Aí contam que quando eu nasci, a primeira coisa que viram foram olhos verdes arregalados, espertos e curiosos. A última foi uma mancha café com leite em cima do pé esquerdo. E, logo pensaram: "se a perdermos, a acharemos pela mancha do pé!". E o pé crescendo, e a mancha acompanhado, como não poderia deixar de ser... e nas minhas poucas escolhas de menina, vinham sempre os sapatos coloridos, nada de branco, preto, cinza, eu queria cor! Um vermelho, um azul, no aniversário um amarelo, o natal chegando e os pezinhos coçando!
- "Como é bom estar segura! Com meus sapatos coloridos, nunca me perderei, nunca me perderão!" Eu pensava assim.
O tempo passou, o pé cresceu um bocado, como não poderia deixar de ser... e nas minhas poucas escolhas de mulher, os sapatos coloridos foram ficando para depois, eu tinha mais gente para vestir, calçar, colorir e tornar referência. E, isso não me permitia muitas cores. A mulher foi crescendo, como não poderia deixar de ser... e passei novamente a olhar para os pés. Percebi que de nada adiantava colori-los, a mancha estaria sempre escondida! E, lembrei que "quando nasci, a primeira coisa que viram foram olhos verdes arregalados, espertos e curiosos" e conclui que estes sempre foram coloridos, nunca estiveram cobertos, e eu não mais tive medo de me perder...