Sim, essa era a música , o solo de guitarra tornava-a inesquecível, quase antológica.
Ela tocara a primeira vez que foram juntos para a cama no apartamentinho de três cômodos de fundos que ela alugava.
Chegaram quase sem roupa tal era a ânsia de se terem, iam com a pressa dos amantes de primeira viagem, com a urgência que só o tesão tem, com a voracidade arquetípica dos caçadores de sentimentos ...
Aquela noite era totalmente “unforgettable”, a troca de beijos e carícias rapidamente deu lugar aos movimentos rítmicos e coreografias do sexo. E tudo fluiu tão perfeitamente que quase podia se ouvir aplausos no final.
A calmaria pós-prazer cheia de beijos carinhosos e corpos abraçados foi um justíssimo prêmio a irrepreensível performance de ambos.
Muitas noites seguiram-se a essa, mas para ele, a emoção ia reduzindo, quase imperceptivelmente, mas ia, o que era incontestável lentamente transformava-se numa incerteza.
Seu quadro perfeito de felicidade vinha esmaecendo nas cores, tornando a imagem difusa e ele começava a achar defeitos nele.
Agora, aqui estava relembrando a primeira vez e achando que essa era a última, sua última chance ...
Ele novamente pensou em conversar com ela, a cena aqui descrita era repetição “si ne qua non” das últimas noites e ele já nem lembrava da cena original, mas não suportaria o choro ou as perguntas que ela faria, ele não estava embasado em razões palpáveis para explicar nada, ele apenas não queria mais.
Ela deveria entender isso. Como as mulheres são difíceis!
Olhou para ela, não parecia a mesma mulher-deusa que ele moveu céus e terras para conquistar, parecia tão comum.
Agora ele podia entender quando diziam que a divindade era algo necessariamente cultuado