O poema pode ser dito inédito,
mas, não se engane, ele não é novo.
Os temas são os mesmos a todo povo
e não há páginas para tanto crédito.
Tudo que falei, a muito foi dito,
do hieróglifo na pedra, ao computador.
Desde lá o amor rimou com flor e dor;
no salmo do santo, ao sabá do maldito...
A lágrima a muito tempo já molhou
e as juras, algumas foram cumpridas,
cartas chegaram e extraviaram não lidas,
qual aquele velho e-mail que enviou.
Penso onde estará o outro poeta,
que me emprestou aquele mesmo tema.
E que viveu a mesma cina e dilema
de tentar transpor o que a pele afeta.
Deve ter sido apaixonado e sonhador,
em seu tempo total contemporâneo.
Diferente de mim, de ar subterrâneo,
deslocado, antiquado, apaixonado sonhador...
Me pergunto, como igual ser diferente?
A mesma palavra noutra boca, um embuste.
Tantas milhas e cada luz em seu poste,
iguais em tudo e o todo é diferente.
Não compreendo onde está a poesia,
sei que se repete, mas não em palavras,
embora o peito saiba onde estão as lavras
não me revela, talvez n'alma seria...
Paralela parceria de futuro e nostalgia
dos poetas que não se sabem irmãos,
mas, que nas linhas sinuosas de suas mãos
“Escreveu” versos que o mútuo plagia.