozinho...
A criançada, com suas brincadeiras a brilhar, é que o tempo não podia parar...
Na saida de volta para casa, oito baixo nas estradas tocando, os pinguço ia cantando e a próxima festinha a combinando, quando nada combinado, o tempo não podia ficar parado, sem duvida a serenata em algum lugar seria tocada, no fim, tudo acabava animado...
Hoje sinto saudade, do tempo que não volta mais, as crianças deixarão de ser crianças, de bonecas e carinhos não quer mais brincar, só pensão em namorar...
O espaço da humildade e união, o dinheiro fez confusão, já não existe mais tempo para verdadeiros amigos prosear, sempre dizemos que temos que trabalhar...
Autora; Maria silvania dos santos

Foto de carlosmustang

DESDOBRAMENTO

Enquanto seu urso estiver aflito e amoroso
Vai feridas, decepções que toram artérias
Desejam beber prazer em suas belas estrias
Sempre serás a garota do meu banho engraçado

Não importa quantos filhos teja
Quando o amor chegou antes
O seu beijo é o mesmo

Até o momento do meu lampejo
Sempre será o desejo, que amo
Em grito de esperança

Foto de Maria silvania dos santos

È lindo, é bonito

È lindo, é bonito
_ Cada estrela no céu a brilhar, é para admirar, me faz fitar o meu olhar, pois es linda, brilhante, é como pedra de diamante!..
ÉS noite fria, lua a brilhar, a relva molhada pelo sereno está, estou a admirar, em cada gota quero me molhar.
O mundo é este imenso infinito, é lindo, é bonito, nele eu danço, eu grito, pois é obra de Jesus Cristo!

Autora; Maria silvania dos santos

Foto de bob_j

Lua

uma lagrima
é o clamor de uma criança
uma gota de esperança
que mancha a fantasia

a alma que não cansa
dançar a mesma dança
com outras melodias

meu espelho
é o azul do infinito
onde pinto o seu sorriso
pra me iluminar

seu grito é tão tímido
bendito é fatidico
uma fera a repousar

o mundo
da volta em suas curvas
envolto em meio a brumas
desliza em nostalgia

fadas que vestem luvas
e desfilam sobre as ruas
roubaram a sua magia

lua
me mande uma canção
que encante um coração
e nos leve a sua altura

lua
me mostre as estrelas
pra que eu possa vê-la
em sua forma pura

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