Faça um pouco de quietude
para assentar a areia,
decantar a turbidez d’alma.
Faz calar a dor, e amiúde,
quem sabe a loucura meneia
se houver um pouco de calma...
Fecha os olhos, não mais procure
no turbilhão de luz e fúria,
na ensurdecedora algazarra,
um tal remédio que lhe cure
destas feridas, da algúria,
da cica que a vida amarra.
Meu ar, tão cheio de fumaça;
vento não leva, traz areia...
A vida escorre das metas,
quebra os planos, faz mordaça.
A esperança a pulso ateia;
vem o destino a impor setas.
Sigo, mas numa louca dança;
aos trancos, morro abaixo sigo,
mas a ternura ainda existe,
o sonhar ainda se lança
em asas livres, no abrigo
que guarda a fé que insiste.